REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 33 | novembro | 2012

 
 

 

 

 

C. RONALD

Poesia e pintura

Apresentado por Nicolau Saião

                                                    Imagem: C. Ronald, auto-retrato 
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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Caras/os amigos/as e confrades
 
  Numa carta de 2007 endereçada ao autor de "As Origens", livro com que em 1971 iniciou a sua Obra que hoje conta 16 títulos de primeira água, escrevi o seguinte: "C.Ronald é hoje por hoje um dos poetas que verdadeiramente contam a nível mundial.(...) é um dos poucos no Brasil a quem de facto assentaria bem o Nobel, entendendo-se por este galardão algo que seja muito alto e muito sério".
 
  Disse-o nessa altura numa carta e, depois, tive mesmo o ensejo de o publicar tanto no Brasil como em França, na Argentina, em Espanha, nos EUA e mesmo em Portugal. Numa dessas vezes recordei a ocasião em que, sendo um devotado leitor da biblioteca Calouste Gulbenkian, contactei pela primeira vez com alguns poemas seus - os únicos que durante muito tempo estiveram editados em Portugal - inseridos numa antologia de poetas brasileiros contemporâneos arrolada por autor luso.
 
  Ultimamente, pela mão da Bernúncia Editora (Florianópolis, Estado de Santa Catarina) saíu a colectânea "Bichos procuram buracos em paredes brancas", tomo de quase 500 páginas abrangendo poesia, teatro e textos de grandes autores mundiais traduzidos por CR, que recebeu na Revista do TriploV nº 31 um magnífico ensaio de Maria Estela Guedes, sucedendo-se a um outro, também esclarecedor e certeiro, da autoria de Renato Suttana dado a lume no nº 17 da mesma e num dos números da Agulha, a justamente conceituada revista que recebeu o Prémio António Bento por ter sido num dos anos o mais importante veículo cultural do país irmão.
 
 Na colectânea, em apresentação inserida numa das badanas (orelhas), diz Ledo Ivo (outro nobelizável por razões justificadas e considerado autor "essencial" pela Academia Brasileira de Letras: "Caro amigo e poeta C.Ronald - Foi numa casa rodeada de florestas e montanhas que li o seu "Caro Rimbaud". Foi num espaço de silêncio, longe de qualquer rumor, que ouvi a sua voz, e mais uma vez aplaudi a sua poesia misteriosa, distanciada dos lirismos correntes, e que é como um estremecimento do Absoluto. Um grande abraço do seu amigo e leitor, Ledo Ivo".  
 
 Ora, anteontem chegou-me do outro lado do mar um exemplar do catálogo da Exposição de escultura e pintura que o governo do Estado de Santa Catarina, por meio da secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte e da Fundação Catarinense de Cultura, em conjunto com o artista, levou a efeito no Museu de Arte de Santa Catarina.
 
 Dele extraio 3 quadros, além da introdução, e aqui os dou em anexo. E deixo igualmente dois poemas que retirei da sua vasta Obra.
 
 Por último, resta-me dizer: também no Catálogo é referido que, num arroubo de justa lucidez e justo apreço, um grupo de personalidades da cultura brasileira tem estado finalmente a propor C.Ronald para o Prémio Nobel. E este ficaria nobilitado - tal como ficou quando foi atribuído a Czeslaw Milosz, Juan Ramón Giménez, Jean Marie le Clézio, Thomas Mann ou Wieslawa Symborska, entre alguns outros mais.
 
 Que tenham um bom fim de semana, com muita paz e o comprazimento possível nestes tempos infaustos, é o que vos deseja com o proverbial abrqs o vosso
 
 ns 
   
 
 

C. RONALD

Retrato de família

 

Pais e filhos agrupam-se para a pose. Tamanho

é o sentido da permanência que o que vem de trás

perde-se na rapidez do flash. Ali, o sorriso

não faz barulho nos olhos, o detalhe suficiente

do que vivemos dá nome igual ao perdido.

 

Nenhum destino aparece inteiro. O mundo força

a estátua sobre aquilo que perece. Flores e regatos

são anos de alegria própria e a história da casa aberta

fixa o termo do reconhecimento por tudo que já

passou. Eis a foto. A soma dos anónimos

 

para alguém distante. Um cachorro sem consciência

aos pés dessa criança é a pura imagem da afeição.

Ela houve. Continua ainda e pode ser mais que o homem. 

 

                            * 

Morrer imitando o teu jeito de morrer

é possível se no meu corpo trago o teu encanto

Horas oblíquas do fim que surge da sombra

familiar abaixo do anjo prematuro e veemente

Tudo pode voltar e dar nome ao que senti sempre

A solidão virá modificada e a ausência não será

a mesma nem as coisas dadas por engano

Morrer no teu silêncio amando essa conjunção

que não havia ainda dentro ou fora do tempo

A terra tornou-se outra vez o sentido diferente

do teu corpo submisso ao meu tormento

Que coragem para resistir e emboscar a existência

Afortunada representação do lado novo e antigo

dos sentidos com a inocência feita por si mesma

Mas haja memória na galeria humana dos descrentes

que tudo oferece de mal ou bem no pior silêncio.

 

C. Ronald, in “Ocasional Glup”

   
 
   
 
   
 

   
 
   
 

 

 

 

© Maria Estela Guedes
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