Revista TriploV . ns . nº 64. abril-maio . 2017 . INDICE.
Homenagem do Triplov aos Capitães de Abril


Maria Estela Guedes
(Portugal, 1947). Poeta, dramaturga, historiadora da História Natural e da Maçonaria Florestal Carbonária, além de exegeta da obra de Herberto Helder.
Membro da Associação Portuguesa de Escritores, do Instituto São Tomás de Aquino e da Associação 25 de Abril.

Foto: José Emílio-Nelson 
Membro das Comissões Interinstitucionais da Academia Lusófona Luís de Camões e do Instituto Fernando Pessoa - Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas. Faz parte do Conselho Editorial da revista Incomunidade, e dirige coleções na editora Apenas Livros, entre elas cadeRnos suRRealistas sempRe. Tem umas dezenas de títulos publicados. Proprietária e diretora do Triplov.

MARIA ESTELA GUEDES

Projeto "Sarmento Pimentel", balanço
Chegámos ao fim dos trabalhos no Projeto TriploV "Sarmento Pimentel", é por isso altura de fazer o balanço de uma travessia muito conturbada nos trabalhos. O mais recente e grave distúrbio verificou-se com a hospitalização do nosso camarada na equipa que montou a iniciativa "Sarmento Pimentel - Um século de História", Coronel Nuno Santos Silva. O que mais lhe desejamos são rápidas melhoras! Um grande abraço ao ex-Capitão de Abril.

Movimento dos Capitães, 25 de Abril, a maior parte dos leitores é demasiado jovem e estrangeira para saber o que isso é, então direi que, desde 1910, com a implantação da República, a agitação foi quase permanente em Portugal, até aparecer em cena uma Ditadura Militar, e logo a seguir um ditador-mor, Salazar, que manteve o país acorrentado, fora da via do progresso e da democracia, durante 40 anos. Houve diversas revoltas e tentativas de restaurar os ideais democráticos dos primeiros republicanos, a algumas das quais Sarmento Pimentel está associado, mas todas falharam, até ao dia 25 de Abril de 1974, em que o Movimento dos Capitães, sem sangue, pôs termo à longa e escura ditadura e repôs os ideais do também Capitão João Sarmento Pimentel que, nas palavras de Victor Cunha Rego, em artigo do jornal República de 16 Maio de 1974, o considera precursor dos capitães de Abril.
Este número da Revista Triplov é dedicado aos Capitães, não por causa do 25 de Abril, apesar de no Triplov ser habitual festejarmos o dia, e até já aqui tivemos, a contar a história da fotografia, aquela criança que põe o cravo na espingarda (Amílcar Mateus), símbolo da Revolução.
Não, vou ser franca, presto homenagem aos Capitães, hoje coronéis e generais, por terem fundado parceria com o Triplov, para levarmos a cabo a iniciativa  "Sarmento Pimentel - Um século de História". Seguindo o link, ainda vão a tempo de participar nas três sessões dialogantes e de ver a exposição. Este ponto é central, revela a abertura dos militares à Internet nas mãos da sociedade civil, e o desejo de manter viva a imagem de um homem que é uma referência não só para os militares, antes para todos, quer pelo seu heroísmo, quer pela sua integridade.
A instituição mais significativa a que o Triplov podia ter levado o projeto só podia ser a casa dos Capitães de Abril. Posto isto, fecho o Projeto TriploV "Sarmento Pimentel" com chave de ouro e deixo como balanço alguns considerandos.

A obra de João Sarmento Pimentel está na maior parte inédita. Nós não fizemos o levantamento integral da édita, faltam artigos de jornal e revista, quer em Portugal quer no estrangeiro, sobretudo Brasil. Não houve falta de documentação para o projeto, há muita, apesar de a maior parte se encontrar inacessível, dada a localização da fonte, por pertencer a particulares e até por constituir testemunho vivo, dos que conheceram o Capitão mas nós não tivemos oportunidade de conhecer.

Porque o volume de documentos é imenso (só no seu espólio, na Biblioteca Municipal Sarmento Pimentel, em Mirandela, há três mil espécimes epistolográficos catalogados), inacessível o local em que se encontra, porque a tarefa de tornar acessível, através da catalogação e disponibilização dos documentos na Internet é da competência de instituições, e porque eu não tenho tempo de vida para tudo ler e estudar, mesmo que o material estivesse acessível, e porque outros projetos requerem a minha atenção, digo um relativo adeus a João Sarmento Pimentel, pessoa que passei a admirar pela sua virtude - virtus na completa semântica da palavra latina, em que se salientam o poder, a coragem, a excelência moral e intelectual. Foi um homem que eu desejava ter tido por Mestre, e que por tal tomo, sempre que me é cicerone da História de Portugal, na mais importante das suas fontes  primárias, as Memórias do Capitão, e o que diz nas entrevistas de Norberto Lopes, em João Sarmento Pimentel - Uma geração traída.

É necessário proceder à edição da epistolografia (vão ser publicadas cartas trocadas entre Sarmento Pimentel e Jorge de Sena) pois são um repositório de informação do maior relevo para a História do século XX em Portugal, com ramificações para o Brasil e outros países. Basta Sarmento Pimentel ter sido um dos co-fundadores do Partido Socialista, para se adivinhar que sobretudo a esquerda tem muito a ganhar se puder ler o que ele escreveu; alguns documentos estão em linha no site da Casa Comum / Fundação Mário Soares, mais diretamente relacionados com o PS. Sarmento Pimentel presidiu à Acção Socialista em São Paulo e antes disso ao Centro Republicano Português. Algumas fotografias que usamos na exposição pertencem ao espólio da Casa Comum e retratam encontros de Sarmento Pimentel com velhos camaradas e amigos, no pós-25 de Abril, quando veio do Brasil para celebrar a Revolução, receber justas homenagens e respirar a Liberdade que para sempre acabaria com a mágoa de ser um exilado, com o sentimento de exclusão e impotência por não poder entrar no seu próprio país. Agora podia voltar, mas já era muito tarde, estava com oitenta anos, a família constituíra-se e fixara-se definitivamente no Brasil.

É necessário também reeditar as Memórias do Capitão na versão completa, a portuguesa, de 1974, e o livro de Norberto Lopes, João Sarmento Pimentel, uma geração traída, que também só viu a luz do dia em Portugal em resultado do Movimento dos Capitães. Os livros estão esgotadíssimos. Nos sebos do Brasil pude eu adquirir dois exemplares, mas tiveram de ser pagos na origem, por Ana Paula Ferreira, jovem carioca a quem agradecemos a atenção e a oferta. Esses livros são raridades. Os exemplares das Memórias do Capitão em primeira edição, São Paulo (1962 na datação do prefaciador, Jorge de Sena), além de raridades, são decerto na maior parte espécimes de bibliófilo, pelas razões que o bibliófilo avaliará, quando abrir o seu exemplar.
 
 
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