Dário Moreira de Castro Alves

Na morte de Dário Moreira Castro Alves
DEPOIMENTO DE EMANUEL DIMAS DE MELO PIMENTA

Caros amigos,

Faleceu ontem, em Fortaleza, um grande amigo, o Embaixador Dário Moreira de Castro Alves.

Não escrevi imediatamente porque, confesso, fiquei um pouco perdido.

No início, nos anos 1960 e 1970, ele era muito amigo do meu pai. Depois, nos anos 1980, 1990 e 2000 foi um grande amigo meu.

Durante alguns anos, nos anos 1990, todas as Quintas Feiras combinávamos de sair para descobrir alguma nova tasca em Lisboa, algo simples e que trouxesse descobertas inesperadas sobre a cultura gastronómica. Eram momentos inesquecíveis.

Nesses almoços, ele explicava os segredos dos vinhos; do vinho do Porto - que é uma arte especial; os segredos de Eça de Queiroz, que ele conhecia como ninguém; e de Pushkin, que ele tanto amava.

Trazia, tantas vezes, no bolso um pequeno pedaço de papel e fragmentos da sua magistral tradução de Eugene Onegin, obra maior de Pushkin. E íamos viajando, palavra a palavra, nos seus sonhos.

Tudo corria leve e magicamente para as questões de estratégia, de geopolítica. De repente, estávamos mergulhando na história.

Herdei os discos da Rina. Não conheci Dinah Silveira de Queiroz, mas admirava eternamente a Helena Silveira. E, entre todos eles, emergia sempre o meu querido Jorge Medauar.

Foi Presidente do Tribunal Europeu do Ambiente - que ajudei a fundar; escreveu a introdução de um dos meus livros.

Era um homem pequeno e sorridente, os dentes quase nunca se viam. Voz mansa, olhar doce, profundo, brilhante.

Descobrimos que naquela minha juventude tudo girava em torno dos autores Anglo Saxões, Germânicos, do Realismo Fantástico e do universo concreto. Ele estava rodeado pelos Franceses, pelos Russos. Dominava o cirílico como poucos. Foi um dos mais importantes embaixadores do Brasil no século XX.

Para além disso, poeta, pensador, um grande amigo - para quem não havia barreiras de idade, credo ou raça.

Dário de Castro Alves, tão amado em tantos lugares, era uma daquelas pessoas que nunca deveria morrer.

Fiz essa fotografia em Lisboa, em 2003, especialmente para o projecto SOULS

Emanuel Dimas Pimenta