Luís Estrela de Matos

PENINSULAR

Peninsular

Entre verde  Sintra

e Sagres sal

peninsulei-me

quase 

 

 era  um   mínimo   imaginar : 

 

talvez  corpo ,   

vela ,

timor,

textura,

podendo ,

(quem sabe)

oceanar

               em  dobra  

 

Era o gozo,

espuma

era o mar . 

 

Jazz    mim .

Algures

O rumor dos Pinhais deve estar, sim,

em outro lugar,

ouvindo-os eu

 a  soluçarem  juntos ,

no distante , fico  :         

D. Diniz a cantar    de  amigo

onde  o  Fernando nunca ousa se terminar

e enquanto a terra vai ansiando o mar

o  som   gelado  de um silêncio verde

nos  falla

que o futuro deve estar ,

 no heteronicamente

  fingido lugar .

Sem Coimbra

Tens este silêncio

Mundo Mondego

Onde sozinhos

Olhos e acordes

mudos  a cismar 

 

Pois 

 

Tantos os visitantes

Tantos os moradores

Tantos os quase estudantes

Breves e passageiros

Deveras a repetir:

 

Coimbra é uma ficção 

 E a fluir,  

Pois .

Portugal

Não cabendo no pequeno

Não coube no imenso

Nunca coube em si

Pois que o si era uma ilusão

De uma coisa  que não se tem

E a ilusão permaneceu espelho

De um Narciso fingidamente

Arrependido 

 

Os oceanos findaram-se

Lisbon stories

Este falatório

estas vozes alheias e finitas

estas putas e estes putos sem mãe

vozerio mouro e incandescente

aqueles centuriões sarnentos

e estes charcos sempre repetidos 

 

franceses e ingleses sempre

e bem munidos

de uma pólvora que vos  aterroriza

por inteiro 

 

fica-se com o sal

a gosto de viagem

e o vento castigando os desejos

e tuas colinas espreitam-te

e teu nome saliva-se de boca em boca

não sei se foste  o centro

ou coisa como lugar e ponte

talvez um trampolim para a morte

mas tua mistura fez-te singular

e bárbara

e o terremoto fez-te bem 

 

uma cidade merece cicatrizes, ruínas

e  alguns

 perfumes

Luis Estrela de Matos é professor universitário, jornalista, ensaísta e escritor. Nascido em Condeixa-a-Nova (Portugal), veio para o Brasil aos 5 anos incompletos. Escreve desde os 18 anos e já participou de antologia de contos da editora carioca UAPÊ. Tem artigos, contos e poemas em alguns sites: Portal de Educação do Rio de Janeiro, Revista AGULHA, Revista Verbo21, entre outras. No jornalismo impresso fundou um jornal cultural em Niterói nos anos 90, Informando e Educando. Semanalmente escreve para o Correio de Sergipe, Jornal da Cidade (SE) e o Correio das Artes (Paraíba). Mestre em Literatura Brasileira pela UERJ e atualmente doutorando em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Organiza material para a publicação de um livro de poemas inéditos.