::::::::::::::::::::::::::::::::Rodolfo Alonso::::

ANTOLOGIA POETICA
Traduções de José Augusto Seabra

O poeta procura trabalho
Sombras frias
A cicatriz
Nem príncipe nem mendigo
O cometa Durruti
Entretanto
Bons Ventos
Duro Mundo
O músico na máquina

DURO MUNDO
(Santa Fe, 1959)

“- Chau, Amargura.”
Roberto Arlt

1
ágil no meio da manhã
das cidades que me condenam e do vento que me inícia
tenho direito a tanto

à carícia ao mais rotúndo abraço
vou aprendendo a respirar

2
deito-me levanto-me
vou conhecendo os dedos do clima
faço os meus dias com os outros
e agito algumas palavras como tantas

3
e atrevo-me a dizer estou crescendo

e atrevo-me a dizer
há que apoiar o peito sobre o mundo
para esgotar a luz da aventura
as naves do desvelo
o passo livre através das lendas

4
vou cohecendo as vozes dos inocentes
do primeiro caído por sorrir

o sabor dos meus anos acolhidos sem destreza

5
queria falar de mim
sem esqueçer ninguém

6
faço o amor
o amor nas praças e nas ruas
en todos os rincós da história

e não conheço pedras
no amor

7
sím há gestos que me convocam
outros acolhem a minha ternura

há uma altura doce que me comove as horas

8
ela falará por mim

9
uma ciência treme-me no alento
o caminho rebelde
a aurora bem nascida

e os remorsos
sentina do meu voo

10
ninguém se negue a começar
a rir

e todavia ainda não nos conhecemos

conhecemo-nos demais
até que a poesia estale
como uma palavra verdadeira

11
pela noite sei permanecer
sei crescer e conhecer-me
ou deixarme cair desprevenido
sobre os meus semelhantes junto aos meus semelhantes

12
e isto não custa muito
e este corpo sem ar é um silêncio enorme

13
construí o meu domínio
tenho o dia a cidade o peito da chuva
a liberdade como uma mão

14
e para recordar
sei quanto pesa a esperança

15
a esperança
a tua mão sobre mim

mão para brincar a ver como vamos
mão começa o tempo

Rodolfo Alonso. Poeta, traductor y ensayista argentino. Fue el primer traductor de Fernando Pessoa en América Latina. Premio Nacional de Poesía (1997). Orden “Alejo Zuloaga” de la Universidad de Carabobo (Venezuela, 2002). Gran Premio de Honor de la Fundación Argentina para la Poesía (2004). Palmas Académicas de la Academia Brasileña de Letras (2005). Premio Único de Ensayo Inédito de la Ciudad de Buenos Aires (2005). Premio Festival Internacional de Poesía de Medellín (Colombia, 2006).