NICOLAU SAIÃO

AS CRÓNICAS EVENTUAIS
1. BREVE RELANCE SOBRE A MÚSICA

A música, imagem da alma, como referiu com propriedade Frederich Herzfeld, tem sido uma segura acompanhante do Homem embora só tardiamente o tivesse sido da sociedade. Com efeito, se nos lembrarmos que a primeira escola de música – ainda estabelecida em termos muito artesanais – foi criada em mil e nove por Saint-Gall e que o primeiro público musical (ou seja, reunido com o fito de ouvir a música por si mesma) só começou a existir no ano de 1725, com a criação por Philidor dos chamados “concertos espirituais”, começaremos a perceber que, como uma âncora profundamente fixada no mar societário, a música enquanto fenómeno ou, para dizer doutra maneira, a música enquanto entidade criadora de acontecimentos partilhados por milhares ou por milhões é um dado relativamente recente, tanto mais que os meios técnicos de difusão só neste século se tornaram uma presença quase absoluta.

Nos dias de hoje, em que vivemos rodeados de sons e de timbres organizados de forma lógica (e relembro que foi somente no séc. XVIII, com Mozart, que o timbre começou a ser utilizado de modo significativo e criativo) é-nos difícil entender quanto a música estava afastada das grandes massas populares como fruição habitual e quotidiana. Como refere apropriadamente Konrad Riemann, para o geral da população havia, nos dias de semana, as frases musicais ritmadas ao jeito de pequenas canções que sublinhavam o trabalho feito ou a fazer; no domingo era a canção entoada quando havia festas mas, acima de tudo, a presença do canto religioso, frequentemente expresso mediante a monódia gregoriana.

Antes disso – e a memória mais afastada vai só até 40 mil anos, documentados no fresco de Ariège, na gruta dos Três Irmãos em França – a música seria um sublinhar de fastos mágicos ou ritos religiosos, pois era coisa de deuses e de alguns homens que se haviam subtraído ao seu presumido controle.

A música era apanágio do mago, do sacerdote ou do monarca, fracção espiritual que proporcionava um contacto directo com as divindades e os seus áulicos.

Contudo, no nosso tempo a música espalhou-se pelo imaginário, dando azo a muitas figurações sociais, políticas e psicológicas. Goebbels, por exemplo, com a sua fina intuição de patifório esclarecido, conhecia bem o peso que tem, ante os basbaques, o desfilar dum cortejo precedido duma poderosa charanga e fez disso um uso infernalmente manipulador. Também os nossos meios de comunicação de massas manejam bem esta matéria: repare-se na forma psicologicamente bem estudada com que nos bombardeiam os ouvidos, repetindo até à saciedade temas de sucesso (as mais das vezes de pouca qualidade) entoados por vedetas primárias que eles próprios criam. Aliás, o consabido ambiente musical dito ligeiro dispensa-me de maiores comentários.

Seja a música – como alguns pretendem – uma variante da linguagem ou, como outros defendem, a abstracção da linguagem levada às últimas consequências, a verdade é que constitui um dado incontornável do nosso tempo. É, em suma, um dos componentes do grande imaginário actual para além de ser, nos casos mais exemplares – como por exemplo em Bach, Mozart ou Schubert – talvez um sinal com que a “música das esferas” chega até nós para nos dar testemunho profundo do rosto secreto da eternidade.

2. IRENE, JOLMAR & COMPANHIA

Têm-se tornado quase gente do meu lidar estes e outros que, decerto pelos melhores motivos, procuram nobremente beneficiar-me das mais diversas maneiras…

Neste tempo de movimentos caracoleantes na “silly season” de fogos que nos perturbam ou empolgam e de outras amenidades semelhantes, os nomes que cito – e que chegam até mim interactivamente pela Net em e-mails não solicitados – divertem-me e até me confortam, pois sou pessoa muito agradecida a este acervo de gente que, não me conhecendo, busca contudo fazer de mim um homem de quotidiano feliz e, presumo, de mais agradável perfil social.

Este Jolmar, que é certamente um médico prodigioso, mediante sucessivas mensagens alerta-me para o facto de que posso aumentar a tonelagem de certo órgão de que disponho para diferentes utilizações anatómico-fisiológicas, qual delas a mais agradável ou aliviante. E isto sem me ter observado in loco, o que diz bem da sua competência profissional, maior no entanto que o seu grau de previsão e conhecimento. Propõe-se também fornecer-me, por um preço muito em conta, pequenos utensílios muito úteis em épocas de superpovoamento. De passagem, caso não esteja interessado nesse funcional produto, negociará comigo, em moldes extremamente vantajosos, fotos de mui gratificante recorte confeccionadas nos entrepostos adequados do multirracial Brasil.

Irene - por seu turno - que deve ser uma jovem sincera e ternurenta a atender ao que reza na sua espevitada publicidade - propõe-se ajudar-me a passar noites produtivas dum certo ponto de vista em Copacabana e, se necessário, em Belo Horizonte – e sem sequer precisar de sair do quarto e sem ter de estar a jogar primeiro à bisca ou ao dominó.

Não é isto dum desvelo perfeitamente comovedor?

E que dizer dos potenciais fornecedores de automóveis topo de gama ao preço da uva mijona, dos agentes de fenomenais casinos onde tudo é possível, dos especialistas honrados que me tratarão da contabilidade ou da potencial calvície com toda a competência e mansuetude? E que até me vão ensinar, se eu quiser, judo-savate ou karaté com maviosas aplicações?

E das experts de antigos países de Leste (a atender aos nomes característicos) que poderão fazer de mim um felicíssimo cavalheiro por toda a santa vida, caso eu aceda em dar-lhes o sim num qualquer cartório notarial? E o excelente gentleman que me propõe a aquisição de alguns portentos de raça cavalar? E o vendedor de vinhos de boa casta? E o das pulseiras e colares? E aquela que... Mas basta de publicidade gratuita, por ora!

Obrigado Irene, obrigado Jolmar! Obrigado a todos quantos se preocupam assim com a minha estabilidade terrena, com o meu equilíbrio psicológico e com o bem-estar do meu agregado biológico!

Há só um pequeno senão. Que lhes estraga desde logo o(s) interessante(s) negócio(s).

É que, por questões de cepticismo incontrolável, sou um péssimo utilizador de gestos samaritanos de tão poderoso quilate.

E, ainda por cima, o que é bem pior – que raiva e que desgosto! - o meu erário pessoal é mais ou menos tão pouco portentoso como o do nosso bíblico velho amigo Job...

3. AMÉRICA DE LUZES E SOMBRAS

                                                      

Para nós, amantes da Literatura Policial, a América tem sido o país das mil-e-uma-noites: nela brotaram flores de mistério e de maravilhoso, de mágoa e de tragédia através dos dias e dos anos, plantadas por escritores e visionários como Edgar Alan Poe, H.P.Lovecraft, Dashiel Hammett, August Derleth, Raymond Chandler, Charles Williams, William Faulkner, Melville Davison Post e tantos outros.

A América atravessámo-la nós com os vagabundos de Frank Gruber, com os “road runners” de W.R.Burnett. Contemplámos as vertentes do Ohio e os arranha-céus de Nova Iorque e Chicago até às montanhas do Colorado e aos desertos do Arizona e do Novo Máxico com Bill Ballinger, Hammond Hines, Burt Spicer e Jim Thompson. Excursionámos pelas vilórias e pelas pequenas cidades do Midlle West com Ellery Queen e Ray Bradbury, perdêmo-nos nas alfurjas dos portos e nos “fumoirs” de Chinatown e da Bowery com Craig Rice, Thomas Burke e um certo chinês filósofo de bigode a quem chamavam Charlie Chan e que estava ali de passagem vindo da sua  ensolarada Honolulu.

Numa certa noite de neve, sob a lua da Carolina do Norte, ouvimos tiros na estrada deserta por onde minutos antes haviam passado Bruce Robinson e Jonatham Latimer, que nos esclareceram o enredo.

Amámos e padecemos em quartos e em caves, de mãos atadas atrás das costas pelos “gangsters” de serviço. E fomos salvos “in extremis”, com o fato rasgado e o nariz deitado abaixo, por um tal Mickey Spillane e pelo seu amigo dilecto Mike Hammer. A iluminação brotou-nos da mente num momento de sagacidade perpetrada por um fulano que atendia pelo nome de Philip Marlowe. E foi homem a homem que derrotámos o mafioso crápula pseudo político que nos envinagrava o quotidiano, devido aos sábios ensinamentos dum tipo chamado Continental Op, em escaramuça devastadora numa viela do Bronx.

De manhãzinha, com o nosso elegante fato cinzento de discreta risca azulada, entrámos num palacete onde um ancião atormentado pela nostalgia nos pediu auxílio para encontrar o genro e fomos catrapiscados por uma “mulher fatal” que nos lançou na senda da aventura. De outra vez, acompanhando um sofisticado cavalheiro conhecedor de arte assíria e etrusca que nos disse chamar-se Philo Vance, tivemos a dita de nos introduzirmos nos ricos salões de Nova Inglaterra e de Manhattan e, em troca, de juntura com um tal Humphrey Bogart, levámo-lo até aos confins do Colorado, até à High Sierra, e aprendêmos a beber uns valentes “bourbons” sem ficarmos caídos de caixão à cova.

Com um jurista desembaraçado que nos disse apelidar-se Perry Mason, jornadeámos pelas artérias de Los Angeles e pelos desertos da Califórnia em busca de assassinos nefandos.

Ouvimos muitas vezes o bramir dos ventos, sentimos na pele o negrume das noites e a chicotada da chuva inclemente, enquanto – dissimulados a uma esquina, com a gola da clássica gabardina levantada – esperávamos a chegada dum companheiro empregado na mesma agência que se chamava Caution, Lemmy Caution e que era pai dum tal James Bond.

Tudo isto sentímos nessa América onde havia e há problemas e conflitos não resolvidos, mas onde também sempre houve esperança e alegria devido a umas  coisinhas simples, mas espantosamente importantes, que dão pelo nome de liberdade de palavra, de reunião, de pensamento e da sua divulgação não obrigada a mote, como sucede hoje em muitos sítios supostamente civilizados.

E, agora que se tornou moda ou característica pôr-se sistematicamente em equação essa América (toda a América?!) como símbolo do mal e da desgraça - principalmente para se sentir melhor a nostalgia dum Leste implodido e de novos bárbaros a quem se santifica como mártires - lembremo-nos de todos os mosaicos intemporais que ela criou através de membros humildes ou repletos de cultura viva que, hoje por hoje e amanhã por amanhã, se calhar só serão epigrafados e em altas vozes se, de novo, tiverem de dar a vida como em 39-45 para continuarmos a disfrutar de um pouco de futuro possível.

 

(Comunicação aos encontros de literatura policial de Vilalba)

4. EM TORNO DE JULHO

Julho é o mês da sétima lunação. No céu desafogado de Verão os planetas de mais larga translação quase se palpam no azul sedento do crepúsculo ou ao entrar da noitinha. Há no ar sons distantes de sinos, sons esparsos de aves e de animais enquanto os minutos correm como ecos longínquos no arfar da ramaria, no silencio fremente das casas.

Em Julho o campo e o mar são como um grande segredo inolvidável.

Julho é um mês ardente e mágico, palpitante e solitário que ainda guarda nas suas horas lentas o prestígio dos tempos idos em que não se sobrepunha o signo à coisa significada, os tempos quase inocentes em que a brutalidade e a manha não eram apenas uma nótula ou um excerto assinalando sem estranheza que este Mundo vai andando de cabeça e coração como se fossem objectos postiços de cartão ou madeira negra. Noutro contexto civilizacional, Julho era o mês em que os egípcios glorificavam Osíris e a sua corte de divindades menores, em que os gregos mais visitavam a pitonisa de Delfos, em que os dogons do Sudão se juntavam nos bosques à entrada da noite soberana para falarem na sua linguagem secreta, tão misteriosa e interdita que só aos iniciados e aos arcanos se podia dirigir. Era em Julho que nos montes de Palenque os ferozes deuses mexicanos se apaziguavam: virados para a constelação das Plêiades, coroados de penas de condor e de flores zapotecas, os sacerdotes quíchuas soltavam o seu intermitente grito de saudação misturado com o trilo das flautas.

Era em Julho que na Lusitânia, nas pedras de granito talhado dos campos de carvalhos, nas arribanas e nos casais, tudo se começava a preparar para receber depois a uva sangrenta geradora de maravilhas.
Mas Julho é também, a par do calor que o fundamenta, um mês claro e alegre, pleno de tranquilidade e gentilezas: a fruta é em Julho sumarenta e refrescante, viva e generosa como a própria poesia da natureza em volta. Há o figo e a melancia, o pêssego e o abrunho - que são frutos amáveis e solidários: o seu mistério se dissipa nas tardes de gula, posto que o mistério persista, porque no coração vegetal há sempre um minuto filho da terra trabalhada por muitas mãos calejadas, regada por muitos suores, cerzida por muitas linhas de cansaço e solidão. Mas quem humanamente se detém no gosto de devorar um figo luminoso numa fresca manhã campestre?

Em Julho a noite cresce como a tranquilidade no coração dos justos. E talvez, também, como o remorso, como o travo azedo duma acerba incomodidade no estômago dos que têm ou terão contas a prestar ao mundo e à consciência dos homens.

Mas Julho é igualmente o mês dos sonhos longos e dos amores mortos e renascidos: a própria memória das coisas é como um bicho entontecido num bosque, olhando febrilmente a penumbra rente ao mar e à montanha, correndo como uma raposa acossada nos caminhos pela trompa dos senhores de casaca vermelha que, na “pérfida Albion”, se dedicam a estes mansos desportos que felizmente entre nós não existem.

Em Julho a alegria é azul e a tristeza cinzenta. E às vezes mudam devido ao rumor persistente das recordações.

Diz-nos o "Almanaque do Pensamento Astrológico-Literário" que em Julho os luminares estão a vinte e seis graus de Cancer, na terceira casa, o que prenuncia período favorável para a agricultura, os negócios (da China?) e as representações nacionais no estrangeiro. Os trígonos de Neptuno e Saturno indicam, não obstante os bons presságios anteriores, dissensão nos meios políticos e administrativos e a conjunção de Marte com Jupiter augura aumento de renda nas repartições arrecadadoras do Governo, bem como desenvolvimentos peculiares nas autarquias, no comércio e na indústria com benéficos reflexos no exterior...

E por tudo isto se vê que Julho é também um mês cheio de senso de humor, de ironia astrológica e de mansuetude literária. E de perspicaz anotação política...

Por isso, agora que ele vai iniciar a sua corrida ascendente, louvemos com galhardia o mês de Baco e de Quetzalcoatl, o mês límpido dos grandes calores e das altas esperanças humanas e lusitanas - que quase nunca, infelizmente, se realizam.

5. SOBRE TRAVANCA REGO, A UM LUSTRO DO SEU FALECIMENTO

a. Encontrei-me com J.O.Travanca-Rego, pela primeira vez, no decorrer da inauguração duma exposição colectiva de obras de alguns pintores alentejanos – uns vivos, outros já falecidos – que organizei em Portalegre com o apoio do sector cultural dessa época do município desta cidade.

Já de há certo tempo nos carteávamos. Quem nos pôs em contacto foi o José do Carmo Francisco, que aliás me mandara poemas dele para um suplemento elvense que então orientava, o “Miradouro” do defunto Notícias de Elvas.

Assim que lhe li os versos de imediato me dei conta que não estava ali uma voz de vulgar amenidade. O mesmo que senti quando pela vida fora tenho estado a contas com outros autores que muito estimo: ele sabia o que dizia, quando o dizia e como o dizia. Não era (não é) e creio que não será por muitos anos e bons, um autor de lugares simétricos carreados por um talento urbano e suave. Em Travanca-Rego há o espanto, a garra, o meditar de muitos mistérios que na poesia e pela poesia se consubstanciam. E, no entanto, existe paralelamente uma harmonia que nos seus momentos mais altos nos comunica a certeza de que no seu discurso, na sua linguagem, tudo faz o verdadeiro sentido e é dotado de um padrão interior votado à permanência no tempo.

“A pena valerá que mais palavras/ suportem a voz nua a (des)dizer-se/ como selámos todos – enigmáticos - / uma dúvida perante o indizível?” diz-nos ele nos versos iniciais de “Comunicação”, o terceiro poema do seu “Sinais: 15 poemas de sideração e saudade”.

Siderado e saudoso do que não sabe definitivamente, me parece ter sido o tónus poético deste autor. Interrogativo e em certos casos crepuscular, em Travanca-Rego há como em muitos outros – mas nele com a acuidade dolorosa que o seu passamento veio confirmar – uma amargura filha dum espanto e duma melancolia abertos à procura, contudo, de novos ritmos e da maneira de dizer mais exacta, mais real e adequada aos diversos momentos daquilo que se sente e por isso se descreve. Descrição, comunicação… No fundo, doação de descobertas, de universos que se encontram no percurso que mal ou bem o poeta efectua quotidianamente a despeito das suas mágoas e das suas alegrias, ou para dizer doutra forma: os poemas que encontram a sua existência nessa escrita que se fornece a todos para que a leiam e assim revelem o mundo - que em todos vive, mas que o poeta encarnou.

Diz ele em “Ilha”, arrolado em “Cinco Incisões”: “Deixa-me contar o tempo/ pelos nós dos dedos. Nesta ilha,/ nem estrelas nem uma árvore!”. Mas o poeta efectua a religação mediante os poemas, as palavras que articula ainda que algo o destroce ou, melhor, tente destroçar-lhe o sentido do que cria. Travanca-Rego, sendo um autor de clara vocação lunar, nocturna e aforística, não se compraz nesse mergulho, não se recreia na convulsão: o que ele tenta é efectivamente encontrar uma medida para que esse caos seja reordenado e se extinga como tal, passando para o lado solar das propostas de vida plenamente erguida: “Grão de trigo,/ feitio de um ventre:/ Um planeta/ te habita?”, pergunta ele na primeira quadra do pequeno texto “Intimidade(s)” de “Extracto sensitivo”. Ou seja: o universo contido num pequeno elemento da vida vegetal, o que está no alto tornando-se igual ao que está em baixo como na Tábua alquímica da tradição e da sageza.

Travanca-Rego soube pesquisar o mistério, assim tentou devassar o segredo da esfinge. Perplexo ante os enigmas cumpriu contudo a sua íntima tarefa, se alguma tem o poeta.

Pôde, portanto, afirmar num trecho do seu “Sentido sexto”: “Onde habitasse o desespero alheio,/ deveria ter construído a minha casa!/ - Onde habitasse um pássaro sem asas/ pedindo uma árvore ou um veleiro ou/ pedindo simplesmente/ a mão do vento que sob o seu corpo/ - a afogar-se de mágoa -,/ transformasse em Espaço/ o seu canto em mágoas prisioneiro!”

E não é este, para um autor, um profundo projecto de vida que completamente nos reivindica de pé perante a morte?


b. Durante os sete dias que antecederam o seu falecimento, Travanca-Rêgo fez-me três telefonemas.

No último contacto que comigo estabeleceu, dois dias antes de partir, pareceu-me deprimido, com algo indefinível a limitar-lhe a comunicabilidade. Vinha perguntar-me se recebera a carta contendo um poema para a antologia sobre Abril, organizada por um confrade a quem servi de intermediário. Mostrava-se um pouco ansioso, como se temesse que os irregulares e frequentemente desrespeitadores correios lusitanos lhe frustrassem o intento.

Quando lhe referi que sim senhor, recebera o envelope, que gostaria de o ver e, para o dispor melhor, me dispunha mesmo a ir buscá-lo a Vila Boim, para em Arronches ou Portalegre degustarmos umas especialidades da região e conversarmos até às tantas, senti que se comovera. Respondeu-me, com um travo ameno na voz, que teria muito gosto nisso, mas andava a sentir-se mal. Eram incómodos no corpo e no espírito. Insisti em que o meu propósito, francamente lho confessava, era contribuir para as suas melhoras. Estava ele disposto a entrar nessa jornada? - tornei eu.

Em vão. Não que não lhe fosse agradável tal passeio mas...não se sentia nada bem.

À guisa de consolo, intuí, informou-me que estava praticamente pronta a estruturação do bloco específico que seria inteiramente preenchido com poemas meus - a dar a lume na Revista de Elvas, de propriedade municipal e que coordenava com Fernando Guerreiro.

Recomendou-me com alguma insistência que procurássemos que o poema saísse, quando saísse, sem quaisquer gralhas. “É um poema complexo...Tem aquelas recorrências... Veja lá isso, está bem?”.

Nos dois anteriores telefonemas preocupara-se com o andamento do “Fanal”, o suplemento de que era colaborador e que saíu durante três anos no “Distrito de Portalegre” e que posteriormente, por constrangimento da administração, foi suprimido. Informou-se também sobre o caso em que tivera parte, um processo contra três difamadores que nos haviam enxovalhado numa folha portalegrense.

Dê-lhe a informação que me pedia, tentando pelo meio alguma ironia fraternal.

A sua morte, comunicada de supetão, foi para mim uma dolorosa surpresa. Lá o fui acompanhar ao cemitério de Vila Boim.

Estava um dia de calor atabafante. O ambiente, para além da tristeza habitual em ocasiões assim, era soturno – um ambiente de pequena vila do Alentejo profundo e sem horizontes.

Durante vários dias aquelas horas que constituíram os funerais do poeta pesaram em mim como algo de irreal e de absolutamente não desentranhável.

6. UM LONGO CHORO NA NOITE

Chorar é transformar em lágrimas a angústia, a solidão, o pavor. Chora-se por medo e até por alegria, chora-se ao ver partir alguém que amamos, chora-se porque se partiu uma perna, um objecto, um sentimento.

Diz-se que um homem não chora, mas há os que sustentam que quem não pode chorar é já um autómato, um vago pedaço de matéria inerte. Há choros legítimos e há os choros por moleza ou frouxidão.

Há os que choram por dinheiro, por um cargo, por uma carga de pancada. Há, também, os choros coloridos das madamas que não pensaram a tempo que as lágrimas - que pena! - lhes estragariam a maquilhagem.

Há o choro dos doentes e o choro dos fracos, o choro dos canalhas e dos falsos - que é choro de crocodilo ou de hiena. E há o choro infinito dos que morrem pouco a pouco e já nem chorar podem.

Há o choro fácil das crianças, mas há também o choro dramático das crianças.

Há no mundo um imenso choro de mágoa e de agonia. E há o choro por um cisco que entrou num olho e magoa. E há, ainda, o choro do chato, do palerma, do espertalhaço perdido. Do mestre de falsas mestranças.
Há, portanto, choro para todas as estações da vida. Há quem chore, igualmente, porque perdeu um combóio, uma viagem, um enredo.

Mas sim, há o choro devastador das crianças: devastador, insustentável. Amargo.

Ontem, numa rua citadina, através duma janela entreaberta chegou até mim o choro duma criança. Porque choraria? Por nalgada paternal, por brinquedo estraçalhado? Eu levava um jornal na mão, um desses de usança nacional. E nesse periódico, em certa página, saltava para os olhos do leitor itinerante que sou por vezes a fotografia macerada, absurda, de alguns justiçados numa rua dum país do Oriente. O sangue corria pelas pedras da calçada, nessa terra longínqua. Contava a legenda que alguns dos justiçados não tinham morrido com a necessária presteza e fôra preciso que umas almas caridosas lhes dessem o tiro de misericórdia.

Em volta, populares assistiam ao acontecimento. E, entre eles, várias crianças.

Conheceriam as vítimas? Seriam vizinhos seus, gentinha de ver na rua? Nos rostos dos que assistiam lia-se o ódio, algum temor, o espanto. Teria havido algumas lágrimas?

Para o leitor itinerante que eu era naquele momento o choro da tal criança foi-se esbatendo no vaivém da rua. Apagou-se pouco a pouco, como uma ária negativa ao longe.

E dei comigo a pensar se aquelas crianças da fotografia iriam chorar um dia ao recordarem o espectáculo a que tinham assistido, espectáculo de morte e de sangue da absurda condição a que alguns chamam humana. Se chorariam um choro sentido pela violência presenciada, como tempos atrás nesse país afastado tinha decerto chorado de dor a criança a quem a polícia política do mandante precedente cortara a mão direita para dar exemplo aos seus pais, que não choravam lágrimas de petróleo ou de ouro mas de raiva, de miséria, de revolta. De pobreza e de queixume.

Há um longo choro na noite dos tempos. Um choro que por vezes paira sobre os nossos olhos cansados de não chorar por uma esperança de justiça que tarda a assentar arraiais neste minúsculo pedaço do Universo vulgarmente chamado Terra.

E a que alguns, de olhos secos ou húmidos, por vezes chamam vale de lágrimas...

7. A PROPÓSITO DA CRÍTICA

“A Crítica? Sim, sei de quem se trata: é uma que
vai ali adiante, de vestido muito sujo e chapéu
às três pancadas”
John Buchan

O assunto, mil vezes tratado de forma ora desenfadada ora dramática, pode ser colocado sob que égide? A do apego à decência, à verdade, à dignidade do que é viver, escrever, ser homem de corpo inteiro e de cabeça bem levantada? Ou a do direito de informar e ser informado de maneira cabal, verdadeira e não manipulatória, de aceder à Cultura sem que os cínicos de sempre ponham imediatamente, ao ouvirem tal palavra, o velho ar sofisticado de risota ou de fábula, como os canalhas mediáticos usam fazer quando alguém cai na asneira, ou na ingenuidade, de proferir a palavra honra?

Moderemos um pouco, digamos, a nossa prosa ainda que nos excite alguma indignação. O assunto seria de facto cómico se não fosse trágico. Ou antes: triste e equívoco. O problema é que temos, talvez, a alma demasiado ardente, demasiado indagadora, provavelmente mal adestrada para negócios escuros. Perdidos entre esperanças e amores mortos - um deles a realidade, que já está mais que apodrecida neste país - desejamos como que num desespero a alegria, a verdade dos tempos recompostos, a beleza. Como aquele jovem e aquela senhorita dos romances. Se calhar o problema é que de há muito o jogo, le grand jeu, não é mais que uma imagem esfumada, um retrato desaparecido, passos que se afastam na noite dura e adversa. A crítica? Sim, sim, em geral uma excelente pendura...

No que me diz parte, estou de alma branca: tenho tido razoáveis críticas, o que se chamam “boas críticas” se não formos maliciosos, mal formados ou simplesmente difíceis de contentar. Ou seja: na maior parte dos casos um bocadinho de açafrão, um cheirinho de pimentão, um trago da “rija”. Resumindo: coisas que fundamentam umas horas de prazer gastronómico. Não tenho pois de que me queixar. O meu relativo desapego, a minha críptica olhadela é inteiramente motivada por razões de mínima decência.

Vogamos em pleno oceano deserto. O da poesia, o da escrita. As provisões começam a escassear, ao longe no vasto mar não se distingue a brancura de uma vela, a nossa escuna desapareceu e só dispomos deste pequeno bote. Nem se divisa o rasto de um corsário de bons fígados, estamos entregues a nós mesmos. E no entanto...

E no entanto, de súbito, como vinda dum sonho, aparece uma linha de costa. Coragem, um esforço mais, chegámos a terra firme. Eis-nos já na orla do bosque.

E então começam as realidades inquestionáveis a deixar ver o seu perfil difuso, algo começa a fermentar e sente-se que se juntaram sujeito e predicado em estranhos conciliábulos, em frases de esquisitos recortes. Talvez não seja ainda o “que horror!” de Margarita no livro de Bulgakov, mas é já decerto o “uns belos trastes”, quiçá algo injusto, de Péret. Porque é difícil divisar-lhe nos horizontes, a isso da crítica cá da nação, o sul e o norte, a matéria provável e desejável de que seriam feitos os mais belos sonhos de uma realidade não poluída.

A evidência, como se compreende, consiste nisto: a crítica é, como dantes se dizia da tropa, o espelho do país. E quase tudo daí decorre. E daí tudo parte: os críticos altissonantes e vazios, mas palavrosos e espertalhões, iguais aos políticos e aos filhos-de-algo vazios e altissonantes que nos arrasam a paciência com as suas mentirolas e o seu arrazoado de vendedores de banha-da-cobra.. Os que são competentes e modestos, como certos homens públicos sofredores e esforçados, membros duma raça em vias de extinção na coisa quotidiana.

Há a crítica que se lê nos jornais. Muitas vezes simples aparelho de aferição, mais ou menos galhardo ou gaiteiro mas que podia ser - e nos melhores casos é - algo de suscitador, de exaltante, de nobre e de digno que não envergonha quem a lê e quem a escreve. Mas, em grande parte, trata-se de pequeninas traves duma casa onde já se instalou o incêndio, cocabichices sobranceiras de pequenos empafiados, ignorantes e patifórios nos casos limites. Em suma, pedacinhos não inermes de alguma arrogância ou de seguro fingimento. A sensação que se tem, frequentemente, é a de que se trata duma encenação fraudulenta, duma espécie de jogatana para capangas dum milieu de bairro de má fama revestido de ouropéis de pacotilha.

No entanto é amorável conseguirmos distinguir nesse lume uma, ainda que transitória, iluminação. E por vezes vê-se mesmo, distingue-se por detrás de algum constrangimento (certas chefias têm um poder discricionário), traçado em dez ou vinte linhas, o percurso justo e adequado do que uma obra é, do que representa. Aqui e ali descortinam-se saberes e honestidades, o apego a uma real descriptação duma caminhada, a adesão fremente a um futuro verdadeiro e certo. Mas para estas pepitas, quanta ganga excrementícia, quantos ademanes espúrios e quantas arlequinadas que nos fazem enrubescer. E já não falo da pura ignorância, da pura desvergonha, da pura falta de senso. Da pura – não tenhamos medo das palavras – pesporrência e da simples e boa maldade.

Já que mo perguntam, o que é um crítico, ou antes: o que devia ser? Tenho para mim que um ente que acredite mesmo, co’a figura inteira, na sua actividade de guia bem informado, um ente de boa-fé realmente empenhado em saber e em dar a saber aos outros o que há por ali - por aquela poesia, aquela música, aquela pintura, aquela prosa - que constitua tesouro, fruto e mistério encantador. Assim como uma espécie de missão tranquila e honesta? E porque não? Nisto não cabe nenhuma espécie de moralismo e sim de uma ética. Acaso o cinismo espertalhaço e lusitano já retirou do nosso vocabulário (dizem-me do lado que talvez sim) palavras como decência, saber, imaginação e outras mais que não recordo ou simulo não recordar – porque têm a ver com a honra de se existir, de se viver acima da lama, de se andar de rosto erguido entre réprobos ou malandrins?

Críticos por dever de ofício? Sim, se tiverem o fulgor de um Sainte-Beuve, de um Silone ou dum Claude Roy. Mas triste mester, vergonhosa tarefa a de acatitar eventuais jogos de editoras, de grupos de pressão, de castas sedimentadas num país de tartufos. Valer-lhes-á a pena semelhante trabalho?

E há também a crítica encorpada em livros, em cartapácios. E que é um gosto ler quando severa e argumentada, feita por homens de uma só cara. E há alguns que a praticam, parece que com um impulso vindo das tripas e das meninges. Mesmo que, aqui e ali, pontapeado e ferido pelo mal de vivre da sociedade portuguesa, que é uma coisa repelente e sinistra, tenaz como aquelas sujeiras que se nos colam aos fundilhos.

Poucos são os exemplos, muitos os fados, imensos os desvigamentos que os rodeiam. É assim de estranhar que alguns próceres entreguem os pontos e se rendam à mundanidade trombeteada por altifalantes de potente recorte? É que não pode ser por estupidez, pela santa estupidez que nos fulmina. Ninguém pode ser tão tolo assim. Sigamos, como dizia o “Garganta Funda” da película de Oliver Stone, a pista da massinha e deixemo-nos de filosofias...”. Aí se encontrarão muitas descriptações tendenciais.

Por outro lado, esse encordoamento, essas “calosidades morais” a que Fitzgerald aludia, serão devidas a um tom hirto de escola ou de vezo universitário? De novo, do lado, me dizem que talvez sim, mas daí não viria mal ao mundo se os exemplos fossem entusiasmantes e consistentes. Mas em geral são taciturnos e duram pouco mais que a hora clássica das rosas do lírico francês. Quem pode, por exemplo, ler hoje as obras pretéritas de um conhecido figurão mediático sem um riso de escárnio, essas obras cobertas de citações, de espertezas saloias, de frases esgalhadas apenas para abater o presumível adversário? Para colocar no pequeno Olimpo deste triste parque dormitando à beira-mar determinados vates que não podemos, apesar de com carradas de razão, apelidar de poetinhas – que é o que eles são – sem ficarmos passíveis de cadafalso?

No fundo, a nossa voz – se a pudéssemos soltar – seria não mais que a voz pobre contra as vozes que sem cessar rolam nomes pelas quebradas, pelos largos e praças, pelas tabernas do reino onde se fazem reputações. Porque o penoso é também isto: a crítica servir para fazer reputações...

Vejo na crítica - quero eu dizer, gostaria de ver na crítica - uma ajuda real, inteligente e despreconceituosa para entrarmos melhor nos universos propostos pelos autores, sem facciosismos nem atitudes de baixa política. Para jogarmos a dois, digamos, a aventura do conhecimento e, mais tarde, das linhas de sombra da sabedoria possível. Para compulsarmos, talvez, numa casa solitária, ante o espelho onde o Eterno parece que irá aparecer um dia, o nosso próprio rosto, a nossa própria figura. Uma luz ardente que nos devastasse o rosto com súbitos clarões, para que pudéssemos um dia surgir com a verdadeira figura a que o nosso ter vivido, o nosso ir vivendo com a escrita nos concederia direito.

E, afinal, o que visam oferecer-nos na melhor das hipóteses é apenas um lugar numa espécie de campeonato de competências...

Gostaria de dizer, a finalizar, que vivo - por decisão do destino - afastado dos grandes meios lusitanos, que aliás quase nunca visito. Habito lugares entre as serras alto-alentejanas e os desertos do sul de Espanha. Aí tenho as minhas casas, que são casas de dentro e de fora. Falo a partir do que me chega em ondas, em revoadas trazidas pela voz de um amigo, por uma que outra revista oferecida ou por vagos periódicos, uma vez que quase só leio jornais espanhóis. Creio por isso que não conheço exaustivamente, in loco, os exactos meandros do assunto que busquei abordar. O meu trabalho profissional, específico, permite-me ir vivendo magnificamente isolado. Não vejo a chamada televisão, que detesto, embora veja inúmeros filmes a partir dos programas por cabo. Não frequento a sociedade, que aliás não desprezo nem odeio, com os seus ritmos calhordas e de uma videirice a toda a prova – os meus amigos são os minerais, os vegetais e os animais a que, com os familiares de sangue ou de ritmo vital, estou ligado e que me sustentam. O que intuo, entretanto, para além do que vou sabendo intermitentemente, não é contudo de molde a tranquilizar-me. E isto porque detesto a falsidade – nomeadamente a de um certo universo da crítica que tenho por aproximativa ou pesporrente nos seus considerandos pouco desembaraçados.

Aqui há dias, num periódico lido na casa de um familiar, topei com a prosa de um fulano que dizia serem “inanidades” os belos poemas de José Luís Puerto (que não conheço), dados a lume na “Apeadeiro”. Comprovei ser este o estilo fuliginoso usado em certos meios críticos. Que defesa haverá para uma opinião de tal jaez? O vómito urbano desculpará ou explicará coisas assim?

No cartão onde cortêsmente me convidavam a opinar, deram-me – como a todos – espaço até às trinta páginas. Nunca poderia lá chegar. Tal como Marie Noel não sou uma árvore nem sequer, talvez, uma planta útil. Estou sim ao lado da urze, do heléboro, do serpão. Intelectualmente, não consigo viver em bosques tranquilos.

E, apesar de tudo, para minha alegria e inquietação simultâneas o sol continua a brilhar sobre todas as coisas - até sobre imundícies que alguns propagam.

(Este texto foi a resposta de NS ao inquérito temático formulado pela revista “Apeadeiro”)

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc. 

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).  

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).     

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”.

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz),  “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil)...

Prefaciou os livros “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras) e “Estravagários” de Nuno Rebocho (Apenas Livros Editora).

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Com João Garção e Ruy Ventura coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003.

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.