:::::::::::::::::JULES MOROT::::::
Dois poemas traduzidos por Nicolau Saião
MOZART

Il se lisent les grecs,
les suédois, allemands
ou la langue sucrée
de j' ne sais pas combien
de je ne sais pas qu'immobile morceau de page
clefs du soleil
peut-être le latin, l'alane, l'islandais
et c'est toujours le même musique
toujours comme une veine
dans une fleur épaisse obscène
Il dit un un épingle il dit autre
une vis
donc oui
une fine diffuse petit'chose presque morte
à moitié couchée
à moitié fermée
une intelligente chose muette
plus grande qu'un tir dans l'oreille
donc non
une espèce de porte
de douleur discrète.

Mon bon seigneur
regardez alors
dans les prairies, dans les tavernes
aux ermitages
aux armoires
un trace d'un chien

Dans les lunettes du premier violon
tout disparaît.

Avez vous sommeil, désir
de nouvelles saisons?
Avez vous des florins ?
Avez vous, par hasard, dans les jours passés
mains musicales, des signes
d'autres décès?

 

MOZART

Lêem-se os gregos
suecos, alemães
ou a doce língua
de não sei quantos
de não sei que imóvel pedaço de página
claves de sol
talvez o latim o alano o islandês
e é sempre a mesma música
sempre como um veio numa flor grossa obscena
Diz um um alfinete diz outro
um parafuso
pois sim
uma fina difusa coisinha semimorta
semi-deitada
semi-cerrada
uma inteligente coisa muda
maior que um tiro na orelha
pois não
uma espécie de porta
de dor discreta.

Meu bom senhor
olhai
nos prados nas tabernas
nos ermitérios
nos armários
um rasto de cão

Nos óculos do primeiro violino
tudo desaparece.

Tendes vós sono, desejo
de novas estações? Tendes florins?
Tendes, acaso, em dias
já passados
mãos musicais, sinais
de outras mortes?

L'HANNETON

Il retentit là dehors
et s'éparpille par la maison
dans la chaleur des arbres qui attendent
le plus court chemin
humain dans direction du ruisseau
l'hanneton son son de sonnette
de clochette
son astucieux repique et bientôt
des vagues souvenirs dans l'après-midi
un petit fil de mémoire dans les ouies
et c'est exact un être volant que dans
des tournoiements
il passe
par sur les roseraies
l'ombre raide des sens.

Un son d'harpe
de violons le notre regard réfléchi
dans les verres
de demain et d'aujourd'hui
Un geste maintenant
qui balbutie
un simple animal de métal en perçant l'après-midi
saisi bien saisi
de son talent
de son corps temporaire
souvenir de cieux éloignés
d'années repassées de poussière

d' heureux itinéraires.

 

O BESOURO

Soa lá fora
espalha-se pela casa
no calor das árvores que aguardam
o mais curto caminho
humano na direcção do ribeiro
o besouro o seu som de campainha
de sineta
astucioso repicar e logo
lembranças vagas na tarde
pequeno fio de memória nos nossos ouvidos
e é exacto um esvoaçante ser que em rodopios
perpassa
por sobre os roseirais
a sombra hirta dos sentidos.

Um harpejo
de violinos no nosso olhar reflectido
nos vidros
de hoje e amanhã
Agora um gesto um balbuceio
um simples animal de metal furando a tarde
seguro bem seguro
do seu talento da sua carne temporária
lembrança de céus distantes
de anos repassados de poeira

de roteiros felizes.

in “Le mardi-gras” (Honfleur – 2003)
(Traduções de NS)

(Agradeço a J.M. a cordial paciência que me permitiu efectuar mais adequadamente as presentes versões. Não esquecendo, é claro, as atenções que para mim teve nos dias em que me deu o privilégio de disfrutar do seu mais que agradável acolhimento, como perfeito anfitrião que é – agradecimento extensivo a sua Mulher).

Jules Auguste de Minvelle Morot nasceu em 1973 em Alc-le-Courtnay (Loire). Poemas dispersos em jornais e revistas, nomeadamente interactivas, agrupados sob o título de “Le mardi-gras” (alguns dos quais saídos entre nós na “DiVersos – revista de poesia e tradução”). Em prosa deu a lume “La chambre engloutie”, relatos e reflexões novelizadas.

Licenciado em biologia, exerce o professorado.