LUÍS SERGUILHA
Texto 5 - Canário-do-mar

ao GENIAL guitarrista CARLOS PAREDES

O álcool das fábulas faz latejar a inesgotável glande do navio

onde as posses desvairadas das legiões tecem unicamente o regresso agrilhoado das baleias

coleccionadas pelas válvulas mitológicas do horizonte

aqui as redes pequeníssimas das cerejeiras mecânicas expulsam as insustentáveis sombras-alambiques

que ludibriam o fogo inspirador das gôndolas

Furtivamente os pássaros inebriados agasalham-se nas parelhas soníferas dos pomares

onde todos as equivalências das ondas se estilhaçam

como os esquadros sazonados dos pulmões a escorregarem nos projectos assimétricos das crisálidas solares

Os dedais dos astros devastam as armadilhas garatujadas nos figos rudimentares das congeminações

para exaltarem o segredo das raízes assobiadoras entre as lajes estonteantes do alagamento cinematográfico

e as mandíbulas frenéticas respiram o esmo tumefacto da labareda conduzida centralmente

pelas fisionomias aquáticas das guitarras

Os novelos persistentes das águas estreitam a invernia imaculada dos loucos relógios porque a rebentação da claridade dardeja

sossegadamente os favos-bailarinos da memória

O músico está solenemente encurvado na indefinível epopeia

ondulando numa submersão distinta como um ser etéreo na genealogia inquebrantável dum povo

e sobre uma quilha encrespada penteia a sumptuosidade do espaço sonoro com o suor nómada da púrpura melancolia

que alinha a muralha reveladora da consciência aos regaços testamenteiros da essência incendiária

O nenúfar arrebatador do património é a generalização excêntrica dum labirinto cadenciado

é a transferência miraculada das indígenas composições

que enxertam as sequências melódicas dos espectros como se a alma fosse um tigre de esferas lucífugas e doces

Os ecos jazzísticos do cavaleiro nobre oferecem os pórticos constelados das borboletas

entre as crinas preciosas das atmosferas pulmonares

aqui os interstícios desatolados das heranças perseguem os sons rutilantes do sangue

que sucumbem felicíssimos nas invenções químicas da rebelde mestria

é neste berço incomparável de movimentos

que as senhas das gaivotas descortinam a insubordinação da música pura

As baladas da transmutação engolem igneamente as cordas transversais do poema

onde as falésias periféricas do coração missionário balanceiam

sobre os bandos acidentais do Tejo

As guitarras intermitentes das águas lançam os teares luminescentes no tropel inumerável das pulsações

que atravessam as biografias infusas das catedrais

que imaginam o esconderijo convulso das açucenas

na invocação cirúrgica do relâmpago

Os mantimentos rastejantes dos astros sobressaltam-se nas plainas guturais dos alpendres porque as ressonâncias dos peixes fotográficos levam o Infante do Mondego até aos astrolábios guerreiros dos pássaros

onde os cântaros das transparências desabrocham as estacas enxugadas dos mensageiros que removem os palatos fendidos dos exílios

O lirismo redemoinhante dos fósseis é conquistado inteiramente

à instabilidade das gargantas do firmamento

onde a reconstituição marítima é um percurso de vórtices devaneadores bordados interminavelmente

pelos zodíacos das populações indecomponíveis

Estes gestos perpétuos na explosão vertical do silêncio canhoneando os crepúsculos contemporâneos das transitórias artérias

como um grito de possibilidades sincopadas a espargir o espólio unívoco das alucinações

As maquilhagens leoninas das orquestras são acolchetadas na circuncisão do paladar dos naufrágios

genialmente inspiradores das descobertas tempestuosas das estrofes civilizacionais

Os sinos vitoriosos dos cafés entrechocam-se cheios de equilíbrios indescritíveis

para congeminarem a vulnerabilidade ática da geografia humana sobre os azulejos listrados das alfândegas

e as árvores imprevistas do coração são marinheiras polinizadas a embutirem as imolações azuis nas arcadas ignoradas do dilúvio

As labaredas clássicas das harpas acrescentam-se aos flecheiros protectores dos rios às hibernações rodopiantes das escarpas aos adubamentos bebedores das teclas solares ao balancé fragmentário das espécies da sede

e as antinomias dos ateliers atlânticos perfilam-se regularmente no guardador efémero das metamorfoses circulares

abotoadas precisamente

pelos odores imprecisos dos temporais cerâmicos

Os fogos organizadores do verbo arquitectam a individualidade das lembranças das trepadeiras

sobre o alimento sibilante das primaveras setentrionais

As flores desabaladas dos inomináveis cometas assemelham-se ao estendal bifurcado das polias anatómicas

que conciliam as maratonas lunares das luzes autoritárias

onde o corvo tacteador das hemisféricas papaias ornamenta as transposições das pálpebras perseguidas

pelos dédalos moleculares dos veneradores de ninfas

São os astros apocalípticos nas mãos estivadoras do guitarrista

é o termóstato estético das vitrines no relento da sedução das persianas ortográficas

como um remador solar no jacto teatral dos mediterrâneos-golfinhos

A ulterioridade das circunferências das tecedeiras o prolongamento da caligrafia dos astros

e os omoplatas descobridores do guitarrista estiram-se ritmados nas sendas dos chãs emigrantes

são as superfícies dos insectos decifradas nos dragoeiros minerais

são as velocidades das pranchas nos travos amontoados

sobre as invasões dos umbigos áulicos

e as tonalidades matinais do vocabulário esculpem-se inocentemente na imutabilidade das ilhargas invasoras

porque os penteados armazenados da tempestade desenrolaram a exiguidade murmurante das sandálias

na evaporação dos utensílios

Os pássaros de revestimentos encruzilhados os crocodilos de úteros rítmicos as borboletas cristalinas do guitarrista mergulham nos écrans indicadores dos vegetais atmosféricos

aconchegados distintamente

à sagacidade descomunal das pupilas que ministram as circulações dos anzóis filamentosos

no cromatismo acústico das intempéries

Numa pirueta de porções informáticas as sombras amadurecidas do trigo propagam-se

entre os espiráculos espontâneos da claridade

onde as projecções dos astros vindimam as reconstruções das cisternas solsticiais

e a verticalidade iniciática do guitarrista já é uma ramagem puramente inflamatória da visão universal

Um país migratório desadorna os sorvedouros dos búzios-pássaros

sobre os perseguidores dos últimos colos de setembro

aqui os sigilos dos lobos cumprem as ressonâncias irregulares do chão sacrificado

pelas incisões clandestinas do mento solar

As narrativas milenares das roldanas patenteiam o andamento altissonante das têmporas

onde a concepção dos luzeiros esteia inexplicavelmente

as bordaduras subterrâneas da madrugada até às combinações das pirâmides das águas proféticas

Cravos vermelhos na concavidade terrestre dos astros partilhados

Cravos vermelhos nas projecções do guitarrista oceânico

onde a difusão dos candeeiros encosta o cio dos barcos à única saída do xaile arquitectónico de dois longos corpos

Os músculos caudalosos da canção são amorosamente flagelados

pelos receptáculos dos gondoleiros e os círculos vigilantes do rio entreabrem-se enfraquecidos

para perderem as cúpulas heróicas do murmúrio

entre os saltadores orbiculares das visitações é o ritual uníssono das cartilagens madrugadoras é a estrutura das dinastias dos possíveis nenúfares a povoar de espirais o grito das cores é a civilização esculpida pela fuselagem esplendorosa dos nómadas

são os sulcos aromáticos dos astros vocabulares a convidarem as sílabas de miosótis

para o estrangulamento das cachoeiras

são os travesseiros bebedores de luzes na ciência da colheita gramatical

Há um guitarrista pioneiro nos hemisférios eólicos transbordando de abelheiras improvisadas

como a consolidação dos desfiladeiros amplificados pela prodigalidade das lâmpadas

como os cisnes obliquamente transformadores

dos auditórios-glaciares

A magia surda das criptas e os acenos das pérgulas resistiram à aprendizagem submarina das calamidades e à inclinação vertiginosa das raízes

para golpearem assiduamente o interior neutralizado das candeias

onde o colóquio tentacular do guitarrista se metamorfoseia no adágio altíssimo das travessias

A metalurgia desafiadora dos astros os presságios feiticeiros dos mares vertebrados e as conchas intermináveis do guitarrista acrescentam-se ao minucioso combate das bibliotecas órbitais

para embalarem as araduras das aves desarrimadas

que rodeiam os gritos derradeiros dos veadores obstinadamente aclimatizados

à movimentação caligráfica dos leões-marinhos

Os solstícios das pedrarias grunhem nos mapas das sementeiras purificadas

pelas hierarquias irreparáveis das planuras

que embranquecem as extremidades esquecidas dos golfos com os idiomas desabrochados da casas

As confluências das fogueiras são auxílios acantonados nas regenerações dos guardadores das vertigens

Os ourives nocturnos das marés abobadadas os ímans secretos dos astros

e as esporas fulgurantes do guitarrista suturam juntamente

as rotações das silhuetas dos visitantes

Os desaguadouros recíprocos das águias os solitários parágrafos dos mondadores e os antelóquios musicais das maças

aceram a infância heráldica das vinhas

As orações sazonais dos embarcadouros enclausuram as lendas ciclónicas dos navegadores

para dilatarem os delineamentos hesitantes das constelações

Os sinónimos árcticos dos veleiros-parábolas as coincidências dos periscópios das torrentes e os meteoros intemporais do guitarrista soldam demoradamente

a curvatura fértil do outono na fidelidade equestre da tempestade

Os caçadores de espelhos eternos emolduram a arqueologia das locomoções no desassossego da notabilidade nas ânforas póstumas dos aluviões

e na eremitagem rebelde do guitarrista onde o tear mutante do oceano restaura a verdadeira morada dos amantes