OS DIAS LÍQUIDOS
JÚLIO CÉSAR DE BITTENCOURT GOMES
01-10-2003 www.triplov.com

ggg


27 de junho

De olhos abertos: meu olhar é uma câmera flanando sua lente sobre a superfície líquida das coisas. Vai rente ao chão, cruzando por formigas em louca debandada, sobe pelas paredes, num travelling impossível de tão sem razão de ser, até chegar no teto, o cume possível de tudo: as vigas podres, o madeirame escuro, as escuras telhas de um barro antigo – o sol, a chuva e a noite –; os pensamentos que vem, os pensamentos que vão, a fragilidade de tudo, o não-valer-a-pena-de-nada, a manhã que chega, os sons que emolduram a dor: pássaros pulando nas árvores, cachorro latindo nas redondezas, motor de um carro qualquer na estrada lá longe...