<<<<<<<<<JUDITE TEIXEIRA>>>>>
POEMAS - INDEX
O Anão da Máscara Verde

As árvores seculares
do meu jardim,
em murmúrios de segredo –
falam de mim,
riscando no horizonte
longas figuras de medo…

O silêncio fala
balançando os esguios esqueletos
das árvores desgrenhadas!
Apagaram-se as velas perfumadas
do lampadário da minha sala…
As aves em voos inquietos
passam caladas!
……………………………………
Infinitamente só,
as horas vão adormecendo…
……………………………………
Estranha visão!
Do espelho para mim,
vem deslizando
lívido de luar
um fulvo Anão, de máscara verde
vestido de arlequim…
As mãos a suplicar,
num gesto que se perde…

Nos olhos cintilantes, infernais,
eu leio confissões rudes, brutais!
– Estende os braços revestidos de oiro…
E as suas mãos esguias
vêm desprender o meu cabelo loiro!…

Álgida madrugada de luar…
Infernal tentação!
Eu não posso desfitar…
a boca rubra e incendiada
do meu Anão!

Quero fugir a este inferno!
– Os olhos dele…
Um abismo sem fim!
Um labirinto!…
– E o meu cabelo a arder
nas mãos do arlequim! –
Não! Não!
Foi um desejo apenas
e que eu desminto!
E rasgo-lhe com fúria
as vestes de cetim.
……………………………………
Olho ainda o espelho
pálida e cansada…
E já longe,
iluminado de luar
álgido e frio,
o meu Anão de olhar sombrio,
lá está
a contar
o meu segredo
num murmúrio sem fim,
ás árvores do Medo
do meu jardim!

Judite Teixeira representa um caso singular na história literária em Portugal não só pelo escândalo suscitado aquando a condenação e apreensão da sua coletânea poética de 1923, "Decadência", mas também pelo injusto esquecimento da sua contribuição literária, especialmente no discurso modernista das letras portuguesas. No entanto, como observou um dos poucos críticos que soube avaliar objetivamente a sua escrita - o poeta António Manuel Couto Viana - Judite Teixeira poderia ser considerada, dentre as escritoras portuguesas, a "única poetisa modernista". Para além de revisitar este momento crítico da escrita feminina - de particular relevância histórica nos estudos sobre a mulher em Portugal este ensaio tentará reavaliar a sua contribuição literária, não só no contexto da sociedade portuguesa, mas também no contexto mais amplo do despertar do mundo moderno.
René P. Garay

Fontes:

http://www.arlindo-correia.com/220705.html

http://elestablodepegaso.blogspot.com/2008/10/normal-0-21-false-false-false.html

http://www2.fcsh.unl.pt/facesdeeva/eva_arquivo/revista_5/eva_arquivo_numero5_c.html