Sinto-me aturdida pela estridência da campainha da
escola, que mesmo sem eu querer teima em tocar.
É a ordem a que tenho que obedecer.
São os rituais que não entendo e que não quero.
O som vibrante enche o pátio como se nada mais
existisse.
Porque não quero, apenas posso voltar a fechar-me no meu
casulo.
Gotas de chuva miudinha vêm brincar comigo. Quase que me
sinto feliz pela sua presença.
Um pensamento absurdo cruza-me a mente: estas gotas,
esta chuva, são a água de Deus a tentar lavar os pecados
do mundo.
Se sorrio e não acredito, em breve serei mais um ramo
decepado desta árvore, uma voz longe, perto.
Não interessa: ela não está a respirar!
A resposta ecoa no meu espírito.
Eu sou a tua mente que te dá alguém com quem falar.
Não quero que me consertem. Não estou avariada, não sou
uma máquina!
Eu sou mesmo assim.
Se eu para ti sou falsidade, então podes fugir,
esconder-te. Mas antes de partires, diz-me: o que é a
verdade?
Como posso chorar, se nem a sorrir me ensinaram?
Sei que isto não é um sonho. É que eu sou mesmo assim.
Diferente todos os dias, mas sempre igual a mim própria.
Estou aqui e trago comigo os braços cheios do que restou
de ontem. Uma vontade enorme de realizar o hoje.
O que vês nos meus braços, são os sonhos feitos certeza
com que construo o meu futuro.
Neste recreio de escola tão vazio de pessoas, com os
dedos ajeito os cabelos encaracolados que a chuva me
colou ao rosto.
No meu imaginário, são aneis de cabelo cobertos de pó de
estrelas....
Sentada nesta árvore velha, forte, firme, sinto-me
distante, em segurança e protegida do escárnio, da
inveja e de todas essas coisas que fazem a vossa vida de
todos os dias.