NICOLAU SAIÃO

Democracia e iluminação

LEMIOS, OUVIMOS E VEMOS – não podemos ignorar…

   Nos últimos dias a Assembleia da República, palco maior do regime ainda democrático em que vamos existindo, foi transversalmente atravessada por uma questão ligada a factos referentes à Maçonaria.
   E têm estado a ser divulgados factos assustadores e de alta gravidade. E a procissão ainda vai no adro como sói dizer-se.
   Detenhamo-nos um pouco, um poucochinho, sobre esta realidade…discreta.
   Mas entendamo-nos de uma vez por todas: a Maçonaria, regular, fundacional e de apelo ao conhecimento e à sabedoria iniciáticos é uma organização legítima e, mais do que legítima, humanizadora. Os seus membros, nessa medida e só nessa, têm direito à privacidade esotérica. Mas o que não pode nem deve suceder é, a pretexto dessa mesma sabedoria e conhecimento que a verdadeira maçonaria interioriza, criarem-se junções para controlar o Estado, a sociedade e o indivíduo.
   A Maçonaria começou por ser uma irmandade iniciática com fortes inflexões alquímicas tradicionais. Por isso pautava-se pela cooptação de homens de bem. Mais tarde, pela captura de elementos irregulares que nela entraram cavilosamente, transformou-se pouco a pouco numa associação de interesses cleptocrata e a partir de 1870 numa verdadeira associação irregular paralela a agremiações como a "Opus Dei" e o Grupo Bilderberg. Podem retorquir-me que ainda existe uma maçonaria regular, com propósitos sãos e de incursão no conhecimento válido. E é verdade. Mas a maçonaria Irregular, que é quem alegadamente manda em Portugal, é com frequência e de acordo com observadores e protagonistas políticos uma “organização intencional” e mesmo criminal que nada tem a ver com o conhecimento iniciático e fundacional. Deve ser investigada e, justamente, obviamente punidos os prevaricadores.
   Mas atenção: punida segundo as Leis da República, depois de averiguação e se com justiça se concluir que capturaram ilegalmente serviços da mesma República e que usam capciosamente lugares a que se alcandoraram com vilania para tripudiarem sobre a Sociedade em vivência democrática. Portugal não pode estar, se estiver de facto, nas mãos de associações irregulares manobradas por gente sem legitimidade. Aqui apelo não só aos representantes legais da República mas, também, ao Tribunal Penal Internacional - pois me parece caso de abuso grave a ser real o que se alega.
    Sublinho, para ficar claro: creio que é importante, no caso de incontrole que se divisa e assusta, dirigirem-se petições, mediante comissões formadas para o efeito ou por cidadãos individuais com amor à Nação, ao TPI para agir em Portugal, pois se indicia que as Leis democráticas estão a ser ilegalmente subvertidas por grupos de pressão com um poder que já nem se sabe aonde chega. E que estão mesmo já - veja-se as ameaças implícitas, da parte de certos “declarantes” a altos responsáveis da Nação - tombando numa verdadeira manobra indiciando tentativas de atentar contra a sociedade e o Estado de Direito constitucionalmente erguidos.
   O nosso querido País não pode continuar a viver sob esta alegada ameaça antidemocrática!
                                                                                   ns

 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.