CORSINO FORTES.

De boca concêntrica na roda do sol

Depois da hora zero E da mensagem povo no tambor da ilha
Todas as coisas ficaram públicas na boca da república
As rochas gritaram árvores no peito das crianças
O sangue perto das raízes E a seiva não longe do coração

E

Os homens que nasceram da Estrela da manhã
Assim foram
Árvore & Tambor pela alvorada
Plantar no lábio da tua porta
África
mais uma espiga mais um livro mais uma roda

Que

Do coração da revolta
A Pátria que nasce
Toda a semente é fraternidade que sangue

A espingarda que atinge o topo da colina
De cavilha & coronha
partida partidas
E dobra a espinha
como enxada entre duas ilha
E fuma vigilante
o seu cachimbo de paz
Não é um mutilado de guerra
É raiz & esfera no seu tempo & modo
De pouca semente E muita luta

Corsino Fortes nasceu na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, em 1933. Formou-se em Direito (em Lisboa), fez parte de alguns governos de Cabo Verde e foi embaixador em Lisboa. De 2003 a 2006, foi Presidente da Associação dos Escritores de Cabo Verde. Tem vários livros publicados, entre os quais Pão e fonema e Árvore e tambor. O poeta é detentor de uma obra considerada inovadora e de valor singular para a trajectória cultural de Cabo Verde, que expressa uma nova consciência da realidade cabo-verdiana e uma nova leitura da própria tradição cultural do Arquipélago.

In: http://www.ipleiria.pt/portal/ipleiria?p_id=60600