Nova Série

 
 

 

 

 

 

NICOLAU SAIÃO

Um homem consensual...

Certos comentadores de diversos sectores têm dado relevo, uns mais e outros menos, a actuações – tentando ou mesmo conseguindo contentar a generalidade dos vários campos – do estimado Professor Marcelo, candidato a presidente.

Vejamos: então não se lembram da frase canónica, já velha de alguns anos, que descrevia bondosamente o nosso Marcelão como o “Maquiavel à moda do Minho”? E a outra, também certeira, sem maldade e graciosa não ofendendo, que garantia que “Marcelo é como o cavalo de Átila; por onde passa a erva política não torna a crescer”? E a barba de condottieri renascentista que ele cortou quando decidiu apresentar ao mundo em particular e aos cidadãos lusos em geral um aspecto mais “respeitável”?

Trocado por miúdos: o nosso estimado professor, que como nenhum outro o poderia fazer se arriscava a ser uma caricatura quando, em estilo de adolescente traquinas, dava notas na TV a estes e aqueles, é um apreciador fundamentalmente da sua figura, de si mesmo, himself, tendo traçado para si o panorama dos mais altos voos.

E, não sendo um primário como Sócrates parece que era segundo comentadores (esse dizia despejadamente que isto ou aquilo era ou não era bom para a sua “carreira política”, lembram-se?), o nosso putativo presidente da Res Publica faz como os estrategas de alto coturno à boa maneira queiroziana: aqui deixa uma palavra mansa e esperta, ali uma pancadinha amistosa, acolá um trejeito cúmplice, além um afago para egos necessitados. Em suma: sabe-la toda, o maganão! Tem a inteligência hábil, a lábia de que um jesuíta se felicitaria, a estratégia bem própria para indrominar lusitanos desta época bendita. É um politico muito capaz!

Se invejo Marcelo (sugere um leitor do canto)? Claro que invejo, por Toutatis! Como eu gostaria de ter a sua agilidade mental, o seu golpe de rins metafísico (recordam-se da sua santa “lata”, na TV, quando cá veio de visita o benedito Ratzinger?)!

Infelizmente sou apenas um português de segunda, quiçá até de terceira…E embora não vá votar nele, pois estes conservadores que fazem rapapés à “esquerda” causam-me farnicoques, não deixo de me deslumbrar perante a suave matreirice deste manguelas. Deste Senhor.

Será que, após um próximo governo de signo estalinista iremos ter um presidente de timbre sacrista?

Evohé, Marcelo, os que vão aguentar a tua linda e justíssima habilidade te saúdam!

 

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Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.

Blog : Ablogando, em: http://ab-logando.blogspot.pt/