LAURUS & CINZA PARA
F. BOTTO SEMEDO
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Primavera de cinza
 

Livro solar, finalmente, dado a lume sobre a cinza que transfigura os objectos e as gentes. Poetas menores de finais de século somos muitos: que seria um poeta maior? Aquele cuja influência angustia para sempre e castra e silencia? Melhor é arriscar dizer-se ao fio do corpo, sem o medo atávico do demiurgo que vigia a escrita.

Neste livro de Fernando Boto Semedo tudo tem alma. A lagartixa, a borboleta, a andorinha, Deus mesmo tem uma alma, tudo comunica com tudo: os mortos e os vivos, os bichos e as gentes.

Estamos, pois, diante de um livro habitado. Mas também diante de um livro-fuga, irónico, distanciado, que se subtrai ao imaginário fechado, cinza, em que mais frequentemente o Autor se flagela.

Mas no todo, é a primavera que brota e ondula e reverdece.

Daqui se auguram outras primaveras, outras cores, outras viagens.

Com abraços, não com louros.

 
José Augusto Mourão