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Há dias que valem
a pena, quer para uma Instituição – como a Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, quer para quem tem a sorte de fruir das
aulas de Ana Luísa Janeira.
Formalmente, o
dia 31 de Março de 2011 foi a última aula de Ana Luísa; aula esta,
que decorreu na “sua casa”, mais propriamente no Anfiteatro da
Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa ao Campo
Grande. Estiveram presentes, muitos admiradores, amigos e
colaboradores do CICTSUL – Centro de Ciência Tecnologia e Sociedade
da Universidade de Lisboa (de que Ana Luísa foi fundadora) e de
outras organizações, tais como: CSIC Madrid, TriploV, DBQ-FCUL,
FSCH-UNL e SAHFC-FCUL.
Esta “última
aula” teve o condão de servir como sessão de homenagem à professora.
Em seu tributo discursaram amigos tais como: Antonio Lafuente com
“Memórias de la ciencia y espacios de la ciencia”; Estela Guedes -
“Viagens com Ana Luísa Janeira pela América do Sul”; Luísa Abrantes
- “Combate à insensibilidade cultural”; Lucíla Valente - “Semeando
ao vento. Uma Outra Forma de fazer Universidade”; Ana Carolina
Regner - “Ana Luísa Janeira e a sabedoria das colecções: o caso das
cartas darwinianas”. Foi ainda lido um texto de José Augusto Mourão
que se fez representar por Mário Fortes com “ Saberes, Percursos,
Saudades”, comunicações estas, rematadas pela própria Ana Luísa com
a “Última aula de: História e Filosofia das Ciências: configurações,
projectos e lacunas”.
Os presentes
puderam fruir de conhecimentos, em parte inéditos, bem como de
memórias por quem correu riscos por terras da América do Sul para
dignificar e ampliar ciência e partilha de saber. Foi com muita
curiosidade que ouvimos o relato de memórias na primeira pessoa, por
parte de Estela Guedes, sobre acontecimentos de quem viveu na pele o
assalto e rapto, pelos “amigos do alheio”, quando ambas as
investigadoras se deslocavam pela América Latina, em busca de novos
conhecimentos sobre Índios, Jesuítas e missões.
Outro gesto que
muito tocou os presentes foi a distribuição/doação da biblioteca
pessoal de Ana Luísa Janeira. Digo biblioteca pessoal pela
dupla razão de que a homenageada distribuiu: “Para recordar a minha
[de Ana Luisa Janeira] última aula 31.3.11”. (Vide imagem da nota
manuscrita e assinada por Ana Janeira).
Das obras
oferecidas que me calharam, cito: “O vazio do pensamento de Simone
Weil: ensaio de uma leitura interpretativa” / Ana Luísa Janeira.-
Porto: 1967, 230 páginas, correspondente à dissertação de
licenciatura em Filosofia, apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto.
Perante tão
precioso exemplar assinado com data da sua “última aula”, prometo
que vou preservá-lo religiosamente, bem como ler com vagar a
informação preciosa, assimilá-la e mesmo divulgá-la, tanto mais que,
logo no prólogo e agradecimentos da sua tese, descobri o nome do mui
saudoso Luís Ribeiro Soares que, tendo sido professor e amigo de Ana
Luísa, acabou também por ser meu professor em História das
Mentalidades da Idade Média nos anos 80.
Por toda a
experiência pessoal e académica de Ana Luísa, por todo o seu imenso
trabalho em fazer e divulgar ciência, pela gentileza e amizade, aqui
deixo mais uma vez expresso o meu reconhecimento pelo seu exemplo e
pelo convite para assistir à sua “última aula”.
Ana Luísa Janeira
teria agora todo o direito e o mérito de se fazer repousar após uma
carreira recheada de investigação, de aulas e de publicações, mas
tenho quase a certeza que vai continuar a dar-nos o privilégio de
contarmos com a sua presença e o seu exemplo de Vida.
http://novaserie.revista.triplov.com/ana_luisa_janeira/index.html
Alfredo Ramos
Anciães
Sintra,
04.04.2001 |