REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2010 | Número 02

 

1. avançar dentro do corpo




há uma idade em que os pais
sobem as escadas das montanhas
varridas pelo vento,
e pegam ao colo as pedras, jogando à bola.
encimam
a igual distância
os desertos e a névoa,
- lugares tão antigos
onde procuramos a luz
de mão em mão -

um dia as pessoas aproximam-se das campas
para encontrar um tesouro escondido.
talvez a nós próprios falte um rosto
que não vemos.

DIRECÇÃO

 
Maria Estela Guedes  
   
REVISTA TRIPLOV  
Série anterior  
Nova Série | Página Principal  
Índice de Autores  
   
SÍTIOS ALIADOS  
TriploG  
Incomunidade  
Jornal de Poesia  
Agulha Hispânica  
TriploV  
O Contrário do Tempo  
   

 

MARIA AZENHA

 

Avançar dentro do corpo

 

                                                       

   
   
   
   
 
 
 
 
   
   
2. muros d´água




acabas de cortar as mãos. e não te toco.

junto os pedaços do chão.

de tu e eu resta um colar de voltas,

que vou compondo na copa do coração.

é primavera sem nenhuma árvore por perto.

depois colhemos pássaros mortos no lago

dos teus olhos.



esquecemos que se fecham em armários

os sapatos dos santos e

os campos escuros dos bosques.



com palavras de amor

(transparentes como o ódio)

dentro de frágeis frascos,

o que nunca te disse

é que o passado mata, quando volta.
   
 
3. os teares da noite




atravessam os teares da noite substâncias perigosas.
as partículas do ar sopram por debaixo das moradas
nomes nocturnos tecidos por relâmpagos.
os anjos colocam as vendas e as máscaras,
enquanto Deus escreve no firmamento
o hidrogénio do texto
por detrás da sua infinda lembrança.

a arquitectura do fogo
sela a boca.
   
  4. tarefa de poeta





o poeta é quem mais deve aclarar o dia
regar as palavras a horas diferentes
colher as ervas daninhas que minam o solo
colocar espantalhos no seio das janelas.
alguns ladrões vêm de noite pelo silêncio da lua
e nocturnos colhem vocábulos semelhantes a outros,
alguns colocados em falsos jarrões de bruma,

assinam por baixo com outra assinatura

o poeta tem o dever de reparar os estragos
com as graduações da matéria.

é a boca ávida de luz que os chama
 

 

Maria Azenha (Coimbra, Portugal)
Maria Azenha licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra.
Exerceu funções docentes nas Universidades de Coimbra, Évora e Lisboa.
Exerceu actividade docente no Quadro de Nomeação Definitiva na Escola de Ensino Artístico António Arroio. Escritora. Membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE)A
lgumas publicações: Folha Móvel, Pátria D' Água, A Lição Do Vento, O Último Rei de Portugal, O Coração dos Relógios, Concerto Para o Fim do Futuro, P.I.M. (Poemas de Intervenção e Manicómio), Poemas Ilustrativos de Pintura de Valdemar Ribeiro, Nossa Senhora de Burka, Poemas Ilustrativos - De Camões a Pessoa - Viagem Iniciática, A Chuva nos Espelhos, CD O Mar Atinge-nos", De Amor Ardem os Bosques. Participação em Bienais de poesia. Representada com poesia em
Adelaide Cabete e a Palavra encontrada”.(…)
Consultar :
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_azenha

http://estrelasegalaxias.blogspot.com 
email:
   maria.azenha@gmail.com

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
Rua Direita, 131
5100-344 Britiande
PORTUGAL