TERESA FERRER PASSOS
Em busca da alma

Convoquem a Alma é o título de um novo livro de F. Carvalho Rodrigues (Publ. Europa-América, 2ª ed. 2005). Um título invulgar, sobretudo quando é um cientista a escrevê-lo. Desde sempre que a ciência se sentiu vocacionada para dar alicerces a um saber auto-suficiente e exclusivista. A descrença nos valores morais e religiosos ergueu-se no século XVI com Rabelais. Mas Galileu, ao substituir a teoria geocêntrica pela heliocêntrica, tornou a ciência o baluarte da guerra à crença em Deus e, em geral, às religiões reveladas.

Contudo, um cientista como Newton, no século XVIII, apesar das suas descobertas científicas espantosas, terminou os seus dias embrenhado nas questões teológicas que o apaixonavam. No século XIX, Darwin, com as suas teses evolucionistas sobre as espécies, rumou ao ateísmo, como se observa, sem dúvida, nos nossos dias.

O consumismo exacerbado aliado ao materialismo que a ciência propaga consolida-se com as novas tecnologias da informação das redes cibernéticas, condutoras ao fim da moral. E isto acontece sob a capa de uma progressiva liberdade individual. Liberdade mais virtual do que real, ao atraiçoar os mais altos valores da dignidade humana.

Neste ambiente em que a ética é substituída pela estética, ou seja, em que os princípios morais são esquecidos ante as cibernéticas imagens simuladas nos computadores, surge este livro que o autor, um cientista da alta tecnologia espacial, intitula, significativamente, Convoquem a Alma.

Não há dúvida de que se levantam vozes de saber indiscutível a favor do humano, mas a verdade é que são poucas. E são poucas porque logo são asfixiadas por uma comunicação social que não lhes dá espaço. Silenciadas pelo ruído das televisões que embrutecem mais do que educam, não têm audiência senão muito limitada.

Resta-nos a esperança de que essa minoria continue de pé, sem medo dos silêncios das massas ou das elites cobardes, porque temem perder, se derem a palavra também àqueles que não pactuam com eles. Acerca do sentido do «nada» de que tanto falam os cientistas, como se assim pudessem concluir que Deus não existe, F. Carvalho Rodrigues, autor de Ontem, Um Anjo Disse-me, escreve, com toda a simplicidade: «É a partir da estrutura do nada que criamos tudo»(…); «A estrutura do vácuo desencadeou o Universo no seu momento de criatividade: o big-bang» (pp.9-10).

Esta obra visa esclarecer as pessoas que não estando dentro dos meandros em que se inscrevem os cientistas, julgam que o ser humano é apenas um conjunto de átomos desmoronados pela morte, ou seja, reduzidos, um dia, a nada. Há algo que está para além das partículas mortais, há em cada ser humano, uma alma. É esta perspectiva que F. Carvalho Rodrigues procura ensinar com o seu livro Convoquem a Alma.

Não tenhamos medo de o afirmar, não pactuemos com aqueles que se ufanam de a negar. A verdade é que «é a partir da estrutura do nada que criamos tudo». Como acentua o cientista, logo a seguir, «talvez lá esteja a assinatura da Humanidade». E talvez se veja, daqui a muito tempo, «um pequeno canto de um pilar da futura estrutura de Deus» (p.11).

Não tenhamos medo de o proclamar, de o declarar bem alto, porque se o não fizermos, o inimigo que galopa, desenfreado, e pondo-se à nossa frente, vencerá.

Teresa Ferrer Passos