LUÍS COSTA:::::::::::::

Um poema de Michel Houellebecq

Irreconciliável

 

 

O meu pai era um idiota bárbaro e solitário.

Ébrio de deceção, só diante do televisor,

Rumiava planos frágeis e muito bizarros,

A sua maior alegria era vê-los fracassar.

 

Tratava-me como uma rata acossada;

A mera ideia de ter um filho, creio, enojava-o.

Não suportava pensar que um dia o ultrapassasse,

Só porque eu ficava vivo, e ele batia a bota. 

 

Morreu em abril, gemente e perplexo,

No seu olhar havia uma cólera infinita.

Todos os três minutos insultava minha mãe,

Criticava a primavera, fazia troça do sexo.

 

No final, pouco antes da última agonia,

Um breve sossego percorreu-lhe o peito.

E sorrindo disse: banho-me na minha urina,

Depois, apagou-se com um suave estertor. 

 

Michel Houellebecq (Ilha da Reunião, 26 de fevereiro de 1958), é um escritor francês: ficcionista, poeta e ensaísta.

Houellebecq é considerado um dos maiores autores franceses contemporâneos e também um dos mais controversos, amado e repudiado, um verdadeiro iconoclasta, continuador da tradição dos poètes maudites.

Em 2010, com o livro La Carte et le Territoire, recebeu o Prémio Goncourt, o mais importante da literatura francesa.

Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de  Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.

Depois de passar três anos  num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo.  Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.

Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado.