Luís Estrela de Matos

Os devires nos dançam

Dez leis para ser feliz

Me chega um email

E fico atônito pois

Seja de Curys ou de Coelhos

Ou de Gandhis

A verdade é que sou assim,

Sem felicidades e sem rumores

Apenas interminável

Não sei ser eficiente, inteligente e moralmente

Saudável

Em dez lições,

 

Nem alegre nem triste

Talvez nem poeta

Seja

Este que escreve 

 

Apenas um estar no mundo

Com uma pré-disposição e

Alguns dispositivos que acontecem

Em mim

No meio de rizomas e platôs

E eu comungando da comida

E SENDO alface quando alface me vê

E estando pepino quando pepino engulo

E bonequinhos e suas falas invisíveis

No meio de diálogos tão  imaginários

porque  fortemente reais

Dos  tantos quereres do único filho que tenho

E vejo filmes e leio livros e sinto coisas

E sou Kurosawa e Livro do Desassossego e sou coisa palpável

Maleável ou dura

como aço bem temperado

ou  um ferro  lá românico em igreja esquecida

numa calada aldeia

do extinto Portugal

E não sei o que é ser feliz pois não procuro

A tal da lagoa azul

Ou  o monte Kilimanjaro

Nem Ottawa ou Nova York

Apenas lembro enquanto tópico

 que já amei muito

E isso era infinito e que duro na finitude

Do que experimentei

E não tenho mais fórmulas para viver

Não sei o que fazer

deste corpo

Talvez uma fantasia maior

Sem estrutura

Sem prisão

Sem função

Sem salários por receber

Que ele fosse essa alegria

Mais clandestina

De uma vida nômade e

proibida

De um pensamento  tuareg

Onde o  corpo  pudesse

SER,

isto

Sem

Órgãos

 

                          ( Luis Estrela de Matos)

 
 

Luis Estrela de Matos  -  escritor, professor universitário e doutorando em Literatura Comparada  pela Universidade Federal Fluminense ( UFF) finalizando uma tese sobre o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.