Inês*Pedro

Inês*Pedro*Amor*Paixão
Poesia Vadia: Cristina Vieira, Jorge Casimiro, Jorge Castro, Júlia Lello, Lurdes Mendes da Costa, Marta David, Pedro Laranjeira, Pedro Mota, Policarpo Nóbrega

Lisboa, Apenas Livros Lda, 2005
Col. literatralhas NOBELizáveis
Extra Colecção 1, Dirigida por Luís Filipe Coelho

ETERNA PARTIDA
Pedro Laranjeira

Longe na bruma dum tempo que passa
e não se percebe se é ou já foi
eu vejo-te aos poucos voar para fora
dum sonho secreto que amámos os dois...

Mas voa, avezinha, levanta-te agora,
desdobra os teus sonhos como asas de vento!
Bebe o ar alto, faz-te condor
sem um lamento, sem um momento
em que olhes de volta e me vejas a dor
de te ver partir além-fantasia
que chega ao seu fim...
de te ver fugir da vida vazia
que fica comigo
p' ra justo castigo
de te amar assim...

Foste musa, poesia, aurora e fragrância
Deusa pagã, virgem, irmã,
altar ritual de transes de amor...
e dor... também dor,
qual luz de mil sóis de infinito calor
que vivi e sofri, que te dei e me deste
em mergulhos perdidos no fundo de nós.
Foste o meu Norte, o meu Sul, o meu Leste,
a droga que encheu o meu sangue de vida
segredada a sós,
sussurrada a dois
e que eu sempre soube dever aprender
a ter de perder...
um dia... depois...
e sempre depois,
na bruma dum sonho que eu queria sem fim
mas que só podia
exIstir sem mIm!...

Foram dias e noites e meses e anos
contigo em segredo a encher-me o vazio
do saco fechado deste viver!

...mas nada mudou,
anda cá, anda ver:
os olhos cansados que embalam futuros
de incerto horizonte do vácuo que sou
mantêm fiéis a promessa perene
que fiz em silêncio,
de te serem puros,
de te amarem sempre!

Nada mudou!
Nem em mim nem em nós.
só mudaste tu, como tinha de ser,
e mesmo sem querer, ficámos mais sós...

Vou partir p'ra bem longe da dor que há em mim
e saber acordar de novo sozinho.
Vou fazer assim em defesa do ninho
a que tu tens direito com alguém que o mereça...
...mas antes que esqueça, porque isso não posso,
vou guardar tudo aquilo que um dia foi nosso
num canto secreto do meu coração
que, queiras ou não, será sempre teu!

Aí, por mais voltas que o destino invente,
Vives tu, meu amor, eternamente!

Edição comemorativa do 650º aniversário da morte de Inês de Castro