JOÃO GARÇÃO

De “OS VERSOS DO ZÉ POVÃO”

Abcedário

Solfejo

Sentimento

Muralha

Sábado

Outrora

Inventário portalegrense

Aguarela

Periscópio

Página

Estante

A Raul Proença

SENTIMENTO

A água está parada, muito quieta no meio da noite.

E é preciso perguntar-lhe: és água de um rio?

És água dum mar? És água dentro dum copo

sobre uma mesa muito antiga e sonhada?

És água para um cavalo beber? Para um cão se banhar?

Para um homem e uma criança se lavarem ao relento?

Para uma mulher, para um gato, para um lobo?

 

E a água talvez não te responda. Nunca te responda.

Ou te responda tarde de mais. Ou nem sequer te ouça.

 

Mas tu pergunta. Pergunta e espera pela resposta.

Mesmo que os minutos passem entre ti e a água.

E devagar uma silhueta se desloque

e depois se detenha no meio das árvores imóveis.