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MÁRIO MONTAUT

ISTO É SÓ PARA VOCÊ

INDEX

Isto é só para você
Onda vermelha
Antes do divã
Acerca da solidão
Festa
Lúcido
Sancho
12 de Outubro
Mulher qualquer
Fresta de iguarias
Abrir-te, Vênus
Com muita fé no som

Onda vermelha

Despertou-me o ódio a libido.

E que saber pontual entre o afago e a surra?

Meus dentes nos seus cabelos brancos

Minhas lágrimas a escorrerem pelas vias de sua enrugada face

Fascínora do meu Olimpo

Homicida do meu Harém

Te amo descalça ou de bengala,

Na rede, na ressaca

Uma onda no mar se faz vermelha

A Grande Onda Vermelha do mar

O Mar Avermelha numa só onda

A horizontal onda vermelha

Súbito horizonte de vermelha onda

Súbito vermelho de onda horizontal

...se ergue e tomba

Já quase rubra o Espelho Verde

A espuma avermelhando o verde

Já quebra a súbit´onda rubra

Já quebra a vermelh´onda

Um vermelhão de veias na verdura água

O céu assombra

A lua arde

E o sol na noite em êxtases de amor índio

Os mariscos amarulam

Os marujos fugiram todos pr´um deserto

A lua adoça

A vermelhitude verdejante das algas

O vermelhão verdejante sargaços e tubarões

Esmaltes, sinais...

Ceci desmaia pintando a unha

Tomate, vinho, esmalte, sinais...

Na unha de Ceci pintada e desmaiando em carne branca

Sabor de dívidas

Odores da bancarrota

Em débito, em débito Deus e a praia

Todos devem à onda vermelha

Ocaso do Saara

Sua cara mordida em furiosa paixão, neta de índia,

Amada em vísceras de plena compaixão da Ira

O ódio desperta-me a libido

Ao raiar da última onda

Mênstrua...

Sanguinária rosa d´água horizontal que se espraia

Reluz a jóia rubra em víscera oceânica

Dispara a jóia rubra da víscera oceânica

Reluz em raias desta praia às largas...

Vermelhitudes;

Quand´um´ônda no mar se faz vermelha

Quand´um´ônda só rebenta vermelhinha

Estronda vermelhuda

É nesta hora...

Em que ainda se concebe o verde

Quando ainda temos vistas pro verduro

Nossa tez é arrepiada

Eu te amo

E o cosmos todo se engravida

Do nosso amor

Quând´um´ônda no mar se faz vermelha

Quând´ao mar,

violento o nosso amor.

(Mário Montaut)

MÁRIO MONTAUT é brasileiro, paulistano, de ascendência italiana, espanhola, indígena, moura, francesa e outras. Desenvolve uma sequência de composições que vêm à luz, já em dois trabalhos: "Bela Humana Raça", Dabliú, 1999, e "Mário Montaut: Samba De Alvrakélia", a sair nos próximos dias pelo selo MBBmusic. São muitos anos de vivências artísticas, num panorama que inclui Dorival Caymmi, René Magritte, Manoel De Barros, João Cabral De Melo Neto, Borges, Chico, Caetano, Gil, Dalí, Fellini, Buñuel, Webern, Cartola, Breton, Blavatsky e muitos amores mais, indispensáveis à sua criação, que abarca, além das canções, poemas, textos, roteiros e outras coisas interessantes. Mário Montaut é basicamente um parceiro de todos os seus contemporâneos e ascendentes, humanos ou não, saibam eles ou não. Índios, Negros, Europeus, Sem-terra, Brisas, Baleias, Maremotos, Chuvas, Livros, Discos, Beijos e Trovões Em Todas As Roseiras. Atualmente grava um disco de parcerias suas com o poeta Floriano Martins, onde a talentosíssima intérprete Ana Lee canta grande parte do repertório. Mário Montaut é um pouco de tudo isso. E muito mais, com certeza, pode ser descoberto em seus discos lançados, em suas tantas canções já gravadas, poemas, textos, e múltiplos achados.