FICHAS  DAS  ESPÉCIES DESCRITAS POR 
J.V. BARBOZA DU BOCAGE

PORIFERA

Discodermia polydiscus

Bocage, 1869, p. 160: 1 exemplar incompleto e dois fragmentos de outro. Encontrados implantados numa esponja da família Halichondridae. Mares de Portugal. Bocage lança na sua sinonímia Dactylocalyx polydiscus Bowerbank, que este diz ser idêntica a uma outra das Antilhas, “appartenant au muséum britannique, que M. Bowerbank a l’intention de décrire sous le nom de Dactylocalyx polydiscus”. Bowerbank ainda não descreveu a esponja e Bocage já está a lançá-la na sinonímia da sua.

França, 1908: Discodermia polydiscus Bocage.

 

Hyalonema lusitanica Boc., 1864

1864, p. 1, Bocage não reconhece a Hyalonema como esponja. Hyalonema Sieboldi, depois H. mirabilis, de Gray, deixou de ser exclusiva dos mares do Japão. O sr. Gamitto, guarda-mor da alfândega, enviou de Setúbal 1 exemplar. Análise dos filamentos vítreos, nos quais nem se encontram vestigios de esponjas ou de outras producções parasyticas que se lhe adherissem. É um zoófito da família Hyalochaetides. Os filamentos são de sílica. Há pólipos aderentes, com 40 tentáculos, em vez de vinte, como nas Hyalonema do Japão. As esponjas que aparecem em alguns exemplares são parasitas da Hyalonema? Ou são as esponjas que segregam os filamentos vítreos da Hyalonema? O exemplar de Bocage não tem esponja. Discussão sistemática. Escrita híbrida: H. Poissietí Brandt. Nota adicional: recebe segundo exemplar do sr. Gamitto, colhido a 20 léguas da costa (Setúbal), entre 600 a 700 braças de profundidade. Não tem pólipos, só filamentos vítreos." A matéria queima-se inteiramente deixando um pequeno residuo composto na maxima parte de ferro e de uma pequena porção de silica." Não ousa dizer que seja uma esponja, mas não há dúvida de que a substância é animal.

 1865, PZSL, p. 662, Bocage: mais 2 exemplares completos, grande número de filamentos soltos, pertencendo a 3 ou 4 indivíduos. Setúbal. Nenhuma dúvida sobre a autenticidade do material. O tipo é de Gamito, o outro foi-lhe enviado pelo sr. Brito em Setembro de 1864. Os pescadores chamam-lhes cravaches de la mer (chicotes do mar). A sua hipótese a respeito du parasitisme des polypes é contrária à perfilhada por outros autores.

1867, PZSL, p. 18, Bowerbank: a Hyalonema lusitanica é a Hyalonema mirabilis Gray, 1830=H. sieboldii  Gray, 1835. A questão é no entanto saber o que é a Hyalonema: uma esponja ou um coral?  É uma esponja.

 1867, PZSL, p. 118, Gray: muda o nome do género, que criara trinta anos antes, passando agora a espécie de Bocage a ser Hyalothrix lusitanica. Hyalonema é o tipo de uma particular família de corais. Não é uma esponja. Hyalothrix é um género caracterizado por pólipos com 40 tentáculos em séries concêntricas, sendo a exterior a mais larga. Etc..

Obs.: Gray refere-se aos palitos (Palythoa), deve ter percebido que o senhor Gamito também os tinha ou punha.

 1867, PZSL, p. 528, Gray: estabelece relações entre Euplectella e Hyalonema. São esponjas. E. speciosa Gray, 1866. Filipinas. O mesmo na carta a Bocage. Lança na sinonímia de Carteria japonica as Hyalonema mirabilis de Bowerbank e de Schultze, não a sua - Japão. No novo sistema de classificação, desapareceram do mapa as esponjas vítreas, bem como a Hyalonema lusitanicum. IV. Acanthospongia (Armed or Hooked Sponges): 1. Euplectectelladae: Euplectella. Euplectella aspergillum  Owen (sin. E. speciosa Gray; Alcyoncellum aspergillum Bow.) - Hab.: Phillipine Islands. Corbitella (sin. Euplectella, sp., Gray, 1866): Corbitella speciosa (sin. Alcyoncellum speciosum Quoy & Gaymard, 1833). Cilindro oco em forma de falo. Carteria (sin.: Hyalonema, part, Bow., Schultze, Grant, not Gray). Carteria japonica (sin.: Hyalonema mirabilis Bow., Schultze, not Gray) - Hab. - Japan.

 1867, PZSL, p. 902, Bowerbank: “But alas for the stability of this ingenious natural-history romance! (…) All reasoning upon Dr. Gray’s imaginary animal now becomes superfluous, and we have only to deal with Prof. Bocage’s specimens of Hyalonema lusitanicum”.

 1868. AMNH, p. 119, W. Thomson - Hyalonema lusitanicum  Gray.

 1870, p. 69, Bocage: deve ao seu amigo Cunha Freire os mais belos exemplares de Hyalonema lusitanicum. Os pescadores de esqualos de Setúbal falavam de uns estranhos produtos que vinham presos aos anzóis e lembravam a Hyalonema por causa dos longos filamentos. Chamavam-lhes ninhos do mar. Pediu material, para se certificar. No mês anterior o sr. Cunha Freire enviara dois ninhos do mar em mau estado, depois três bons, ao todo cinco indivíduos. Primeiro pensou que fossem vizinhos da Holtenia Carpenteri  Wyville Thomson, 1869, que conhecia só de uma figura publicada nos AMNH. “Par une heureuse coincidence j’ai reçu quelques jours plus tard l’excellent mémoire publié récemment sur le même sujet par l’éminent professeur de Belfast dans les Philosophical Transactions, mémoire que je dois à l’extrème obligeance de l’auteur, et alors j’ai pu arriver à reconnaître sans la moindre hésitation dans nos nids de mer l’intéressante éponge silicieuse dont la découverte a été le plus brillant résultat des draguages exécutés en 1868 et 1868, à de grands profondeurs, dans les côtés de l’Ecosse”. Os cinco ninhos do mar são a Holtenia Carpenteri, também trazidos de grande profundidade (450 a 500 braças), e tinham sido pescados exactamente no mesmo local da Hyalonema lusitanicum.

França, 1908: Hyalonema lusitanicum.

BOURY-ESNAULT et al., 1994:  Hyalonema lusitanicum Barboza du Bocage, 1864.  Sem registos para Setúbal, em particular, sim para a costa portuguesa, a 2161-5000 metros de profundidade. Dizem que a espécie é difícil de reconhecer porque a descrição original se baseou no fragmento basal de um espécime.

REISWIG, Henry M., 2000 (comunicação pessoal): "Hyalonema lusitanica Bocage, 1864 is a valid species. It is probably the most common Hyalonema in the North Atlantic, with references to specimens from almost every expedition to have sampled this region". 

 

Lovenia borealis  Bocage, 1868

AMNH, 1868, p. 36, Bocage. Carta a Gray. 6 de Maio. Recebeu texto de Lovén sobre Hyalonema boreale. Sente-se vexado. Estava na posse de dois curiosos exemplares de esponja que pensava serem jovens de Hyalonema lusitanicum. Não são iguais à espécie de Lovén. Os exemplares desenhados por Lovén são jovens de Hyalonema. “I am now convinced that the Hyalonema is a sponge. As to the polypes (Palythoa fatua, Schultze), I regard them as parasites”. Carta a Gray.10 de Maio. Mudou de opinião. As duas esponjas não são jovens Hyalonema, sim adultos de diverso género a que vai dar o nome de Lovenia.

1869, p. 159, Bocage: 3 expls agarrados a uma pedra, trazidos de grande profundidade pelos pescadores de esqualos. Portugal. Bocage lança Lovenia borealis em sinonímia: Podospongia Lovenii. Dedicara o género a Lovén, de Estocolmo, mas o nome Lovenia já fora atribuído a um género de equinodermes. Lovén acaba de descrever uma esponja pequena distinta desta, Hyalonema boreale. Bocage entende que a de Lovén não pertence ao género Hyalonema.

França, 1908: atribui a Bocage (AMNH, 1868, p. 37) a Hyalonema boreale de Lovén e dá-a como sinónima de Lovenia boreale  Boc., não estabelecendo relações com Podospongia Lovenii - esta seria uma outra espécie de Bocage.

BOURY-ESNAULT et al., 1994:  Podospongia lovenii Barboza du Bocage, 1869