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DE AUTORES

ALEXANDRE HERCULANO

Escritor e historiador português. Oriundo de uma família relativamente modesta, estudou no Colégio dos Oratorianos, de preparação para a Universidade, mas não seguiu estudos superiores por falta de recursos. Em vez disso, Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo frequentou a Aula de Comércio, curso médio criado pelo Marquês de Pombal. Em 1831, tendo-se envolvido na conspiração de 21 de Agosto contra o regime absoluto de D. Miguel, foi obrigado a exilar-se em Inglaterra, e depois em França, aí contactando com as novas correntes literárias dos dois países, que o influenciariam decisivamente. Em 1832 regressou a Portugal, à Ilha Terceira, de onde embarcou para o Porto (Mindelo), na expedição organizada por D. Pedro. Militarmente activo no cerco do Porto, organizou depois a biblioteca pública dessa cidade, demitindo-se em 1836, aquando da Revolução de Setembro, pois, tendo jurado fidelidade à Carta Constitucional outorgada por D. Pedro, não podia aceitar a Constituição de 22 que os setembristas tinham feito renascer. Fixou-se então em Lisboa, datando desse ano o folheto A Voz do Profeta, de intenção polemista. Em 1937 aceitou dirigir a revista O Panorama.

Em 1839 foi nomeado por D. Fernando (marido de D. Maria II) director das Bibliotecas Reais da Ajuda e das Necessidades. Em 1840, foi eleito deputado pelo Partido Cartista, mas, desiludido com a actividade parlamentar, abandonou o parlamento no ano seguinte. A partir de então, dedicou-se aos seus trabalhos literários e históricos, publicando muitas das suas obras.

Envolveu-se em intensas polémicas, tendo a sua História de Portugal (cujo 1º volume saiu em 1846) suscitado o desagrado do clero, cuja intervenção na política nacional o autor, embora crente, desaprovava. Em resposta, Herculano publicou alguns artigos, e a sua posição esteve depois na génese da História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-1859).

A partir de 1851, após o golpe de Estado que derrubou Costa Cabral, Herculano desenvolveu intensa actividade política. Colaborou nos jornais O País e O Português. Foi eleito presidente da Câmara de Belém. Em 1855, foi eleito vice-presidente da Academia Real das Ciências, cujo presidente era o rei, e, no ano seguinte, colaborou na redacção do programa do novo partido, o Partido Progressista Histórico.

A sua colaboração na redacção do código civil português, entre 1860 e 1865, envolveu-o em novo confronto público, pela sua defesa do casamento civil a par do religioso. Em 1866, casou-se, retirando-se para a sua quinta em Vale de Lobos, onde se dedicou à agricultura. No entanto, não se afastou totalmente da vida pública. Interveio ainda em questões nacionais, como a proibição das Conferências do Casino, e reuniu em volume alguns dos seus textos polémicos.

Um dos mais prestigiados homens de cultura em Portugal, nos seus últimos anos de vida, dada a integridade e coerência que o país lhe reconhecia, recusou as várias condecorações e honras com que as autoridades oficiais quiseram distingui-lo. Morreu vítima de uma pneumonia contraída durante a viagem que realizou a Lisboa, em agradecimento a D. Pedro II, pela visita que este lhe tinha feito a Vale de Lobos.

Como escritor, a formação de Herculano é plenamente romântica, marcada não só pela cultura francesa e inglesa, com que contactara directamente durante o exílio, mas também pelos escritores alemães, que desde cedo conhecia. Da sua obra são indissociáveis o contexto histórico da época e a sua posição na vida pública. Os seus primeiros poemas foram publicados em 1838 com o título A Harpa do Crente, a que se juntaram, em 1850, alguns poemas inéditos, dando lugar ao título Poesias. A sua poesia, de cariz meditativo, reflecte por vezes sobre os horrores da guerra civil, a par de outros temas, como a morte, a liberdade humana ou Deus. Como romancista, introduziu em Portugal o romance histórico, sob a influência de Walter Scott e Victor Hugo, localizando as suas obras sobretudo na Idade Média, objecto privilegiado da sua investigação histórica e, segundo os preceitos do Romantismo, origem e fundamento da identidade nacional. Foi colaborador de inúmeros jornais, tendo alguns dos seus romances saído em fascículos na imprensa, como era habitual na época.

Como historiador, esteve ligado às questões fundamentais do período em que viveu. Defendendo os ideais do liberalismo, afastou-se da concepção da história feita por reis e heróis, preocupando-se antes em analisar o papel das colectividades e das instituições na evolução do país. O seu sentido crítico, apoiado na investigação documental, levou-o, por exemplo, a refutar o milagre de Ourique, reacendendo a sua polémica com o clero. Trabalhou no Portugaliae Monumenta Historica, a que se dedicou entre 1856 e 1873. Como jornalista, criticou o funcionamento das instituições, bateu-se por reformas no ensino, na agricultura e na literatura. Defendeu acesamente o municipalismo, que via como a solução político-administrativa mais adequada ao país e aos seus ideais.

Alexandre Herculano escreveu obras de poesia (A Voz do Profeta, 1836; A Harpa do Crente, 1838; e Poesias, 1850), de ficção (Eurico, o Presbítero, 1844; O Monge de Cister, 1848; Lendas e Narrativas, 1851; O Bobo, 1878; O Pároco da Aldeia, 1844; Cenas de Um Ano da Minha Vida e Apontamentos de Viagem), de história (História de Portugal, 1846; História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, 1854), ensaios e textos de polémica (Eu e o Clero, 1850; Solemnia Verba, 1850; Opúsculos, 1873; e Estudos Sobre o Casamento Civil, 1866) e deixou uma vasta correspondência (Cartas, dois volumes, 1911-1914; Cartas Inéditas de Alexandre Herculano, 1944 e Cartas de Vale de Lobos, três volumes, 1980-1981).

Considerado a personalidade mais completa do primeiro romantismo português, teve um papel fundamental, não só na literatura, mas também na historiografia do país.

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Alexandre Herculano


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