Não sei quantas faces tem um poeta, mas
sei quantos poemas têm numa faca. Eu sei. E João Cabral também sabe. Sei
que os poemas são misteriosos e exibem estranhas faces aos leitores,
avisados e desavisados. Distraídos , venceremos, dizia o Leminski mais
sabreamente zen. Há que aguçar, há que cortar. Quem nunca se cortou com
a verdade não sabe a verdade do sangue. Mas as faces me espreitam, me
vigiam, e realmente precisarei de um anjo torto, completamente torto,
vivendo na sombra e em silêncio, pensando um vermelho de Gogh, tão
completamente vermelho, que chega a ser vão. Há que se ser vão no desvão
da matéria. Mas Drummond queria uma tarde azul, embora soubesse que os
desejos são rubros. E os bondes e as pernas passam diante de olhos
brancos, pretos e amarelos e no meio de tudo Deus, e pernas e a pergunta
Dele no meio de tudo , inclusive, sim, meu atento leitor, no meio do
caminho e das pedras. O coração de um poeta sempre pergunta e os versos
costumam ser dolorosas dúvidas, rimantes ou destoantes, ou até
concretamente materiais. Os olhos não perguntam mais nada e Deus não
olha mais as pernas ao entreolhar o homem que nelas se esqueceu
entreolhando o vasto mundo de Raimundo sozinho, sozinho como o mundo em
forma de coração, de um coração a nu, de uma vontade de lua em forma de
conhaque, deixando o Diabo mais comovido em sua suspeita. Eu não devia
te dizer mas hoje é domingo e não haverá FAUSTO; haverá outra coisa.
Livre-se dela pois um poema precisa ter 7 faces. Quantas você tem?
ps: conversa imaginária com o poema de sete faces, de Drummond. |
Luis Estrela de Matos é professor
universitário, jornalista, ensaísta e escritor. Nascido em
Condeixa-a-Nova (Portugal), veio para o Brasil aos 5 anos incompletos.
Escreve desde os 18 anos e já participou de antologia de contos da
editora carioca UAPÊ. Tem artigos, contos e poemas em alguns sites:
Portal de Educação do Rio de Janeiro, Revista AGULHA, Revista Verbo21,
entre outras. No jornalismo impresso fundou um jornal cultural em
Niterói nos anos 90, Informando e Educando. Semanalmente escreve para o
Correio de Sergipe, Jornal da Cidade (SE) e o Correio das Artes (Paraíba).
Mestre em Literatura Brasileira pela UERJ e atualmente doutorando em
Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Organiza material para a publicação de um livro de poemas inéditos. |