Nova Série

 
 

 

 

 

 

NICOLAU SAIÃO

Dois homens, dois poemas

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 1.  Poeta saudita condenado à morte por renunciar ao Islão

Ashraf Fayadh foi condenado à morte por um tribunal da Arábia Saudita. O país rege-se pela Sharia, Lei Islâmica, que acusa o poeta de blasfémia a Alá, ao profeta Maomé e renúncia ao Islão.

Ashraf Fayadh é um dos artistas mais conhecidos do Médio Oriente, já curou exposições na semana artística saudita Jeddah Art Week e na Bienal de Veneza

ASHRAF FAYADh

O poeta saudita Ashraf Fayadh foi condenado à morte por um tribunal saudita por ter alegadamente renunciado ao Islão, refere The Guardian.

A sentença que condena o poeta à pena de morte foi proferida a 17 de novembro, a quem foram concedidos 30 dias para recorrer da sentença. Face à decisão, Ashraf Fayadh alegou que não tem representante legal.

Segundo o Independent, o palestiniano foi detido em agosto de 2013, em Abha, na província de Asir, sudoeste da Arábia Saudita pela polícia religiosa do reino saudita. O país do Médio Oriente é regido pela Sharia (Lei Islâmica) e segundo uma fonte da associação Human Rights Watch que teve acesso ao processo, Ashraf Fayadh é acusado de abjuração e renúncia à fé islâmica, noticia o mesmo jornal. A detenção ocorreu depois de uma denúncia de que o poeta teria injuriado Alá e o profeta Maomé e insultado a Arábia Saudita e distribuindo ainda um livro de poemas que alegadamente promovem o ateísmo, clarifica o The Guardian.

O artista já havia sido condenado em maio de 2014 a quatro anos de prisão e 800 chicotadas pelo tribunal de Abha. Na sequência desta primeira decisão judicial o poeta recorreu, mas o recurso foi rejeitado e voltou ao banco dos réus o mês passado. O novo painel de juízes decidiu a sua execução, apesar de o escritor ter manifestado arrependimento.

“Fiquei realmente chocado, mas era de se esperar, embora eu não tenha feito nada que mereça a morte”, disse Fayadh ao The Guardian.

Ashraf Fayadh, de 35 anos, faz parte do coletivo artístico Edge of Arabia e é um refugiado palestiniano, apesar de ter nascido na Arábia Saudita. O poeta afirma que o livro em causa foi mal-interpretado pelas autoridades sauditas. Segundo o autor, a obra fala da sua experiência como refugiado palestiniano onde aborda questões culturais e filosóficas.

Para lá das questões religiosas, os amigos de Ashraf Fayadh acreditam que a condenação do poeta poderá ser uma retaliação: o artista publicou um vídeo que mostra a polícia religiosa do reino a atacar um homem em público.

*

Como homenagem a este poeta, que melhor que dar aqui este poema de Sophia de Melo Bryner Andresen?

Porque 

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão

Porque os outros têm medo mas tu não

 

Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam  mas tu não.

 

Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo.

Porque os outros são hábeis mas tu não.

 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam  mas tu não. 

2. Pode Obama evitar que este jovem seja decapitado?

Um jovem de 21 anos foi sentenciado à decapitação e à crucificação pública na Arábia Saudita, por ter participado em protestos religiosos. A mãe implora a Barack Obama que o salve.

Ali Mohamed al-Nimr tinha 17 anos quando foi preso. A pena de morte pode ser- lhe aplicada a qualquer momento.

Ali Mohamed al-Nimr, um jovem de 21 anos da Arábia Saudita, foi condenado a ser decapitado e crucificado em público. A sentença deveu-se à sua participação numa manifestação que ocorreu na cidade de Qatif. Os manifestantes defendiam a igualdade de direitos entre a população xiita, a que al-Nimr pertence, e a população sunita, que constitui a maioria no país.

Na primeira entrevista da sua mãe aos media estrangeiros, relatada pelo jornal inglês The Guardian, Nusra al-Ahmed qualifica a pena imposta ao seu filho como “selvagem” e vinda “da idade das trevas”. Nusra al-Ahmed acusou ainda as autoridades sauditas de terem torturado o seu filho na prisão:

Quando visitei o meu filho pela primeira vez não o reconheci. Não sabia se [a pessoa que visitei] era realmente o meu filho ou não. Via claramente que tinha uma ferida na testa, outra no nariz. Desfiguraram-no. Até o corpo, [que] estava excessivamente magro. [Quando] comecei a falar com ele [disse-me que] durante o interrogatório [foi] pontapeado, deram-lhe estaladas, os seus dentes caíram, claro… [e] urinou sangue durante um mês.

Agora, a mãe do condenado implora ao presidente norte-americano Barack Obama que o salve, fazendo uso da sua popularidade e das estreitas relações entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita. “[Obama] é o líder deste mundo (…) pode interferir e salvar o meu filho (…) Eu e o meu filho não temos nenhuma importância neste mundo mas apesar disso, se ele assumisse este ato (…) estaria a salvar-nos de uma grande tragédia”.

Nusra al-Ahmed, que segundo relata o Guardian acredita que a pena foi imposta ao filho para o punir pela sua fé xiita, mostrou-se ainda indignada com a pena:

Nenhum ser humano são e normal daria esta sentença a uma criança de 17 anos [Ali Mohamed al-Nimr tinha 17 anos quando foi preso pelas autoridades do país]. Não derramou qualquer sangue, não roubou propriedade nenhuma. Onde foram buscar isto? À Idade das Trevas?

A decisão do Supremo Tribunal da Arábia Saudita tem motivado críticas, vindas de vários pontos do globo. Entre os grupos de direitos humanos mais críticos da situação encontram-se a Amnistia Internacional e a Reprieve, uma organização britânica cuja missão diz ser “ajudar as pessoas que sofrem abusos extremos de direitos humanos às mãos dos governos mais poderosos do mundo”.

No Reino Unido, o primeiro-ministro David Cameron apelou na passada semana ao rei da Arábia Saudita para não aplicar a pena de decapitação e crucificação a Ali Mohamed al-Nimr. E, esta terça-feira, anunciou ter retirado uma proposta de quase 8 milhões de euros que havia feito à Arábia Saudita para um programa de treino aos guardas prisionais do país. A decisão também se deveu à retenção do pensionista britânico Karl Andree numa prisão da Arábia Saudita por posse de álcool: um caso que tem preocupado o governo britânico.

A embaixada da Arábia Saudita no Reino Unido já reagiu ao que classifica como “interferências em assuntos internos” do país, lançando um comunicado onde repudia a interferência do Reino Unido no sistema judicial “independente e imparcial” do “estado soberano” da Arábia Saudita.

  E para este condenado, vejamos o poema de Mário Cesariny:

 

O HERÓI

Herói é o meu nome.

Meu olhar frio, arguto
Não vê coisa que o dome.
Meu esforço rude e sano
Não desmaia um minuto.

Sou herói todo o ano.

Quando passar por vós, naturalmente,
com este meu ar simples e no entanto diferente
e no entanto diferente do ar do resto da gente
não digais: é fulano.
Dizei: é o Herói.

O herói, simplesmente.

 

(Notícias colhidas no OBSERVADOR)

 
 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.

Blog : Ablogando, em: http://ab-logando.blogspot.pt/