Memória de Mário Cesariny
António Barahona

Na morte do poeta não há morte:
há candura,
um gesto dentro do azul
e o perfil recortado à tesoura.

Na morte do poeta não há morte:
há apenas cansaço
e à despedida, um abraço
para nova aventura.

Na morte do poeta não há morte:
há vida em excesso,
as mãos no sexo
e uma festa rediviva.

Na morte do poeta não há morte:
há viveiros de versões do mesmo tema
e um filosofema
em ferida.

Na morte do poeta não há morte:
há vivências que ninguém adivinha,
poemas pescados à linha
debruçado na torre sanguínea.

Na morte do poeta não há morte:
há só desejo de morrer
para poder viver
cada vez mais forte

Lxª. 9.XII.06
António Barahona

Em cima, da esquerda para a direita: Lima de Freitas, Mário Henrique Leiria, Eunice Muñoz, Fernando Alves dos Santos e Mário Cesariny de Vasconcelos. No plano inferior, da esquerda para a direita: Arthur do Cruzeiro Seixas, António Barahona e Diogo Caldeira . Foto de 1978.