Luís Estrela de Matos

Um Kafka morto

(Luis Estrela de Matos)

 

Ei ,

sou um cara morto

Você não vê isso em meus olhos ?

Você não se vê em meus olhos?

Você também está morto

Um morto Kafka

Sem trégua

Sem perdão

E sem pedido,

Ainda bem !

Morre-se porque morre-se

E se isto não é uma saída

É porque saída não há

Mais

Os minotauros esvaziaram-na de vez

O que há

E é demais

É esta estupidez humana que teima em não

Morrer

E procria-se como coelhos

( o papa tá certinho , certinho)

Dê uma risada de canto de boca

Com tudo isto, vai ...

Você ainda se resigna?

Você ainda resina ?

A que?

Se ainda puder e tiver dentes

Seja abjeto

Seja asqueroso

Contamine-se

Mas não perca o sarcasmo

Nem a indignação

Enfie umas injeções pesadas de ironia

Eles estão cansados de existir

 

Eu sou um cara morto,

É vero,

Sempre fui desde o começo

Acho eu...

Sou o que não  sou

 

Um Kafka a mais

Morto.

 

Completamente morto

 
 

Luis Estrela de Matos  -  escritor, professor universitário e doutorando em Literatura Comparada  pela Universidade Federal Fluminense ( UFF) finalizando uma tese sobre o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.