Pedro Sevylla de Juana

Louvor de Portalegre

Pintura de Nicolau Saião

  Aos meus amigos portalegrenses,
                                                    e aos que ainda não o são

Arrastando os pesados grilhões incorpóreos

da arbitrária angústia vital,

unidos aos ferros presidiários de múltiplos pesares

e uma debilidade física extrema,

com os sapatos gastos e as roupas descosidas

- Heccehomo, Peergynt -

pela rua de Elvas entrei em Portalegre ao meio-dia.

 

Eu viajava desprezando os ditados do Destino

sem bússola nem rádio, sem quadrante nem mapa

em busca da terra do queijo e do azeite

das maçãs, cortiça, nozes e castanhas;

e a entidade superior dominada pela fúria

dispôs de tão calamitosa chegada.

 

Portalegre é um dos assentamentos cidadãos

que o homem elevou sobre colinas,

subidas e descidas, alguma planura

perfil de fêmea exuberante e atrativa.

 

Não sei se foi o sossego de parques e jardins

a serenidade achada na Corredoura

o murmúrio da água surgindo das fontes

o magistério tímido dos museus

a repousada algaravia da Praça da República

ou a beleza comovente de igrejas e conventos;

ignoro se influiu na minha decisão

a perfeita simetria da Sé Catedral,

a solidez do Castelo e a Muralha

a sincera amabilidade das pessoas

somadas ao confortante acolhimento da biblioteca;

mas de Portalegre fiz ponto de partida

dando um golpe de timão à existência

 

Se tivesse chegado três mil anos antes

eu pastor de ovelhas entre sobreiros nus

a minha memória hospedaria a jornada inesquecível

aproveitada pelo desditoso Lysias,

- filho de Dionisio e neto bastardo de Zeus -

abatido e esperançado em partes iguais

para colocar a primeira pedra da Amaia

- Atalaião, Ribeiro de Baco -

iniciando umas obras ainda em marcha:

novos bairros que se afastam do centro antigo

e da sua frágil harmonia

em constante perigo.

 

A formosa Maia fez-se aldeia,

foi crescendo até ser vila e ser cidade

e hoje é a branca e ocre Portalegre

urbe de coração generoso

onde permanecerá meu alento

quando eu morrer de todo.

Alabanza de Portalegre

       A mis amigos portalegrenses,
                                             y a quienes aún no lo son

Arrastrando las pesadas cadenas incorpóreas

de la arbitraria angustia vital,

unidas a los grillos presidiarios de múltiples pesares

y a una debilidad física extrema,

con los zapatos gastados y las ropas raídas

-Heccehomo, Peergynt-

por la calle Elvas entré en Portalegre a medio día.

 

Viajaba desoyendo los dictados del Destino

sin brújula ni radio, sin cuadrante ni mapa

buscando la tierra del queso y del aceite

manzanas, corcho, nueces y castañas;

y la entidad superior dominada por la furia

dispuso tan calamitosa llegada.

 

Portalegre es uno de los asentamientos ciudadanos

que el hombre elevó sobre colinas,

subidas y bajadas, algún llano

perfil de hembra exuberante y atractiva.

 

No sé si fue el sosiego de parques y jardines

la serenidad hallada en Corredoira,

el rumor del agua surgiendo de las fuentes

el magisterio tímido de los museos

la reposada algarabía de Praça da República

o la conmovedora belleza de iglesias y conventos;

ignoro si influyó en mi decisión

la perfecta simetría de la Sé Catedral

la solidez del Castillo y la Muralla

la sincera amabilidad de las personas

y la confortante acogida de la Biblioteca;

pero de Portalegre hice punto de partida

dando un golpe de timón a la existencia.

 

Si hubiera llegado tres mil años antes

pastor de ovejas entre alcornoques desnudos

mi memoria hospedaría la jornada inolvidable

aprovechada por el desdichado Lísias

-hijo de Dionisio y nieto bastardo de Zeus-

abatido y esperanzado a partes iguales,

para colocar la primera piedra de Amaia

-Atalaião, Ribeiro de Baco-

iniciando unas obras aún en marcha:

barrios nuevos que se alejan

del centro antiguo y de su frágil armonía

en constante peligro de quiebra.

 

La hermosa Maia se hizo aldea,

fue creciendo hasta ser villa y ser ciudad

y es hoy la blanca y ocre Portalegre

urbe de corazón generoso

donde permanecerá mi aliento

cuando muera del todo.

 

PSdeJ

Pedro Sevylla de Juana.

Nasceu em Valdepero (Palencia, Espanha), em Março de 1946. Desejoso de resolver as incógnitas da existência, começou a ler livros aos onze anos. Para explicar as suas razões, aos doze iniciou-se na escrita. Viveu em Palencia, Valladolid, Barcelona e Madrid, passando temporadas em Genebra, Estoril, Tânger, Paris e Amsterdão. Publicitário, conferencista, articulista, poeta, ensaísta e narrador. Publicou dezassete libros (El hombre en el camino, Poemas de ida y vuelta, La deriva del hombre, Del elevado vuelo del halcón, etc). Reside em El Escorial, dedicado por inteiro às suas afeicões mais arreigadas: viver, ler e escrever.
Recebeu, entre outros, os seguintes prémios: Relatos de la Mar (1997), Ciudad de Toledo de Novela (1999), Internacional de Novela “Vargas Llosa” (2000).
Contacto: valdepero@hotmail.com