ADELTO GONÇALVES
Crónicas de viagem

Eilat e seus mistérios marinhos

No extremo sul de Israel, na fronteira com o Egito, fica Eilat, um dos principais balneários do país. Sem perder a magia do deserto, Eilat, à beira do Mar Vermelho, com seus mistérios marinhos, é famosa por seu Observatório Submarino de Corais, que fica em Coral Beach (Hof Elmog em hebraico) e funciona diariamente de segunda-feira a sábado. O oceanógrafo abriga 25 tanques com mais de 500 tipos de peixes, esponjas, corais, animais invertebrados e plantas aquáticas, inclusive com uma nova seção exclusiva sobre as espécies da Amazônia brasileira.

Descendo-se alguns metros por uma escada em caracol, chega-se a duas grandes salas, rodeadas por grandes janelas de vidro destinadas à observação da fauna e flora marinhas do local. As duas salas são interligadas por baixo d'água. A escada da sala antiga é usada, hoje, como saída de emergência. As pequenas janelas da sala antiga foram trocadas por janelas novas e grandes como as da segunda sala.

Depois de descer até o fundo, sobe-se pela mesma escada em caracol até o topo do observatório, de onde é possível ter uma vista de toda a praia, das montanhas da Jordânia e da cidade de Ácaba, na outra banda do Mar Vermelho, além de muitos corais sob a água cristalina do mar. Outra atração a ser visitada é a coleção de aquários que reúne diferentes amostras da vida marinha no Mar Vermelho. A exposição inclui uma sala escura em que se vê corais e peixes fosforescentes.

A vida submarina do Mar Vermelho atrai mergulhadores de todo o mundo: barcos levam até a Ilha Coral ou Ilha do Faraó, já no Egito. No Observatório, também, pode-se comprar bilhete para viajar no Submarino Amarelo, uma embarcação que desce a 60 metros de profundidade. Há ainda à disposição barcos com fundo de vidro que oferecem uma visão panorâmica de um ecossistema deslumbrante.

Com 20 mil habitantes e uma temperatura média de 21º no período que vai de dezembro a março, mas que chega a 48º ao meio-dia e 42º nas noites de agosto, Eilat, que fica ao final do deserto de Neguev, é um atraente centro de esportes aquáticos e radicais, como safáris nos desertos, escaladas e caminhadas em trilhas. A proximidade com a Europa — Tel Aviv fica a quatro de horas de vôo de Frankfurt, por exemplo — faz de Eilat um balneário extremamente procurado não só na época do verão como também durante os meses de inverno no hemisfério norte.

Eilat é ainda um dos melhores locais para a observação de pássaros, já que o extremo sul de Israel constitui um dos lugares de maior concentração de aves migratórias do mundo. O Centro Internacional de Observação de Pássaros, no Kibutz Eilot, além de realizar estudos, organiza passeios.

A princípio, pode-se dizer que Eilat surgiu em 1950, pouco depois da criação do Estado de Israel. Mas a região está mencionada na Bíblia (Números 33.35), onde se lê: “(...)E partiram de Abrona, e acamparam-se em Esiom-Geber”. Portanto, está intimamente ligada à história dos judeus na região. A passagem bíblica refere-se há aproximadamente 3.300 anos, quando os filhos de Israel vagavam pelo deserto do Sinai e chegaram a este local.

Esiom-Geber foi motivo de muitas discórdias entre os filhos de Israel e os edomitas, que se sucederam no domínio da região através dos séculos. Depois, vieram os nabateus e os egípcios, que a chamaram de Berenice. Mais tarde, chegaram os gregos e os romanos — que a batizaram de Aila. Em seguida, foi a vez dos cruzados, que fortificaram o porto e construíram uma fortaleza na Ilha Coral no século XII, que ainda pode ser visitada. Como a fortaleza hoje está sob jurisdição egípcia, para se fazer a vista, antes é preciso obter visto.

Os turcos também ocuparam a região e não foi por pouco tempo: quatro séculos, período em que o nome Esiom-Geber perdeu-se na poeira do tempo. Durante a época em que os britânicos fizeram da região um protetorado, até o final da Segunda Guerra Mundial, o local funcionou como um posto policial chamado Umm Rash Rash.

Foi em março de 1949 que o exército israelense conquistou o povoado em meio às lutas depois da criação do Estado de Israel. Os israelenses, então, substituíram o nome de Umm Rash Rash por Eilat. Por sua localização estratégica, com saída para o Mar Vermelho, a conquista foi fundamental para a preservação dos interesses geopolíticos do país.

A apenas cinco quilômetros, no outro lado do Mar Vermelho, está Acaba, na Jordânia. Aliás, as duas cidades são bastante semelhantes, mas Eilat tem se desenvolvido muito mais nos últimos anos. Na parte mais oriental da costa está a Arábia Saudita e, ao sul, a fronteira com o Egito. Por aqui se vê a importância estratégica da cidade diante de uma possível agressão por parte dos vizinhos de Israel.

Os melhores pontos são as praias localizadas defronte aos grandes hotéis. Há também barraquinhas de ambulantes por todos os lados. Mas um point certo é o Eilat Shopping. Com os 48º graus e o vento quente que queima o rosto ficando lá fora, entrar e respirar o ar-condicionado do shopping equivale a encontrar um oásis.

Lá dentro, a garotada bronzeada não é muito diferente da juventude dourada de Guarujá, Maresias ou Cabo Frio. Só que para entrar lá é preciso primeiro passar por uma revista. A segurança é justificada porque a região tem sido abalada por atentados. Por isso, nos hotéis é comum a presença de seguranças armados. Para entrar em qualquer supermercado, também é preciso abrir a sacola e deixar que façam a revista.

Em agosto de 2005, um grupo de terroristas ligados a Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, atirou foguetes de um ponto nas montanhas de Acaba em direção a um navio de guerra norte-americano que fazia manobras conjuntas com a marinha jordaniana. Um foguete avariou um pouco o navio e outro caiu num depósito militar, matando um soldado jordaniano. Mais um caiu no aeroporto de Eilat, ao lado do shopping, atingindo um automóvel, mas não explodiu.

Em 2004, uma bomba derrubou a ala oeste do hotel Hilton Taba, situado junto à fronteira com o Egito e a uns dez quilômetros de Eilat. Os ataques, reivindicados por três organizações islâmicas, mataram cerca de 30 pessoas de várias nacionalidades, 13 delas israelenses. Por isso, o fluxo diário de turistas que atravessavam a passagem fronteiriça de Taba com destino ao Sinai diminuiu bastante no começo do ano, mas já voltou a crescer, embora esteja longe da marca de três mil pessoas de antes dos atentados de 7 de outubro de 2004.

 
ADELTO GONÇALVES. Doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: adelto@unisanta.br
 
Página principal - Mapa - Naturalismo - Zoo - Poesia - Letras - Viagens - Adelto Gonçalves