CLASSE A
Curta-metragem

Roteiro de
Denise Camillo Duarte e Cunha de Leiradella
(Adaptação do conto “Classe A”, de Cunha de Leiradella)

INDEX
Personagens - Figuração
Perfil dos personagens - Protagonistas
"CLASSE A"

"Classe A"

FADE IN:

01. EXT. RUA 1 - NOITE

Música instrumental ao fundo. Vista panorâmica de uma rua de bairro suburbano. Árvores, casas e edifícios pequenos já um tanto decadentes e alguns carros estacionados junto do meio-fio. PESSOAS caminham nas calçadas, algumas entram nas casas e nos edifícios, enquanto um CARRO DE LUXO entra na rua, devagar, passa e dobra uma esquina, entrando numa rua lateral.

02. EXT. RUA 2 - NOITE

Rua com o meio-fio lotado de carros. O carro dobra a esquina e entra na rua. Devagar. Duas pessoas andam pelas calçadas. Uma com pressa e a outra lentamente, como se passeasse. O carro pára durante alguns instantes e reinicia a marcha ainda mais devagar.

03. INT. CARRO – NOITE

close da mão DIREITA de daniela apagando um cigarro no cinzeiro do carro, já com meia dúzia de pontas de cigarros apagadas.

volta à cena

EDUARDO, segurando o volante com as duas mãos, olha com atenção ora a calçada do lado direito, ora a calçada do lado esquerdo, como se estivesse procurando alguma coisa. Daniela olha a rua através do pára-brisas, indiferente.

EDUARDO

Deve ser por aqui. Eu só vim aqui uma vez, com Valdo, já faz tempo, mas você sabe como é a minha memória. Não falha nunca.

Eduardo fala sem olhar para Daniela, absolutamente convencido da importância do que diz. Por sua vez, Daniela parece nem escutar ou sequer aperceber-se da presença de Eduardo. São dois mundos estanques. Não compartilhados. De repente, Eduardo pára o carro e aponta um letreiro luminoso alguns metros à frente.

EDUARDO

Eu não falei? Olhe lá. Viu? Cepa Velha.

Sorri, dá uma palmada no volante e acena com a cabeça, satisfeito.

EDUARDO

Eu sabia. Eu nunca esqueço um lugar. E olhe que só vim aqui uma vez.

Recosta-se no assento, realizado.

EDUARDO

A minha memória não falha nunca.

Daniela continua imóvel e calada, e Eduardo olha os carros estacionados ao longo do meio-fio, sem uma única vaga onde ele possa estacionar o carro.

EDUARDO

Mas o que me dana é isto. Tudo lotado.

Eduardo engrena o carro e sai devagar, procurando uma vaga para estacionar. Daniela continua calada, imóvel e indiferente, olhando a rua através do pára-brisas. Alguns metros depois, Eduardo pára o carro e olha a fila junto do meio-fio.

EDUARDO

Sabe o que é que eu faria se fosse prefeito?

close da mão de daniela junto do rosto, acendendo um cigarro.

volta à cena

EDUARDO

Mandava rebocar todo mundo.

Eduardo faz um gesto largo, apontando a fila dos carros.

EDUARDO

Isto, só num paísinho de merda que nem este.

Eduardo ajeita-se no assento e respira fundo, mostrando a Daniela que ele está certo. Ele está sempre certo. Afinal, a culpa de não haver uma única vaga não é dele. Daniela continua fumando e olhando a rua através do pára-brisas, indiferente.

EDUARDO

Mas você vai gostar, você vai ver. Valdo diz que é um ótimo restaurante. Típico, mas um dos melhores de Belo Horizonte.

pov de eduardo

Eduardo vê um CASAL parado junto à entrada do restaurante. O GARÇOM que está na porta aproxima-se do casal.

volta à cena

EDUARDO (num misto de incrudelidade e espanto)

Será que precisava reservar mesa?

close do rosto de daniela com a cabeça recostada no assento, soprando, devagar, o fumo do cigarro para o teto do carro.

volta à cena

CORTA PARA:
Casal entrando no restaurante.

CORTA PARA:

Eduardo engrenando a marcha do carro.

EDUARDO

O melhor é você entrar. Mas escolhe uma boa mesa, viu? Se for preciso, fala com o maitre. Diz que Valdo me indi...

Daniela sai do carro sem deixar Eduardo terminar a frase.

CORTA PARA:

Daniela joga o cigarro no chão e entra no restaurante, sem ligar para o garçom que se aproxima ao vê-la chegar à porta.

04. INT. RESTAURANTE - NOITE

Percebe-se que é um restaurante português. Decoração típica dos restaurantes deste gênero. Garrafas nas prateleiras das paredes, uma imagem de Santo Antônio ao fundo, iluminada por uma lamparina, litografias de paisagens européias com montanhas nevadas e o dono, com um pano passado pelo ombro, tomando conta d a caixa. A freqüência contrasta com o ambiente: executivos bem sucedidos, para quem uma viagem ao subúrbio já é uma aventura digna de registro. Como é época de Natal, alguns enfeites natalinos ornamentam as paredes e o teto. Poucas mesas estão vagas. Daniela senta-se na primeira que vê. Acende um cigarro e puxa algumas tragadas. Um garçom aproxima-se. Daniela afasta-o com um gesto.

CORTA PARA:

Porta da entrada. Eduardo entra, senhor de si. Câmera segue-o. Eduardo senta-se.

EDUARDO

Eu não falei? Dez pratas e todo mundo corre atrás. Ô paísinho mais corrupto.

Daniela puxa uma tragada profunda e observa o fumo subir no ar. Eduardo aponta a mesa.

EDUARDO

Boa mesa. Precisou falar com o maitre?

Daniela não responde nem olha Eduardo. Eduardo aponta um garçom que passa junto da mesa, carregando uma bandeja cheia de pratos.

EDUARDO

Já pediu?

Daniela tem um ligeiro encolher de ombros e não responde.

EDUARDO

Podia ter pedido.

Daniela puxa uma tragada e Eduardo faz sinal ao GARÇOM mais próximo. O garçom aproxima-se e coloca dois cardápios em cima da mesa. Daniela continua fumando. Eduardo olha Daniela.

EDUARDO

Valdo diz que o peixe daqui é ótimo.

Daniela não responde e Eduardo acena ao garçom.

EDUARDO

Como está o camarão? Vim aqui recomendado por um cliente antigo de vocês, o Dr. Valdo Figueiredo.

O garçom sorri e acena com a cabeça.

GARÇOM

Conheço muito o Dr. Valdo.

EDUARDO

E as lagostas?

GARÇOM

Todas as nossas lagostas são importadas, doutor.

EDUARDO

Então traz uma. Mas, vê lá, das boas.

GARÇOM

Termidor ou suada?

Nota-se que Eduardo não sabe a diferença entre lagosta à termidor e lagosta suada .

EDUARDO

Termidor.

Pelo tom de voz de Eduardo, percebe-se que a escolha foi feita apenas pelo nome. A palavra termidor soa mais chique. Daniela tem um ligeiro sorriso de sarcasmo ao olhar rapidamente Eduardo e, depois, faz um gesto ao garçom.

DANIELA

Eu quero bife com batatas fritas.

Eduardo olha Daniela, surpreso e contrariado.

EDUARDO

Mas eu pedi...

Daniela esmaga o cigarro no cinzeiro e continua falando com o garçom.

DANIELA

Bem malpassado, por favor.

O garçom pega os cardápios e dirige-se a Eduardo.

GARÇOM

Bebida?

EDUARDO

O Dr. Valdo diz que vocês têm uns vinhos portugueses muito bons. Um Mateus…

GARÇOM (cortando)

Mateus só temos rosé, doutor.

Eduardo volta-se para Daniela.

EDUARDO

Valdo diz que é ótimo.

O garçom anota os pedidos e afasta-se. Eduardo ajeita-se na cadeira, satisfeito.

pov de eduardo olhando o salão.

volta à cena

EDUARDO

Até que Valdo tinha razão. Ficou ótimo. Só falta é música

Daniela acende um cigarro e puxa uma tragada profunda. Depois, fala, mas sem olhar para Eduardo. Nota-se uma ligeira ironia na voz de Daniela . Eduardo não percebe a ironia.

DANIELA

Que filme vamos ver hoje?

EDUARDO

Vamos ver um que está passando, no Via Norte . Mas por que é que você está perguntando?

Daniela ri com uma ironia que Eduardo também não percebe.

DANIELA

Sempre que jantamos fora a gente não vai ao cinema?

EDUARDO

Valdo diz que o filme é ótimo. É sobre um homem que vive num aeroporto…

DANIELA

E não tem como sair de lá.

Eduardo olha Daniela com surpresa.

EDUARDO

Como é que você sabe? Você já viu?

DANIELA

Não. Mas leio jornais.

Eduardo acena com a cabeça, tranqüilizado com a explicação de Daniela.

EDUARDO

Valdo diz que a fotografia é ótima. Você vai gostar, você vai ver.

Eduardo recosta-se na cadeira e observa novamente o restaurante. Câmera não segue o olhar de Eduardo. Daniela permanece imóvel. Os seus únicos movimentos são levar o cigarro à boca e soltar o fumo devagar. De repente, Daniela fala, mas sem a menor carga emotiva. Como se estivesse apenas a fazer um comentário sobre o tempo.

DANIELA

Berta vai deixar o Valdo.

Eduardo volta-se para Daniela, num gesto brusco, e olha para ela espantado.

EDUARDO

Berta vai o quê?

DANIELA

Vai deixar o Valdo.

EDUARDO

Berta vai deixar Valdo? E como é que Berta vai…

DANIELA (cortando)

Ora, como é que se deixa? Indo embora.

EDUARDO

Mas isso é um absurdo. Berta não pode deixar Valdo assim de repente.

DANIELA

Ela diz que Valdo também acha.

EDUARDO

Mas é claro que Valdo tem de achar. Casamento é casamento. Uma coisa muito séria.

Daniela não responde, mas olha Eduardo e sorri. Este olhar e este sorriso de Daniela devem mostrar, embora Eduardo não perceba, o que ela pensa do que ele acaba de dizer.

pov de Daniela

Daniela observa Eduardo através do fumo do cigarro.

volta à cena

Eduardo, consciente de que acaba de dizer uma verdade bíblica, olha a parede à sua frente durante alguns instantes. O tempo suficiente para que, no seu próprio entender, Daniela perceba o peso da verdade que foi dita. Depois, olha Daniela.

EDUARDO

Mas como é que você soube? Ainda ontem Valdo esteve lá no banco e não me falou nada. Falou, sim, que ia dar um carro novo para a Berta, como presente de Natal.

Daniela puxa uma tragada profunda, deixa sair o fumo pelo nariz e pela boca, e bate a cinza do cigarro no cinzeiro.

DANIELA

Berta só falou com ele hoje.

EDUARDO (com espanto)

Mas ela soube do presente?

Daniela fala com ironia. Mas Eduardo, como sempre, não percebe.

DANIELA

Claro que soube. Foi a primeira coisa que Valdo disse pra ela.

Eduardo faz uma pausa, como se lhe fosse impossível entender o que tinha escutado.

EDUARDO

Valdo disse a Berta que ia lhe dar um carro de presente e, mesmo assim, ela quer…

Eduardo cala-se, como que espantado pelo absurdo que ele próprio ia dizer . Daniela puxa uma tragada e sopra o fumo com força. Depois olha Eduardo e sorri, irônica . Eduardo não entende a ironia do sorriso. Apenas olha Daniela e continua a fala no momento em que Daniela sopra o fumo do cigarro.

EDUARDO

Mesmo perdendo um Mercedes Classe A Berta vai deixar Valdo?

Daniela não responde, nem Eduardo espera que ela responda. Eduardo faz uma pausa, passa o guardanapo no rosto e, depois, chama a atenção de Daniela com um gesto.

EDUARDO

Berta não pode deixar Valdo. Você conhece Valdo. Valdo vai ficar abaladíssimo.

Daniela tem um ligeiro encolher de ombros e abre mais o sorriso. Eduardo cala-se, abre a boca e tapa-a com a mão, como se, de repente se lembrasse de uma coisa na qual não podia acreditar. Olha Daniela durante alguns instantes e tira a mão da boca.

EDUARDO

Será que Berta está fazendo isso só porque Valdo...

FLASHBACK

05. INT. SHOPPING CENTER VIA NORTE - DIA

Ala de vestuário do Shopping Center Via Norte. Ambiente de luxo. Vitrines de butiques finas, femininas e masculinas. Pessoas passeando, entrando e saindo das lojas. Daniela e BERTA caminham devagar, olhando o ambiente e as vitrines . Berta é uma mulher que chama a atenção. Mas não só pela beleza e pela distinção da roupa. Berta é uma mulher com presença.

DANIELA

Você não vai escolher o seu presente de Natal, não? Já, já, tamos em dezembro.

Berta sorri e abana a cabeça.

BERTA

O presente que eu quero não tá aqui.

DANIELA

Como é que você sabe? Aqui tem coisas chiquérrimas.

Daniela faz um gesto largo e aponta as vitrines de diversas lojas.

DANIELA

Olha só. Não vai me dizer que em nenhuma destas…

Berta encolhe os ombros e sorri.

BERTA

Hum, já que lanchamos, não custa nada. Quem sabe dar uma olhada nas novidades não será uma boa sobremesa?

Berta aproxima-se da vitrine de uma butique de lingerie de luxo. Daniela segue-a, mas pára de repente, boquiaberta, assombrada com o que vê dentro da loja. Olha Berta, que apenas sorri ao ver Valdo e Lizete, a secretária, escolhendo calcinhas e sutiãs. Berta afasta-se da vitrine calmamente. Daniela, que ainda não se tinha recomposto, ao sentir que Berta já estava a alguns metros de distância, corre atrás dela.

DANIELA

Você viu?

Berta pára.

BERTA

Vi o quê?

DANIELA

Não viu o seu marido…

BERTA

Daniela, eu vi a secretária do meu marido comprando lingerie. Foi o que eu vi. E o que posso dizer é que ela tem muitíssimo bom gosto.

VOLTA À CENA 04

close no rosto de eduardo

EDUARDO

Mas não é possível que Berta não entenda. Lizete, para Valdo, é apenas uma distração, todo mundo sabe disso. Valdo jamais faria fosse o que fosse que pudesse prejudicar Berta e as crianças. Não viu o presente do carro? Aquela menina, para Valdo, é uma simples distração, todo mundo sabe disso.

Daniela ri com sarcasmo, sabendo que Eduardo não perceberá. Eduardo nunca percebe os sarcasmos de Daniela.

DANIELA

Berta também sabe.

EDUARDO

Então! Se Berta sabe…

DANIELA

Sabe, mas já decidiu.

EDUARDO

Como já decidiu? E a carreira de Valdo? Você sabe que ele foi promovido agora e o menor escândalo…

Eduardo faz uma pausa e olha Daniela. Daniela olha o cigarro e bate a cinza no cinzeiro.

EDUARDO

Será que Berta está fazendo isso só para obrigar Valdo a voltar para o Rio? Que ela nunca gostou de Belo Horizonte, isso todo mundo sabe.

Daniela olha Eduardo fixamente por um instante e começa a falar no momento em que Eduardo diz a palavra Horizonte.

DANIELA

Berta quer voltar pro Rio, mas sozinha, com as crianças.

EDUARDO

E o que é que Berta vai fazer no Rio sozinha?

DANIELA

Diz que vai viver a vida dela.

EDUARDO

E perder tudo que tem aqui? Você sabe quanto custa um Mercedes Classe A com todos os acessórios, ar-condicionado, direção hidráulica, tudo?

Daniela olha o cinzeiro e começa a apagar o cigarro no momento em que Eduardo diz a palavra Mercedes. Depois, olha Eduardo. Mas como se ele não existisse ou estivesse olhando a parede através dele.

EDUARDO

Uma fortuna. E, depois, não é só isso. Se Berta for para o Rio, Valdo vai ter que cancelar o empréstimo.

Eduardo inclina-se sobre a mesa, olhando Daniela. Co mo se, com esse gesto, quisesse fazer com que Daniela entendesse melhor a gravidade do assunto.

EDUARDO

Vai dar o presente para quem? Não se dão carros a secretárias.

Daniela olha Eduardo por um instante. Depois acende outro cigarro e puxa uma tragada profunda. Eduardo recosta-se na cadeira e continua olhando pra Daniela.

EDUARDO

Será que Berta está doente?

Daniela puxa outra tragada profunda e deixa sair o fumo pelo nariz e pela boca, sem responder.

EDUARDO

Para fazer o que ela quer fazer, só pode estar doente. Ninguém recusa um Mercedes Classe A e sai de casa com dois filhos. Ninguém.

Eduardo cala-se e recosta-se na cadeira. Daniela olha o cigarro por um instante, como se fosse puxar nova tragada, mas desiste e esmaga-o no cinzeiro. Depois, olha Eduardo fixamente.

DANIELA

Quê que você faria se eu fosse Berta?

Eduardo olha Daniela com um espanto misto de assombro e incredulidade.

EDUARDO

Se você o quê?

Daniela continua olhando para Eduardo e responde calmamente. Não é um teste. Ela conhece Eduardo. Mas é como que um jogo. Daniela, de repente, sente vontade de ver até onde Eduardo suporta uma pergunta frontal.

DANIELA

Se eu fosse Berta.

Eduardo recosta-se na cadeira, abana a cabeça e olha Daniela.

EDUARDO

Não faria nada.

O espanto de Daniela é total e estampa-se no seu rosto.

EDUARDO

O que é que eu poderia fazer? Você não é uma mulher igual a Berta.

O espanto de Daniela continua estampado no rosto. De repente, parece que ela vai dizer alguma coisa, mas continua calada. Eduardo continua a fala no momento em que parece que Daniela vai dizer alguma coisa.

EDUARDO

Você acha que eu me casaria com uma mulher igual a Berta? Eu jamais me casaria com uma mulher igual a Berta.

Eduardo cala-se, satisfeito com a conclusão, para ele lógica e óbvia, do seu raciocínio. Daniela acende um cigarro e puxa duas tragadas profundas e seguidas. Sopra o fumo com força, coloca o cigarro no cinzeiro e cruza as mãos debaixo do queixo. Faz uma pausa e olha a toalha da mesa.

DANIELA

É. Você tá certo. Eu não sou igual a Berta, realmente.

close do rosto de eduardo sorrindo, satisfeito .

volta à cena

EDUARDO

Claro que você não é igual a Berta. Me diga. Você recusaria um Mercedes Classe A?

Daniela não responde. Eduardo recosta-se na cadeira e mete os polegares nos bolsos do colete, sem desviar os olhos de Daniela.

EDUARDO

Recusaria?

Daniela não responde. Esmaga o cigarro no cinzeiro num gesto brusco e acende outro. Eduardo não dá a menor atenção aos gestos de Daniela. O silêncio de Daniela, para ele, é a melhor resposta à lógica do seu raciocínio. Satisfeito com o que ele pensa ser a resposta muda de Daniela, debruça-se sobre a mesa e toma uma atitude cúmplice. Mas com uma sutileza de elefante.

EDUARDO

Sabe o que é que a gente está precisando? Numa noite como esta e depois de uma notícia dessas? Hem?

Eduardo não espera Daniela reagir ou responder. Faz sinal ao garçom mais próximo. O garçom aproxima-se. Daniela puxa uma tragada.

pov de daniela

Através do fumo do cigarro, Daniela vê e ouve Eduardo falando com o garçom.

volta à cena

EDUARDO

Diz para cancelar o meu vinho e me traz uma garrafa de champanhe. Mas do melhor. O Dr. Valdo diz que vocês têm um argentino muito bom.

close da mão de daniela

apagando o cigarro no cinzeiro cheio de pontas apagadas.

volta à cena

Eduardo olha satisfeito para o teto e em seguida para o restaurante ao seu redor.

pov de eduardo

olhando o restaurante.

volta à cena.

CORTA PARA:

Daniela olhando fixamente para um ponto distante, vencida. Câmera afasta-se lentamente da mesa do casal em travelling para se aproximar e fixar na garrafa de champanhe que o garçom traz num balde de gelo.

FADE OUT

ENTRAM OS LETREIROS E OS CRÉDITOS DA FICHA TÉCNICA.

 
 
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