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Carlos Garcia de Castro


PARA OS METAIS

… e a Terra se esburgou do seu destino
primitivo – o fogo.

Dela surgiu a crosta dos Metais,
que as minhas mãos e braços sustentaram
por todo o sempre no abrir das espadas,
meus dedos e nervuras alimaram,
transfiguraram, para adornar mulheres.

De ferro é feito na fornalha hirsuta
– suor vidrado! A minha face é espírito,
o anel das rodas, churrião antigo,
fundos os cravos, ferraduras, luas
que as bestas e os tirantes adormecem,
chiando às cristas do restolho, exactas.
E a mesma força circular, de coroa,
se abraça à volta dos tonéis de vinho.
Roda-se à nora para encher as quartas,
pratas de folha e zinco, lineares,
martelam-se e bigornam-se os arames,
hóstias de cobre iguais ao sol-poente
durante toda a tarde, com chocalhos,
sinais do gado, a união dos homens.
No ar se alastra a anunciar a paz
dentro da vila o som dos caldeireiros.

Temperada a almotolia ao rés das trempes,
– cheira a coentros, hortelã , poejos
no barranhão à espera dos ganhões.

Que eu sempre resguardei com lealdade,
sofrida a Terra em foices e gadanhas,
todos os bafos e sulfúrias hirtas
– no Alentejo, condição de fogo.