Luís Estrela de Matos

Desaviso

1.

Não pedir mais as incongruências

beba-se café frio,  if

matizes supérfluas não nos contaminam

deixaria as areias imóveis se , e enquanto?

bicos e pés  e tons bifurcassem 

este desejo quase traço

de uma certeza humana que respira

isto são poros, calosidade, rugosas ventosas

que me colam à memória alheia

e eu andarilho e eu compartilho e eu martelo eu e o som

bigorna que me divide

entre um lugar que imagino

e outro que me contamina

Exsiste a mesa e um sorriso anônimo

Avisando  estes olhos em forma de vento

que a toalha desenhara-se de um  já  café quente

if

2.

Esta distância deve ser meia medida

conveniências  adjacentes

e não mais poderei  refrear

deve existir um tempo

visto que o sol quase desautoriza

sombras 

de objetos teimosos

e  inexistentes

queimação, viração, outrem

ou  vela derretida dentro dos olhos

a  arder, aderente, impunemente

só assim a xícara retorna

ainda não no centro imaginado de uma marca que já existira

deve haver um engano nisso quase

pois é engano

um  anel  prateado dividindo o dedo

em partes desiguais

but ...

3.

Fecham-me os sentidos

e embutido nisso, é claro,

olhos de água e espuma e maresia e à revelia

dilata-se uma vida

talvez alheia e desavida

plena, transbordante, abusiva,

julgando ser coisa existente

e eu fito o entremim e o entrealhures

não mais colecionarei

haverá de dispersar-se

este aviso.

Era um café, I know,

Era um anel, talvez

Sempre o torpor,

Sempre o  mesmo calor

gritando em silêncio azul :

Fique tudo  como

if, quase

um amor

vestígios

de um sim 

Luis Estrela de Matos

Luis Estrela de Matos é professor universitário, jornalista, ensaísta e escritor. Nascido em Condeixa-a-Nova (Portugal), veio para o Brasil aos 5 anos incompletos. Escreve desde os 18 anos e já participou de antologia de contos da editora carioca UAPÊ. Tem artigos, contos e poemas em alguns sites: Portal de Educação do Rio de Janeiro, Revista AGULHA, Revista Verbo21, entre outras. No jornalismo impresso fundou um jornal cultural em Niterói nos anos 90, Informando e Educando. Semanalmente escreve para o Correio de Sergipe, Jornal da Cidade (SE) e o Correio das Artes (Paraíba). Mestre em Literatura Brasileira pela UERJ e atualmente doutorando em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Organiza material para a publicação de um livro de poemas inéditos.