Judite Maria Zamith Cruz

A PERSPECTIVA ARQUETÍPICA DA MENTE
O inconsciente colectivo de Carl Gustav Jung (Index)

1. A esfera íntima: a anima e o animus

Animar pode significar «dar alma», fornecer um poder invisível que conduz ao saber, quer se creia ou não na existência da alma.

No latim a anima implica «sopro» ou «ar», vindo a tornar-se o termo adequado ao princípio feminino latente em todo o homem . Assim, a anima é ligada ao «sopro vital» que anima o animal («dá-lhe alma»). A anima é o princípio da aspiração do ar e da sua expiração (1).

Com Jung a anima integrou quatro estádios de desenvolvimento. O primeiro nível é simbolizado por Eva (terrestre), na sua faceta biológica e pulsional/impulsiva, o segundo comporta os seus elementos sexuais, o terceiro estádio assumiu-o, simbolicamente, na Virgem Maria (face terrena de Sophia, «sabedoria»), em que o amor é espiritual, e o quarto nível é a plena sabedoria espiritualizada (2).

Ele distinguiu a anima, o animus e as bases bio-psico-culturais - as hipóstases (3) - da bissexualidade. Assim sendo, o homem escolhe a mulher com base na sua anima inconsciente e, inversamente, a mulher escolhe o homem partindo do seu próprio animus.

São exemplos de anima, em outras épocas históricas, divindades gregas e imagens religiosas cristãs: Afrodite (Vénus romana), Atena (Minerva romana), a Virgem Maria, entre outras. Identificaram-se heroínas ao gosto dos tempos, entre as quais Helena de Tróia e Beatriz de Dante Alignieri. Outros modelos de anima são a bruxa, a virgem, a fada, a vampira, a tentação, a prostituta ou um guia espiritual no feminino (4).

Animus foi oposto a corpus, concorrendo com o spiritus («espírito»), o intelecto e a mente. Na actualidade, a mente é entendida como corpórea e é o que o cérebro faz, por imposição científica ao dualismo tradicional.

O aspecto masculino no psiquismo feminino - o animus - permite recriar imagens de Deuses como Hermes (Mercúrio romano) e Apolo («o Deus do Arco de Prata»), de quem se disse ser filho de Zeus. Também não escapam outros «super-homens» como Hércules (Heracles grego), Alexandre Magno (356- 323 a. C.), rei da Macedónia.

Existem personagens dramáticas como Romeu que incorporaram valores sexuais mesclados de sedução e fascínio feminino.

Jung observou que o animus é amplamente criado a partir da relação da rapariga com o pai (5), podendo mudar ao longo do seu desenvolvimento com a maturidade e a emancipação. Na juventude, por exemplo, animus representa um galã atlético, sedento de acção e iniciativa. Como se disse, o animus emparelha com a persona («máscara») da mulher.
















Notas

(1) Jean Chevalier & Alain Gheerbrant (sem data, trad. port. 1997, p. 52). (2) Carl Jung (1964, cit. por J. Chevalier & A.Gheerbrant, sem data, trad. port. 1997, p. 55).

(3) Hipóstases são como os sedimentos ou depósitos, mas não no sentido estritamente biológico.

(4) William Stewart (1998, pp. 34-35).

(5) David Fontana (1993, p. 14).

Judite Maria Zamith Cruz é doutorada em Psicologia pela Universidade do Minho, onde lecciona cursos de licenciatura e mestrado dedicados ao estudo do desenvolvimento humano e do auto-conhecimento do profissional de educação, desde 1996, é membro de instituições nacionais e internacionais dedicadas ao estudo e investigação da sobredotação, talento e criatividade e, em 1997, integrou equipa internacional e interdisciplinar, coordenada pela Professora Doutora Ana Luísa Janeira, nos domínios de ciência, tecnologia e sociedade - «Natureza, cultura e memória: Projectos transatlânticos». Colabora, desde 2000, no Instituto de Estudos da Criança, em projectos centrados na educação matemática; depois, na área da língua portuguesa e artes plásticas, como membro do Centro de Investigação «Literacia e Bem-Estar da Criança» (LIBEC) da Universidade do Minho .

Entre Janeiro e Julho de1982 foi professora de psicologia e de pedagogia em Escola de Formação de Professores do Ensino Básico de Torres Novas. De Junho a Setembro de 1982, assumiu o lugar de Assistente Estagiária na Universidade de Lisboa – Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, de que se afastou para desempenhar funções de psicóloga clínica em cooperativa dedicada a crianças e jovens deficientes motores e mentais, em Lisboa – CRINABEL (1982-1985). De 1985 a 1988 foi professora do Ensino Secundário, em Braga, leccionando a disciplina de psicologia na Escola D. Maria II. De novo ocupou funções de psicóloga clínica em associação dedicada à educação de crianças e jovens deficientes auditivos (APECDA-Braga), entre 1988 e 1992. Em 1987, realizou trabalho como psicóloga no Hospital Distrital de Barcelos, de que se afastou em 1990 para efectuar curso de mestrado. Em 1992 ocupou o ligar de Assistente de metodologia de investigação, na Universidade do Minho, em Braga, onde é professora auxiliar.