FRANCISCO PROENÇA DE GARCIA
Os movimentos independentistas,
o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974)

Capítulo II - Os movimentos independentistas
Na ÁFRICA NEGRA E EM ESPECIAL NA GUINÉ PORTUGUESA

3. - A génese do independentismo na Guiné Portuguesa.
O espírito de Bandung

A importância geo-estratégica do continente africano, para além da sua orla mediterrânea, foi praticamente posta em relevo, após a II Guerra Mundial e, especialmente, após a constituição da NATO. A África passou, desde então, a ser um teatro de operações ambicionado pelas superpotências, que tinham em vista atingir objectivos decisivos para a dominação mundial. Estas apoiaram as ideologias e os movimentos independentistas que lhes facilitavam a expulsão dos colonizadores europeus.

No campo político, pode dizer-se que foi a criação da ONU, em 1945, e a luta pelo voto que ali imperou, sobretudo a partir dos anos 50, que impulsionaram a descolonização de África. As independências do continente africano assegurariam um manancial de votos, na Assembleia Geral das Nações Unidas, àquele dos dois blocos que conseguisse captar a simpatia dos novos Estados.

Foi da formação de dois blocos opostos, e em equilíbrio de forças, que surgiu uma nova estratégia, que consagrou formas subtis de acção indirecta e que relegou para segundo plano a estratégia clássica. Esta estratégia trouxe um elemento novo, “(...) a penetração ideológica e a subversão revolucionária (...)”(1); com ela, a guerra transbordou do campo das armas para o campo das ideias e da reivindicação social, passando então as guerras a processar-se em âmbitos territoriais nacionais mas com amplitudes internacionais.

Assim, foi desenvolvida e apoiada em África a acção subversiva (que tal como um incêndio se propaga lentamente, com um foco aqui, outro além, acabando por “carbonizar” o Poder instituído) (2), conduzida por Estados que consideram a “(...) subversão em terra alheia como contributo útil para «a formação de um novo mundo» (...)”(3).

 

(1) António de Spínola, “O Problema da Guiné”, pág. 13, Agência Geral do Ultramar, 1970.

(2) Carl Von Clausewitz, ob. cit., pág. 578.

(3) Franco Nogueira, “Salazar - A Resistência (1958/1964)”, pág. 80.

 
 

 




 



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