:::::::::::::::::::::LUÍS COSTA::::::::::::
Sobre o poema
Chove. Há dias em que o poema
nos atraiçoa.
Só encontramos
picadelas de moscas aqui e ali.

O peito inchasse, submerso,
na dureza da mão. O ritmo
terso e másculo dorme,
algures, debaixo do musgo.

Um silvo de seixos arrasa-nos
os tímpanos: é como se fossemos
um carro de bois enterrado
na lama, ou um jarro quebrado.

De nada nos valem as ferramentas,
nem a destreza da arquitectura
- só nos resta esperar, esperar até
que a maré cheia volte de novo
Luís Costa. Escritor português, nascido a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu.