REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 49 | dezembro-janeiro | 2014-15

 
 

 

 

FRANCISCO JOSÉ 
CRAVEIRO DE CARVALHO
Lembro-me 
(segundo Joe Brainard)

 

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
Apenas Livros Editora  

Arte - Livros Editora

 
Domador de Sonhos  
Agulha - Revista de Cultura  
Revista Incomunidade  
 
  ÍNDICE
 
 

Pictures she didn’t show anyone 

Ouve-se com frequência que não se precisa de muita coisa para viver. Muitas vezes a frase é dita por quem tem ou já teve muito. Certo é, porém, que algumas vidas teriam sido  diferentes se as pessoas tivessem tido um pouco mais. E, daí, quem sabe? As histórias de vida, nem todas, teriam sido menos apelativas.

A primeira vez que ouvi falar  de Vivian Maier foi num curto artigo, acompanhado de três fotografias, na revista 2 do jornal Público, de 13 de Abril de 2014.

As fotografias caem na categoria Street Photography, um tipo de fotografia que tem que ver com lugares públicos, não pressupondo, necessariamente, cenas de rua ou um ambiente urbano.

Quanto a Maier, passou a maior parte da sua vida profissional como ama. Ao mesmo tempo, começando por volta de 1949, com uma máquina muito rudimentar, foi desenvolvendo um grande interesse pela Fotografia.

Ao andar de casa em casa, as  condições para desenvolver o seu trabalho seriam  precárias. Todavia, com os Gensburgs, em Chicago, com quem esteve 17 anos,  teve direito a casa de banho própria e, mesmo, a uma câmara escura, o que lhe permitiu fazer a revelação e a impressão dos seus rolos. Quando as crianças da família cresceram e ela deixou o emprego, começaram a acumular-se os  rolos por revelar ou imprimir.

O material, ou parte, resultante da sua actividade acabaria por servir para pagar dívidas em 2007, relacionadas com as rendas de cacifos onde o guardava,  dadas as grandes dificuldades financeiras por que passava. John Maloof, e aqui começa a parte atractiva da história,  viria a adquirir uns 40 mil negativos numa leiloeira, pela quantia de 380 dólares. Neste momento a sua colecção abrange entre 100 a 150 mil negativos, 3000 impressões, centenas de rolos etc, o correspondente a 90% do espólio. Outro coleccionador,  Jeff Goldstein, recuperou o resto, 12500 negativos, 2000 impressões etc . 

Muito do trabalho de Vivian consiste em auto-retratos.

   
 
   
 
   
 
   
 

Sobre a vida de de Maier não se sabe muito. Maloof resume assim o modo como crianças de quem cuidou a olhariam mais tarde:

She was a Socialist, a Feminist, a movie critic, and a tell-it-like-it-is type of person. She learned English by going to theaters, which she loved. ... She was constantly taking pictures, which she didn't show anyone.

Dedicado a Maier há hoje um site magnífico http://vivianmaier.com e já foram publicados vários livros.

John Maloof editou  Vivian Maier: Self – Portraits e Vivian Maier: Street Photographer.

Vivian Maier: Out of the Shadows, por Richard Cahan e Michael Williams, é um livro  mais extenso, se não mais biográfico. As fotografias nele usadas pertencem à colecção de Goldstein.

O trabalho de Maier tem sido comparado com o de grandes fotógrafos como Diane Arbus, Lisette Model e Walker Evans.

Embora não tenha tido acesso a qualquer dos livros, não posso deixar de pensar num outro livro de auto-retratos fotográficos, Lee Friedlander: Self Portrait. Não seria perda de tempo tentar  estabelecer algum tipo de comparação  entre os dois livros. 

   
 
   
 
   
 

De outro trabalho de Vivian, para ilustrar esta nota, escolhemos

   
 
   
 
   
 
   
 

Não sabemos se, num qualquer momento da sua vida, Maier não pegou numas tantas das suas fotografias e as mandou a um fotógrafo famoso, para um jornal ou para uma revista. Custa a acreditar, melhor, a compreender,  que o não tenha feito.

Não saberia avaliar a qualidade das fotografias que tirava? Terá sido desencorajada, recebendo uma resposta negativa?

Ou talvez ela corresse apenas atrás do instante decisivo e isso lhe bastasse...

 

fjcc

   
 

  Francisco José Craveiro de Carvalho  (Portugal). Licenciou-se em Matemática na Universidade de Coimbra. Doutorou-se, mais tarde, com uma tese em Topologia e  Geometria, sob a supervisão de  Stewart Alexander Robertson, Southampton University, U. K.. Assume uma posição de alguma marginalidade em relação à divulgação daquilo que escreve. Traduziu poemas de Carl Sandburg, Jane Hirshfield, Jennifer Clement, Linda Pastan, Rita Dove..., publicados em opúsculos discretos, que circularam entre  os seus amigos.
 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL