Helder, cá entre nós,
Digo, entre tu e eu,
Vejo-te distante em teu
Severo
e incontornável dizer
e mais ainda,
cortante
com tua imagética complexa
e inesperada
Tuas luas, teus êmbolos, essas tuas bicicletas
E esse mundo por percorrer
Fazem-me mais sangue no cérebro
E uma confusão nunca antes percebida
Nesta coisa meio alma que eu
tenho
Quando
às vezes, recebo sua visita.
Constróis linguagens
E mandas as lógicas para a casa do caracas
Pois
o poema te é secundário
És arquiteto, isso sim,
de vozes anormais,
amorais
não sei onde fico nesse teu surrealismo
animal.
Ao ler tuas palavras,
o
chão se levanta e me descompasso
Por inteiro
Esquinas e ruas e países que nunca vi
Nem verei
Pois o desconforto é a tua casa
Como num desenho de Escher
Sem fim nem começo,
sem
entrar ou sair
sobro no entre
de coisas
sentidas
E isto é deliciosamente anticartesiano
Nessa tua arquitetura desigual
com tantas vozes a falar
em teus versos
expansivos,
espantados,
Esparramados mesmo !
O que experimento em ti
É uma prosa transgressora
( teus contos te traem...)
Escritura, sem dúvida alguma
( Não sei se alguns homens nascem póstumos,
Sei que tu nasceste único )
Sei que a carne te fez súdito
E grande,
Espaçoso e amante
E jogas comigo
como se o gozo
Fosse imediato e uma memória que fica
Afinal ...
Filho, filho
Mãe, mãe
E nunca mais minha mãe foi a mesma
Nem seu filho aquilo que ela esperava
E as mulheres nunca mais menstruaram
Da mesma maneira
E o atum passou a ter outro gosto
Helder,
Tua forma de ser é maneira de estar.
Contigo, a poética ganha imensa voltagem
E eletrificado saio pelo mundo
Pelas letras, pelas músicas, pelas formas
De patas em bicicleta
Sem saber mais quem sou,
O que faço,
Ou até mesmo meu nome de batismo
E só escuto uma coisa
Que nem sei se é voz
alguma
Helder... Helder...Helder .
( novembro, 2015)
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