REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2010 | Número 08-09

 

MANUELA NOGUEIRA

 

Três poemas

                                                           Manuela Nogueira
DIREÇÃO  
Maria Estela Guedes  
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Vacilante



Vejo o avesso de todas as decisões, os caminhos que neguei percorrer

vejo a nitidez de outras vidas que não escolhi por medo apenas.

Assim vivi a máscara do meu destino e da janela de um comboio

vislumbro o caminho que as minhas opções desviaram.

Sei que cada escolha é uma vereda de in/satisfação

um calcorrear de destinos a profanar, um rio sem nascente,

um estuário de abrangências imensuráveis.

Foragida de muitas quimeras, ouvinte de outras chamadas

cozo comigo segredos e recados por desvendar

espero como quem tem certezas profanadas.



Oriento-me pelo canto das aves, o calor do Sol,

oiço o rolar das ondas marulhando na praia,

na areia desenho corações apagados pelo vento

desdenhando minhas agudas indecisões

procuro ser honesta com a vida que me resta.

Emigrante de raças extintas, desconhecidas,

entrelaçada nas heras d´outras gerações

escolhi afinal minha vida interrogando-me.

Vacilante percorro labirintos intrigantes,

sou quem sou e isso me basta.

 
 
 
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   

  Setembro



Primeiras chuvas

os caracóis atrevem-se

a terra clama água



Mais uma pedra de gelo no whisky

o Outono apaga o Verão

há lágrimas numa prisão



Como um soldado vou para a guerra

a vida a cumprir inexorável

sigo uma estrela sem brilho



As calamidades, as partidas,

quem se deixa de ver para sempre

um rosário de lembranças…



Setembro, Setembro

mais uma pedra de gelo no whisky
 

  Reduzo-me a ser tua sombra



Se tanto estudei e li

para nada compreender

reduzo-me a ser tua sombra

cega, muda, sempre leal.

És a estátua da liberdade

eu moro mesmo a teu lado

morro (apenas) quando o sol se esconde.

Nesse lapso, não sei onde,

oiço um aviso, um recado.

Quando o sol de novo acorda

reduzo-me a ser tua sombra

cega, muda, sempre leal.

Sem literatura, sem esperança

num bairro de lata uma criança.
 

 

Manuela  Nogueira (Portugal)
Maria Manuela Nogueira Rosa Dias Murteira é poeta, ficcionista, autora de obras para a infância, colaboradora de jornais e revistas, rádio e televisão.
Co-fundadora da Fundação Fernando Pessoa.

 

 

© Maria Estela Guedes
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