TITO IGLESIAS

ANTES QUE DO DESCONHECIDO SURJA
A INEVITÁVEL AVE DE RAPINA...
Tito Iglesias
Lisboa, Edições Vela Branca, 2008

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AO LONGO DE UMA ALAMEDA DE JACARANDÁS

Eclodiu a primavera
na sublime floração
do roxo jacarandá.

O jacarandá-da-baía,
de bela madeira negra,
chegou até Portugal.

Jacarandá-do-pará,
madeiro muito apreciado,
num terceto crescerá.

Preciosas são as madeiras
caríssimas dos jacarandás,
mas eu prefiro a flor fugaz...

— Se algum dia nos beijarmos,
o contacto labial será
à sombra dum jacarandá.

— E se um dia houver consórcio,
no véu da noiva haverá
corolas de jacarandá.

— O caminho para a igreja
atapetado estará
com flores de jacarandá.

— E sempre nos amaremos —
sob a copa arroxeada
daquele jacarandá.

Ao brincar com as crianças,
então a mãe descobrirá:
flor violácea é talismã!

Palavra de origem tupi
— a bela jacarandá —
no luso chão se espalhará.

— Amor, antes de morrer,
algo te vou suplicar:
sepultado gostaria de ser
num bosque de jacarandás...

 

p. 95

Tito Iglesias. Poeta em Português de nacionalidade espanhola, residente em Paço d'Arcos (Lisboa), de teor surrealista, com larga vivência no Brasil. Membro da Academia Brasiliense de Letras.