António Naud Júnior
O ANO CINEMATOGRÁFICO NO BRASIL
O clichê da controvérsia parece que sempre perseguirá o cinema brasileiro – na temática, na narrativa de tevê, nas injustiças, nos reconhecimentos. Quando filmes brasileiros conseguem chegar aos cinemas não faltam críticos colonizados para garantir que são desastrosos, já que “não primam pela qualidade técnica, só mostram o que o Brasil tem de pior ou repetem uma estética de televisão”. Em parte, nada mais injusto, afinal nossos filmes são tecnicamente perfeitos e merecem consideração ao retratar muito bem tristes facetas de nossa gente. A estética televisiva é real, dominadora, mas não representa o todo da nossa produção cinematográfica, afinal estamos sempre lançando filmes à base de salutar ousadia, premiados, milagrosos diante da realidade social de um país semi-analfabeto,
em que raros políticos se interessam por arte.


Percebo que o cinema brasileiro continua buscando um rosto próprio. Enquanto isso não acontece, recebemos os mais variados estilos, idéias, conceitos; uns vão atrás do que já é garantia de sucesso; outros arriscam em experimentos formais ou estéticos. O importante, a princípio, é que ele continue a produzir filmes e desperte interesses: só com muitos e muitos filmes em cartaz é que teremos uma perfeita noção de como está funcionando a engrenagem do mercado cinematográfico brasileiro. Em seus 100 primeiros anos, o cinema brasileiro produziu cerca de 2.000 filmes. Um número bastante pobre. Há 2.045 salas de cinema no Brasil e pouquíssimas delas exibem filmes patrícios. O público também não parece motivado. Por exemplo, 79 milhões de pessoas assistiram a filmes estrangeiros em 2005 e apenas 10,7 milhões a filmes nacionais, embora “Dois Filhos de Francisco” tenha sido o filme mais visto, ultrapassando a marca dos 5,3 milhões de ingressos vendidos.

O ano de 2006 foi bastante estranho para o cinema brasileiro, com estréias curiosas, mas não muito estimulantes – sendo o mais interessante “O Céu de Suely”, de Karim Anouiz. Muitas delas, divulgadas maciçamente e vendidas como preciosidades, foram de lamentar. Caso dos filmes bonitinhos e ordinários realizados por Daniel Filho, João Falcão e Moacyr Góes. Mesmo assim, o circuito nacional deu demonstrações de fôlego com trabalhos, enfim, significativos e demonstrativos da qualidade de nossos profissionais. Aqui faço breves reflexões sobre alguns dos títulos que foram dignos de atenção e merecem ser conhecidos ou revistos por todos os espectadores interessados em bom cinema. De todos eles, apenas “Baixio das Bestas” é inédito comercialmente. Não deixe de vê-los:

“Achados e Perdidos” (policial, 100 min).
Direção de José Joffily.
Roteiro de Paulo Halm, com colaboração de Jorge Durán, baseado em livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza.
Fotografia de Nonato Estrela.
Com Antônio Fagundes, Zezé Polessa, Juliana Knust e Hugo Carvana.
Filme pequeno, discreto e pouco visto. Aposta num estilo policial para falar de um delegado aposentado que vive um caso com uma prostituta. Quando ela é encontrada morta, ele é considerado como o principal suspeito do crime. A trama previsível não consegue instigar o espectador, que não se interessa pela sorte do protagonista interpretado por Antonio Fagundes, um ator consagrado acomodado numa única e cansativa máscara facial.

“Anjos do Sol” (drama, 92 min).
Direção e roteiro de Rudi Lagemann.
Fotografia de Tuca Moraes.
Com Antônio Calloni, Chico Diaz, Otávio Augusto, Vera Holtz e Darlene Glória.
Filme-denúncia, realista, cru. Vítimas da prostituição infantil, mulheres são negociadas e exploradas. Mesmo com direção irregular e uma jovem protagonista (XXXX) de frágil densidade dramática, está acima da média e revela um cineasta promissor. Outro ponto alto é a volta de Darlene Glória, a deusa de “Toda Nudez será Castigada” (197X). Uma atitude bonita a ser copiada. Os cineastas jamais deveriam esquecer de criar papéis para jóias do passado, atores essencialmente cinematográficos como Odete Lara, Sônia Braga, Florinda Bolkan, Paulo César Pereio, Norma Bengell, Othon Bastos, Helena Ignez, Zezé Motta, José Dumont etc.

“O Ano em que meus Pais saíram de Férias” (drama, 110 min).
Direção de Cao Hamburger.
Roteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger.
Fotografia de Adriano Goldman.
Com Michel Joelsas, Germano Haiut, Caio Blat, Paulo Autran e Simone Spoladore.
O olhar infantil é a meta. Exilado de sua família, garoto subitamente se vê diante de inúmeras incompreensões, num panorama de ditadura militar. Sensível, a câmera de Cão Hamburger vasculha sentimentos e pensamentos. Um belo espetáculo, com roteiro sólido e realização envolvente.

“Árido Movie” (drama, 115 min).
Direção de Lívio Ferreira.
Roteiro de Lírio Ferreira, Hilton Lacerda, Sérgio Oliveira e Eduardo Nunes.
Fotografia de Murilo Salles.
Com Guilherme Weber, Giulia Gam, Gustavo Falcão, Selton Mello, José Dumont, Luiz Carlos Vasconcelos, Matheus Nachtergaele, Renata Sorrah e Paulo César Pereio.
Co-diretor de “Baile Perfumado”(1997), um dos melhores filmes nacionais da década passada, o pernambucano Lírio Ferreira não acerta desta vez, conduzindo uma trama nem sempre inspirada. Entre políticos corruptos, índios, matadores de aluguel, maconheiros e uma videomaker, ele se perde num amontoado de idéias, resultando um sentimento geral de esforço desperdiçado.

“Baixio das Bestas” (drama, 100 min).
Direção de Cláudio Assis.
Roteiro de Hilton Lacerda.
Fotografia de Walter Carvalho.
Com Mariah Teixeira, Dira Paes, Caio Blat e Matheus Nachtergaele.
Consagrado no mais recente Festival de Brasília, onde levou vários prêmios, o novo longa-metragem do ousado Cláudio Assis revela sem piedade o processo de degradação moral e social de um Brasil dos excluídos. Descrente e desiludido com a realidade, não oferece concessões. Esse exercício sobre a crueldade, retratando vícios e mazelas nos canaviais da zona da mata do Recife, apoia-se num elenco brilhante, roteiro bem amarrado e fotografia magistral.

“Boleiros 2 – Vencedores e Vencidos” (comédia, 86 min).
Direção e roteiro de Ugo Giorgetti.
Fotografia de Rodolfo Sanchez e Pedro Pablo Lazzarini.
Com Lima Duarte, Otávio Augusto, Flávio Migliaccio, Denise Fraga, Cássio Gabus Mendes e Paulo Miklos.
Dando continuidade a “Boleiros” (200X), Giorgetti está de volta com o seu humor bastante próprio e com boa parte do elenco do filme anterior. O futebol continua sendo o tema central e tudo se resume em torno de três histórias. A genialidade do diretor está em juntar referências, comicidade refinada e bons atores, num trabalho de autoridade plena, que respira cinema de verdade.

“Brasília 18%“ (drama, 102 min).
Direção e roteiro de Nelson Pereira dos Santos.
Fotografia de Edgar Moura.
Com Carlos Alberto Riccelli, Malu Mader, Bruna Lombardi, Othon Bastos, Carlos Vereza, Otávio Augusto e Bete Mendes.
O mestre Nelson Pereira dos Santos continua escolhendo péssimos projetos. Há muito não realiza um filme de peso como “Memórias do Cárcere” (198X). Agora, surge com esse drama político onde um renomado médico legista é convidado pelo Instituto Médico Legal de Brasília a dar seu parecer na perícia de identificação de uma ossada, que supostamente pertence a uma jovem economista desaparecida há meses. Enfadonho, arcaico, óbvio e com elenco equivocado.

“Cafundó” (drama, 101 min).
Direção de Clóvis Bueno e Paulo Betti.
Roteiro de Clóvis Bueno.
Fotografia de Zé Bob.
Com Lázaro Ramos, Leona Cavalli e Leandro Firmino.
A verdade é que qualquer superexposição desgasta, mesmo que o ator em questão tenha talento. Não é à toa que Greta Garbo, nos seus tempos áureos, exigia da MGM não atuar em mais de um filme por ano. Parece não ser o caso do ator baiano Lázaro Ramos. Desde o sucesso de “Madame Satã” (200X) ele engata um filme atrás do outro, além de atuações na tevê e spots publicitários. Lázaro, um bom ator que vende a idéia enganosa de uma versatilidade inesgotável, precisa dar um tempo, aparecer menos, caso contrário terminará evidenciando seus limitados recursos dramáticos. Nesse filme simpático e esquecível, ele é João de Barros, um ex-escravo que tem alucinações, acreditando ser capaz de ver Deus. O pior é que não é uma comédia.

“Canta Maria” (drama, 95 min).
Direção de Francisco Ramalho Jr.
Roteiro de Francisco Ramalho Jr. com a colaboração de Márcio Sattin, baseado no romance "Os Desvalidos", de Francisco Dantas.
Fotografia de Lúcio Kodato.
Com Vanessa Giácomo, Marco Ricca, Edward Boggiss e José Wilker.
A grandiosidade da paisagem sertaneja não é suficiente para encher os nossos olhos. Insosso, “Canta Maria” tem pouco a dizer e nem mesmo o ritmo acelerado do desenvolvimento da história provoca algum interesse. Os intérpretes não convencem, sufocados em personagens superficiais. Sem contar a trilha sonora de canções de Daniela Mercury. Quem agüenta?

“O Céu de Suely” (drama, 90 min).
Direção de Karim Ainouz.
Roteiro de Karim Ainouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias.
Fotografia de Walter Carvalho.
Com Hermila Guedes, Maria Menezes, João Miguel, Marcélia Cartaxo e Flávio Bauraqui.
Quatro anos após o poderoso “Madame Satã”, Ainouz volta outra vez com garra, lirismo e dimensão social. Concentrando-se em personagens femininas, renova o Nordeste apresentado no cinema brasileiro e realiza o melhor filme nacional de 2006.

“O Cheiro do Ralo” (drama, 112 min).
Direção de Heitor Dhalia.
Roteiro de Marçal Aquino e Heitor Dhalia, baseado em livro de Lourenço Mutarelli.
Fotografia de José Roberto Eliezer.
Com Selton Mello, Paula Braun e Lourenço Mutarelli.
Depois que Rodrigo Santoro resolveu investir numa carreira internacional, talvez repetindo a mesma besteira feita por Sônia Braga nos anos 80 e José Wilker nos 90, Selton Mello desbundou de vez como o nosso ator cinematográfico por excelência. Aqui ele vive Lourenço, o dono de uma loja que compra objetos usados. Aos poucos desenvolve um jogo com seus clientes, sentindo prazer ao explorá-los. Dirigido por Heitor Dhalia, dois anos depois do perturbador "Nina" (2004), que radicaliza ainda mais, num universo bizarro como metáfora perfeita do Mal, da degradação. Provocador, singular e inventivo.

“A Concepção” (drama, 96 min).
Direção de José Eduardo Belmonte.
Roteiro de Luís Carlos Pacca e Breno Alex.
Fotografia de André Luis da Cunha.
Com Matheus Nachtergaele, Milhem Cortaz e Rosanne Holland.
Acatando um movimento chamado Concepcionismo, que consiste na morte ao ego e em seguir o caminho do excesso, três amigos vão na conversa de Matheus Nachtergaele. Assim, a história conduzida por Belmonte devassa o mundo das drogas e da inércia. Mesmo não trazendo novidades e com a falta de jeito em criar soluções de mise-em-scène que fujam do óbvio, surpreende.

“Depois daquele Baile” (comédia romântica, 108 min).
Direção de Roberto Bomtempo.
Roteiro de Susana Schild, baseado em peça teatral de Rogério Falabella.
Fotografia de Nonato Estrela.
Com Irene Ravache, Lima Duarte e Marcos Caruso.
Comédia romântica dirigida pelo ator Roberto Bomtempo com um excelente trio de veteranos: Irene Ravache é uma viúva sensual, que mora em Belo Horizonte, assediada por dois amigos interpretados por Lima Duarte e Marcos Caruso. É um filme popular, capaz de dialogar com um público mais amplo, peça essencial em qualquer cinematografia. Afinal um cinema popular de qualidade é tão necessário quanto as mais radicais experiências autorais.

“Eu me Lembro” (drama, 101 min).
Direção e roteiro de Edgard Navarro.
Fotografia de Hamilton Oliveira.
Com Lucas Valadares, Fernando Neves, Arly Arnaud, Rita Assemany, Nélia Carvalho e Eva Lima.
Guiga, o protagonista, alter ego do diretor baiano, tem o seu amadurecimento ao longo da vida retratado através de diversas experiências. O tom confessional, o humor e a ternura lembram o felliniano “Amarcord” e permitem um certo grau de identificação com o espectador. Comovente e, desde já, uma obra cult.

“Incuráveis” (drama, 82 min).
Direção de Gustavo Acioli.
Roteiro de Gustavo Acioli e Marcelo Pedreira.
Fotografia de Lula Carvalho.
Com Fernando Eiras e Dira Paes.
Não se pode contestar, Dira Paes é a musa do cinema brasileiro contemporâneo. Ela irradia talento, versatilidade e sinceridade dramática. Aqui, como uma moça mundana e solitária, beira o sublime. Seu parceiro, Fernando Eiras, como um boêmio desesperançado, não é menos extraordinário. A construção das personagens são primorosas e realistas, resultando numa intensidade de força incomum.

“Irma Vap – O Retorno” (comédia, min).
Direção de Carla Camurati.
Roteiro de Adriana Falcão, Carla Camuratti e Melanie Dimantas, baseado em peça teatral de Charles Ludlam.
Fotografia de Lauro Escorel.
Com Marco Nanini, Ney Latorraca, Thiago Fragoso e Marcos Caruso.
O grande sucesso de bilheteria de “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” (1995) gerou um equívoco: a crença de que a interessante atriz Carla Camuratti é cineasta. É um engano descabelado. Ao filmar “Irma Vap” ela consegue a proeza de intensificar a sua falta de sensibilidade cinematográfica. O riso, a comédia de erros, as confusões, tudo isso está presente e, esvaziados de qualquer emoção, não provoca nenhum sorriso. O triste é ver Marco Nanini desperdiçar o seu talento.

“O Maior Amor do Mundo” (drama, 108 min).
Direção e roteiro de Carlos Diegues.
Fotografia de Lauro Escorel.
Com José Wilker, Taís Araújo, Sérgio Britto e Léa Garcia.
O suposto realismo de Cacá Diegues só deu certo em “Bye Bye Brasil” (1979), talvez a sua única obra que mereça ficar na história do cinema. Teimoso e sentimental, ele repete fórmulas cansativas, sempre deixando uma sensação de amadorismo, de boas idéias desperdiçadas. Óbvio e cansativo, seu novo filme não empolga. Até mesmo José Wilker não está nos seus melhores dias. Parece José Wilker interpretando José Wilker.

“A Máquina” (comédia, 90 min).
Direção de João Falcão.
Roteiro de Adriana e João Falcão.
Fotografia de Walter Carvalho.
Com Paulo Autran, Gustavo Falcão, Mariana Ximenes, Vladimir Brichta e Oswaldo Mil.
A construção das imagens é completamente pop-regional e fake. Entre a fábula e a interferência da linguagem de televisão, as boas intenções de João Falcão apenas resultam num produto belo visualmente (graças ao talento de Walter Carvalho) e descartável, como um especial da Rede Globo. Um dos maiores enganos é a escolha de Gustavo Falcão para o papel central. Sem carisma, ele parece invisível. Muito diferente do divertido Seu Neco, de Osvaldo Mil.

“Se Eu Fosse Você” (comédia, 104 min).
Direção de Daniel Filho.
Roteiro de Adriana Falcão, Daniel Filho, Renê Belmonte e Carlos Gregório.
Fotografia de José Roberto Eliezer.
Com Glória Pires, Tony Ramos, Glória Menezes, Thiago Lacerda e Patrícia Pillar.
O problema todo diante do filme é que nem podemos acusá-lo de enganação, pois não é cinema, é televisão. Amador, caça-níquel, tem momentos divertidos, embora caricatos. Os atores não funcionam na tela grande e Daniel Filho ainda não aprendeu a fazer cinema, mesmo tendo chegado pertinho com “A Dona da História” (2006).

“Sonhos e Desejos” (drama, 93 min).
Direção de Marcelo Santiago.
Roteiro de Marcelo Santiago, Carolina Monteiro de Barros e Flávia Orlando, baseado no livro de Álvaro Caldas.
Foto de Dudu Miranda.
Com Felipe Camargo, Sérgio Marone e Mel Lisboa.
Ambientado na ditadura militar, como tantos outros filmes (quase sempre com realização pífia), o primeiro longa de Marcelo Santiago discute a sexualidade e a utopia de uma geração, mas não apresenta nada de novo. Os atores e a direção pouco ajudam e os clichês roubam a cena.

“Tapete Vermelho” (comédia, 100 min).
Direção de Luiz Alberto Pereira.
Roteiro de Alberto Pereira e Rosa Nepomuceno.
Fotografia de Uli Burtin.
Com Matheus Nachtergaele, Vinícius Miranda, Gorete Milagres, Rosi Campos, Aílton Graça, Paulo Betti e Cássia Kiss.
O maior mérito está na homenagem a Mazzaropi, um comediante popular, realista e realmente divertido. No entanto, além disso, parece fadado a ser mais um veículo para o estrelato de Matheus Nachtergaele, um ator primoroso, mas nenhum filme funciona somente com tal tática hollywoodiana. Pautado por elementos fantasiosos, limita-se a uma comédia despretensiosa.

“Veias e Vinhos – Uma História Brasileira” (drama, 100 min).
Direção e roteiro de João Batista de Andrade, baseado em livro de Miguel Jorge.
Fotografia de Hugo Kovensky.
Com Leonardo Vieira, Simone Spoladore, Aílton Graça, Eva Wilma e José Dumont.
Desde que vi Simone Spoladore em “Desmundo” (200X), eu jamais a esqueci. “Taí uma atriz com veia cinematográfica”, pensei. E não me enganei. Ela está de volta no pouco visto e pouco falado novo filme de João Batista de Andrade, honesto e comprometido como todas as obras anteriores do cineasta. Um dos méritos de João Batista está em desvendar a realidade brasileira. Desta vez, tendo como pano de fundo a construção e o crescimento de Brasília, narra a saga de uma família que luta por dias melhores. Cheio de simbolismos a respeito de liberdade e cenas de real tensão, sabe ser delicado ao tratar de temas politizados ainda espinhosos na história contemporânea do Brasil.

“Vestido de Noiva” (drama, 111 min).
Direção de Joffre Rodrigues.
Roteiro de Joffre Rodrigues, baseado em peça teatral de Nélson Rodrigues.
Fotografia de Nonato Estrela.
Com Marília Pera, Simone Spoladore, Letícia Sabatela, Marcos Winter e Bete Mendes.
A peça de Nelson Rodrigues marcou o teatro brasileiro por sua modernidade. Sessenta anos depois chega às telas com certa fixação negativa de peso histórico. Joffre Rodrigues, filho do autor, não conseguiu solucionar a armadura teatral que não funciona no cinema. Muito pelo contrário, o longa carrega na teatralidade. O bom elenco parece perdido, focado em magistrais interpretações solo que seria muito bem vindas se fossem no palco.

“Zuzu Angel” (drama biográfico, 103 min).
Direção de Sérgio Rezende.
Roteiro de Marcos Bernstein e Sérgio Rezende.
Fotografia de Pedro Farkas.
Com Patrícia Pillar, Daniel de Oliveira, Luana Piovani e Leandra Leal.
A velha fórmula da figura que se aproxima da realidade política motivada por uma circunstância pessoal retorna na emblemática estilista Zuzu Angel. Mesmo assim, e sem deixar de nos privar das imagens de tortura, a impressão que fica é a de uma realização arrumadinha, artificial e impessoal. Como todos os filmes de Sérgio Rezende.

 
(*) Jornalista e escritor. Autor de “Se um Viajante numa Espanha de Lorca” (Pé de Página, 2005, Portugal) e “Suave é o Coração Enamorado” (Via Litterarum, 2006)
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