Luís Estrela de Matos

Desassossego por vir

(A   Maurice)

Precisaria

que este desassossego

não fosse só

meu

e teu tonicamente nosso

e que fosse um alguém, alguém, alguém

alguém fala, alguém come, alguém cospe, alguém dorme, alguém fode

algo bernardizasse tantos

além-soaresmente de uma Baixa

da linguagem pós-desassossego

e isto de fazer envelopes

e isto de enumerar páginas

e isto de uma genética quase crítica

de almas nervosamente azuis

porque intraduzíveis

isto parece lodo, parece asco, parece redondezas

Parece periferia

As massas realmente chegaram aos biscoitos finos

E comem tudo que traçam pela frente

Pois tem fome de coisas

Melhor seria se o fosse

Por incontáveis desassossegos

Que eu e tu e algo e alguém nos livrasse

E nos tornasse  não um livro por escrever

Mas  um  imenso desassossego,

Um fabuloso desassossego por vir

 

Blanchot, ó Blanchot

Livrai-nos deste mal...

Luis Estrela de Matos é professor universitário, jornalista, ensaísta e escritor. Nascido em Condeixa-a-Nova (Portugal), veio para o Brasil aos 5 anos incompletos. Escreve desde os 18 anos e já participou de antologia de contos da editora carioca UAPÊ. Tem artigos, contos e poemas em alguns sites: Portal de Educação do Rio de Janeiro, Revista AGULHA, Revista Verbo21, entre outras. No jornalismo impresso fundou um jornal cultural em Niterói nos anos 90, Informando e Educando. Semanalmente escreve para o Correio de Sergipe, Jornal da Cidade (SE) e o Correio das Artes (Paraíba). Mestre em Literatura Brasileira pela UERJ e atualmente doutorando em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Organiza material para a publicação de um livro de poemas inéditos.