A catedral de
Aachen encontra-se alterada em relação ao original. No entanto, nela
prevalecem elementos importantes datados da Idade Média, incluindo a
capela palatina.
Em nossa
opinião, esta catedral prossegue uma imagem de Império, através da arte e
cerimoniais de coroações de reis e imperadores à maneira da latinidade e
romanidade. Tudo parece indicar que a edificação e ornamentação se inserem
numa estratégia de aliança da realeza e das populações com o Papa, como
forma de imaginário, saudosista e identitário do Império Romano. Está aqui
patente uma influência cristã da romanidade, segundo a recomendação dos
concílios: Niceia, 325 (1); Constantinopla,
381 (2); Éfeso, 431 (3); Calcedónia, 451 (4); Constantinopla II, 553 (5);
Constantinopla III, 680-681 (6) e Niceia II, 787 (7). A descrição sumária
desta Catedral que aqui apresentamos, visa destacar características
locais, de influência goda do norte. Exemplo: o estilo gótico. Trata-se
duma obra mandada edificar por Carlos Magno, cerca do ano 790 e continuada
pelos seus sucessores. Nesta Catedral encontra-se a sepultura do
característico rei dos Francos – Carlos Magno, também designado Imperador
do Ocidente. Este tipo de obra precedeu as catedrais do norte da Europa de
influência gótica/bárbara. Também por este motivo se tornou num ícone ao
servir inclusivamente para o coroamento dos imperadores do Sacro Império
Romano: “Considera-se que o título
imperial passou dos romanos para o reino Franco, em 800 d. C., o papa Leão
III coroou o rei dos francos, Carlos Magno, imperador e este, por
protecção à Igreja católica, na qualidade de patrício dos romanos e por
força da sua dignidade imperial, condenou os perseguidores do pontífice à
morte, condenação que foi retirada por intervenção do próprio papa.”
(8).
Património da Humanidade
Na capela
mantêm-se traços bizantinos e germânicos. A catedral recebeu uma das
primeiras classificações da Unesco como Património da Humanidade e isso
deve-se, certamente, ao seu significado, como obra-prima da Europa, de
influência romana e cristã. Consta que esta capela tem origem no tempo do
pai de Carlos Magno (Pepino, o Breve) para servir de guarda e veneração de
relíquias; entre elas, uma relíquia de singular importância. Trata-se da
capa de São Martinho de Tours (Panónia, 316 – Gália, 397). Crê-se que a
própria designação de capella,
hoje associada a pequeno templo, ou pequena “igreja”, provém exatamente da
função inicial da cap(a)ela como local de preservação da relíquia com que
o santo ficou célebre ao dividir o seu manto com o próximo - um pobre
encontrado num caminho. Outro aspeto em comum com o Império Romano é o
facto da estrutura da capela, cópia da Basílica de São Vital de Ravena
(atual Itália). Consta também que os mármores das colunas e os bronzes das
grades do interior foram importados de Itália. Contudo são introduzidos
novos elementos, o que terá levado o próprio Carlos Magno a proferir que a
obra foi projetada seguindo a sua “propria dispositione”, isto é,
segundo a expressa vontade do Imperador, sem prejuízo de fazer de
Aachen/Aquisgrano uma continuação de Roma.
Uma analogia com a charola do
Convento de Cristo de Tomar
Outra
curiosidade da capela é o facto da planta e alçados interiores com oito
lados. – Simbologia, esta, associada à eternidade, poder celestial na
Terra, dia seguinte ao da criação e ainda ao número preferido pelos
Cavaleiros Templários (9). Repare-se que também a capela, designada
Charola do Convento de Cristo de Tomar, herança templária, está construída
sobre uma planta e alçados de 8 lados. Nos mosaicos da capela, figura
Cristo rodeado por anciãos, mais uma vez, uma imagem semelhante à que
aparece no Livro da Revelação/Apocalipse, segundo São João. Esta marca é
outro ponto de contacto da fé sanjoanina, prosseguida pelos Templários.
Temos portanto na capela/catedral de Aachen um sinal bíblico acerca do
tempo em que foi escrito este Livro do Apocalipse (séc. 1 d.C.),
retransmitido para o mundo cristão. O trono está construído em mármore,
proveniente da capital Romana. Também as colunas de capitéis coríntios
foram importadas por Carlos Magno da cidade de Ravena. Tudo para imitar o
antigo Império Romano. Desde Carlos Magno, até 1531, foram coroados na
Catedral de Aachem três dezenas de monarcas, à semelhança de Roma.
Simbologia e arte
Verificamos que
a arte encanta, é veiculo de educação, cultura e identidade e, ao mesmo
tempo, assusta quem dela não partilha e se considera excluído, “esmagado”
e/ou ofendido com a mesma. Queremos ainda sublinhar que a figura/retrato
de Carlos Magno (cf.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Magno)
apresenta a mão direita segurando uma esfera contendo uma cruz e a
esquerda detém uma espada. Será uma versão precoce dos cruzados e
templários. Lembra ainda a sucessora Ordem de Cristo com a esfera armilar
portuguesa. No escudo de armas com fundo azul, aparecem três flores-de-lis
que representam as monarquias francas e são também um sinal de unidade do
Pai, do Filho e do Espírito Santo, ou seja, está aqui representado o
conceito/mistério da Santíssima Trindade: as três folhas da flor-de-lis
estão unidas com um laço natural. Este conceito de unidade da Trindade
vinha-se revelando desde o Concílio de Constantinopla do ano de 381 (v.
notas infra, concílios 1 a 7).
Unidade dos Poderes
Político-Religioso
O poder político
franco-germânico e o papado uniram-se como forma de contornar a situação
vulnerável da Europa, sobretudo após o poder de Constantinopla se ter
distanciado da antiga Roma. As vantagens resultarão positivas para os dois
lados – os povos da Europa procuram continuar a cultura e religião do
antigo Imperio, em torno da figura pontifícia que passou a representar a
unidade e a autoridade perdidas com as invasões e as disputas de poder. A
“queda/desmoronamento” do Império Romano foram, portanto, relativos.
Achamos que houve continuidades de influência e de poder à maneira romana,
nomeadamente com as dinastias merovíngia e carolíngia. Estas continuidades
são prosseguidas nas realezas e reinos da Europa da Idade Média e Moderna
e, em parte, no mundo onde os Europeus se estabeleceram e relacionaram.
Neste ponto de vista, parece-nos que o Império Romano e a
latinidade/romanidade não desapareceram totalmente. Daqui resultará parte
da reação/antagonismo e um certo choque de civilizações.
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Notas
Concílios de:
(1)Niceia, 325.
“Condena o Arianismo e proclama a igualdade de natureza entre o Pai e o
Filho”. É também deste Concílio que sai a oração do Credo.
(2)Constantinopla, 381.
“Afirma a natureza do Espírito Santo e estabelece que o bispo de
Constantinopla receberá honras logo após o de Roma”.
(3)Éfeso, 431. “[…]
Afirma […] a maternidade divina de Maria”
(4)Calcedónia, 451.
“[…] Afirma a unidade das duas naturezas completas e perfeitas em Jesus
Cristo, humana e divina […]”.
(5)Constantinopla II,
553. “[…] Condena os ensinamentos de Orígenes […] e os documentos
nestorianos […]”.
(6)Constantinopla III,
680-681. “[…] Dogmatiza as duas naturezas de Cristo condenando o
monotelismo […]”.
(7)Niceia II, 787. “[…]
Regula a questão da veneração de imagens (ícones) condenando os
iconoclastas […]”.
(8)Cf. Lista dos
Imperadores dos do Sacro Império Romano-Germânico - http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_imperadores_do_Sacro_Imp%C3%A9rio_Romano-Germ%C3%A2nico
(9) A primeira sede dos Cavaleiros Templários foi
na Mesquita de Al-Aqsa no chamado Monte do Templo, em Jerusalém. Os
Cruzados que aqui se instalaram chamaram-lhe Templo de Salomão, por o
mesmo ter sido construído sobre as fundações do Templo dedicado a este
Profeta. Por esta via, os Cavaleiros que foram na Cruzada e aqui se
instalaram passaram a ser conhecidos por Cavaleiros do Templo ou
Templários.
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