:::::::::::::::::::::LUÍS COSTA::::::::::::
DOIS POEMAS AO NATAL DOS HOMENS-RÃ
ARCO NATALÍCIO

No templo de um claro silêncio em fins

de Dezembro, reúnem-se os dias

com todas as suas derrotas e vitórias

com todas as suas fabulosas epopeias

Ali � o mundo é um simples assobio

de pedra no puro centro da luz

ali � o homem agarra o pássaro de gelo,

ainda sombra, em seu voo profundo

É então que algo se acorda por trás

da pele: uma fanfarra de ópio, talvez,

ou um jacto de água na terra desértica

É como se a alma fosse um longo arco

segurando o horizonte em suas molas

É como se as chagas não estivessem lá          

PALAVRA POÉTICA

Aqui

nada há   

que separe o barro do barro

aqui

as coisas moram em si mesmas

e se a chuva cai

as rosas abrem as suas pétalas

e se troveja

o mundo é um trovão

e se o sol mergulha nas entranhas do rio

os seixos são cordões de luminosidade

e é então que os peixes também

são aves

e é então que as árvores

também são astros

e é então que as pontes

também são janelas

aqui

as palavras também caiem

e apodrecem

e morrem como os corpos dos animais

ou das plantas

e depois ressuscitam

e alimentam-se do húmus

e do orvalho   e da pedra

e de novo

crescem

e crescem

e as suas raízes rompem o mundo

e na sua presença

agora

- tão real !

todas as coisas são o que são

Luís Costa, Züschen MMVII

Luís Costa nasce a 17 de Abril de 1964 em Carregal do Sal, distrito de Viseu. É aí que passa a maior parte da sua juventude. Com a idade de 7 anos tem o seu primeiro contacto com a poesia, por meio de  Antero de quental, poeta/ filósofo, pelo qual nutre um amor de irmão espiritual. A partir dai não mais parou de escrever.

Depois de passar três anos  num internato católico, em Viseu, desencantado com a vida e com o sistema de ensino, resolve abandonar o liceu. No entanto nunca abandona o estudo.  Aprende autodidacticamente o Alemão, aprofunda os seus conhecimentos de Francês, bem como alguns princípios da língua latina. Lê, lê sem descanso: os surrealistas, a Geração de 27, Mário de Sá-Carneiro, Beckett, E. M. Cioran, Krolow, Homero, Goethe, Hölderlin, Schiller, Cesariny, Kafke e por aí adiante. Dedica-se também, ferverosamente, ao estudo da filosofia, mas uma filosofia viva. Lê os clássicos, mas ama, sobretudo, o poeta/ filósofo Nietzsche, o qual lera pela primeira vez com a idade de 16 anos : "A Origem da Tragédia" e o existencialista Karl Jaspers.

Mais tarde abandona Portugal rumo à Alemanha, pais onde se encontra hoje radicado.