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MARIA DO SAMEIRO BARROSO
As vindimas da noite
"Sei agora que a paixão é azul e coroada como o sangue" (*)

Nas membranas do olhar, a noite rescende, entre luas,

miosótis, abrindo-se, entre estrelas e corais,

orquídeas do mar.

Na cintura imaculada dos salgueiros, junto aos rios,

descobri que as tuas mãos são vogais que se abrem,

na sombra das palavras inúteis.

 

Que resta então senão atear o silêncio onde apenas

a música assoma?

À noite, há serpentes líquidas despontando, à mesa,

entre cálamos e plumas, marcas misteriosas,

entre ampulhetas de sombra onde descubro

um mundo novo (um mundo apenas),

no lume leve das formas inocentes

que habitam a incerteza, o sortilégio, o ardor,

nas rodas incessantes cobertas de ilhas, mapas,

 

navios nocturnos transportando o olhar,

esvaziado até à mudança,

por entre as cítaras mágicas, os remansos claros

e as sílabas que se alongam

 

por entre notas musicais.

(*) Abbano Martins, Flor da paix\ao, Cast]alia e outros [poemas, Campo das Letras, Porto, 2001, , p. 75.

Maria do Sameiro Barroso é licenciada em Filologia Germânica e em Medicina e Cirurgia, pela Universidade Clássica de Lisboa. Exerce a sua actividade profissional como médica, Especialista em Medicina Geral e Familiar.

Em 1987 iniciou a sua actividade literária, tendo publicado livros de poesia e colaborado em antologias e revistas literárias. A partir de 2001, a sua actividade estendeu-se à tradução e ensaio, tendo publicado, em revistas literárias e académicas.

Em 2002 iniciou a sua actividade de investigadora, na área da História da Medicina, tendo apresentado e publicado trabalhos, nesta área.