:::::::::::::::::::::LUÍS COSTA::::::::::::

ARQUEOLOGIA INVIOLÁVEL
PELOS BOSQUES DE ZUESCHEN

POEMA DOS BOSQUES DE ZÜSCHEN

Ó bosques encantados de Züschen!

Terra boa, pura de cogumelos puros,

Dai-me um pouco da luz do vosso encanto,

Da vossa leda mansidão,

Dai-me o sono das bétulas e dos fortes carvalhos,

Das faias que perturbam o azul,

Dai-me

O seu poderoso sistema de raizes,

Feito de mundos abismais.

Por eles descerei aos limites dos homens,

Como um farol descerei áquele inferno dantesco

Que fumega nas caldeiras do seu coração.

 

A pirâmide mágica será a minha tenda.

Ali descansarei, à luz da candeia, com o

livro dos mortos entre as mãos.

Ali aprenderei a morrer sem morrer,

Ali descobrirei a mulher dos meus sonhos,

Mulher-metade- barro- metade- luz,

Carne da minha carne,

Descendente de Maria Madalena.

E a sua menstruação fluirá;

Metálica e pulsante

Fluirá;

Pelo crucifixo do meu toráx estilhaçado

fluirá,

Será o maior rio do mundo

Rio-encontro- de- todos- os-rios,

Grande mãe fluvial,

Dilúvio,

Universo dos meus ditirambos,

Evoé,

Ombro de Gilgamesh talhado na carne,

Telhado.

 

Depois virá o jejum pascal,

A abstinência,

O desejo de renovação...

Renovação do amor,

Do nosso amor

ainda mais cortante que a lâmina da navalha,

Ainda mais contundente que os dias de Outono

Atirando caixotes de lixo pelos ares,

Magros Outonos

Que acendem poderosas lareiras em nossos corpos.

E no pico do monte haverá uma sarça em fogo,

Monumento do nosso amor.

Assim o amor permanecerá vivo até ao Dia Final,

Assim o amor será uma fonte cristalina,

Uma divina torrente,

chave das chaves,

Imaculada aliança,

Olho no coração,

Que vê para além dos muros,

( muros que vamos construindo à nossa volta

Sem o sabermos )

Império das água comunicantes,

Como pálpebras adormecidas nos terraços de pedra e cal,

Para que a liberdade desabroche em nossos corações,

Para que seja uma tatuagem inconfundivel,

Evidência digna de trazer na carne,

Manto lilás,

Palavra no corpo do barro.

 

Ó barro dos dias!

Este será o tempo das grandes navegações,

Homens sábios chegarão de longe,

Homens sábios como Novalis,

que será o nosso guia

por entre os labirintos-de-nós-mesmos,

Luminoso astrolábio;

 

Os seus poemas serão erupções de ossos falmejantes,

O fogo na noite,

O fogo da noite,

O leite da sagrada e santa noite.

 

E Assim mergulharemos na vida,

Assim beberemos do sonho sagrado,

De todas as suas maravilhas e virtudes

E os bosques de Züschen serão o nosso Templo:

 

Já nada haverá que nos faça recuar,

Já nada haverá que nos separe da vida.

Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de  Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.

Depois de passar três anos  num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo.  Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.

Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado.