REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 49 | dezembro-janeiro | 2014-15

 
 

 

 

FRANCISCO JOSÉ 
CRAVEIRO DE CARVALHO
Lembro-me 
(segundo Joe Brainard)

 

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
Apenas Livros Editora  

Arte - Livros Editora

 
Domador de Sonhos  
Agulha - Revista de Cultura  
Revista Incomunidade  
 
  ÍNDICE
 
  Lembro-me
 

 

Não creio que Paul Auster ande por aí a distribuir elogios, de forma impensada.

E, no entanto, escreveu 

I Remember é uma obra prima. Um a um, os chamados livros importantes  do nosso tempo serão esquecidos, mas a modesta  pequena pérola de Joe Brainard perdurará. Com frases declarativas, directas e simples, ele traça o mapa da alma humana e modifica de forma permanente a nossa forma de olhar o mundo. I Remember é, ao mesmo tempo, hilariante e profundamente comovedor. É também um dos poucos livros completamente originais que alguma vez li.” 

sobre aquilo que, à primeira vista, parece ser um caderninho insignificante.

I Remember é composto por pequenos textos de um só paragrafo, alguns um só período, começando todos com a expressão I Remember. Alguns exemplos: 

Lembro-me de quando a poliomielite era a pior coisa do mundo. 

Lembro-me da única vez que vi a minha mãe chorar. Estava a comer tarde de damasco. 

Lembro-me de quando fui de Marilyn Monroe a uma festa sob o tema “venha vestido como a sua pessoa preferida”. 

Lembro-me da primeira vez que vi televisão. Lucille Ball estava a ter aulas de ballet. 

Lembro-me do dia em que John Kennedy foi morto. 

Lembro-me de um professor de História Americana que estava sempre a ameaçar atirar-se pela janela se não acalmássemos. (Segundo andar.) 

Lembro-me de quando trabalhava numa loja de antiguidades/velharias e vendia tudo mais barato do que devia. 

Lembro-me de muitos meses de Setembro. 

Lembro-me de quanto tentei gostar de Van Gogh. E de quanto, por fim, gostei dele. E de quanto, hoje, não o suporto. 

Lembro-me de ler as cartas de Van Gogh para Theo. 

Lembro-me da delicadeza de Marylin Monroe em The Misfits. 

Lembro-me de James Dean e do seu blusão em nylon vermelho. 

Joe Brainard (1942-1994) foi escritor e artista plástico, associado à New York School.

 
   
 

Como artista o seu trabalho incluiu assemblagem, colagem,  pintura, desenho etc.

 
   
 
   
 
   
 
   
 
   
 
   
 

Uma grande frustração de Brainard, contudo, era não ser um grande pintor a óleo.

O trabalho literário de Joe está reunido em The Collected Writings of Joe Brainard, publicado por Library of America, 2013.

Incluímos, a acabar, três pequenos textos.

 

 

O Jardim zoológico 

Aconteceu uma coisa muito triste no jardim zoológico. Judy, a mãe do Bill, ficou muito doente e morreu. 

 

Se fosse Deus 

Se eu fosse Deus

lá em cima no céu

olhando para nós em baixo

acho

que não acreditaria

que realmente fora eu a fazer isto.

 

Poema 

Às vezes

tudo

parece

tão

oh, sei lá.




fjcc
 

  Francisco José Craveiro de Carvalho  (Portugal). Licenciou-se em Matemática na Universidade de Coimbra. Doutorou-se, mais tarde, com uma tese em Topologia e  Geometria, sob a supervisão de  Stewart Alexander Robertson, Southampton University, U. K.. Assume uma posição de alguma marginalidade em relação à divulgação daquilo que escreve. Traduziu poemas de Carl Sandburg, Jane Hirshfield, Jennifer Clement, Linda Pastan, Rita Dove..., publicados em opúsculos discretos, que circularam entre  os seus amigos.
 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL