JARDIM DE MONTE PALACE
Fundação José Berardo

Apresentação: um jardim de naturarte
Maria Estela Guedes

Prefácio
José Manuel Rodrigues Berardo

O exotismo das plantas
Marta Carvalho

Álbum de fotografias

 

Apresentação:
Um jardim de naturarte
Maria Estela Guedes

 

 

 

O trabalho que agora se edita no TriploV baseia-se na obra "Monte Palace - Um jardim tropical", Fundação José Berardo, 1999, da qual extraímos, com autorização gentilmente concedida pela secretaria do conhecido coleccionador de arte nascido na Madeira, José Berardo, o prefácio do coleccionador, um texto de cariz botânico e imagens que espero ilustrem os principais capítulos do livro.

Assim, da história romântica do edifício, que funcionou como hotel, reproduzimos um postal ilustrado que mostra um dos tão característicos meios de transporte usados na ilha da Madeira, de tracção humana; era naqueles cestos que os turistas subiam o monte até serem deixados à entrada do hotel.

José Berardo desejou um jardim tropical na sua ilha macaronésia, sem excluir as plantas indígenas. Entre as exóticas, têm especial interesse botânico as cicas, oriundas da África do Sul. Seleccionámos também uma imagem da laurissilva, enlace de plantas naturalizadas há muitos milénios.

Entre hidrângeas e esplêndidas estrelícias, José Berardo mandou plantar uma colecção de azulejos com função narrativa e didáctica, pois ensinam História desde o século XVII, fragmentos arquitectónicos de épocas diversas, como uma janela manuelina que nos traz à ideia as "puertas al campo" de Octavio Paz, e uma colecção de esculturas oriundas igualmente de períodos diversos. Ou seja, fez-se uma mistura de natural e arte e de várias dimensões de ambos, o que resulta num espelho da Macaronésia em geral, e da Madeira em particular. Tudo no entanto é tão harmónico que é difícil dizer onde acaba a arte e começa a planta. Justamente, alguns dos elementos da flora e da fauna exibidos neste jardim fantástico são híbridos, caso dos peixes Koi, ou peixes vermelhos dos nossos lagos, que na origem eram carpas negras. Os piscicultores chineses obtiveram inúmeras raças de diversas cores e tamanhos do cruzamento de Cyprinus carpio com outras espécies. É grato para nós verificar que na Fundação Berardo se estimam os híbridos, nenhuma distinção tendo nós verificado entre eles e a potencialmente indígena flora, quanto ao interesse que ambas as categorias de seres vivos - naturais e artificiais - têm para o homem.

O orientalismo do jardim não se queda nos peixes dourados, ver-se-á, na imagem que seleccionámos do livro, um recanto oriental, no qual foi erigido um gracioso templo budista.

A fusão de genes de diversas espécies deve ter no orquidário uma das suas máximas expressões, mas encantou-nos sobretudo o carácter de museu a céu aberto que há no jardim do Monte Palace, devido à hibridação íntima entre a natureza e a arte.

Enfim, da obra de José Berardo ficámos com as declarações bem tranquilizadoras que faz no prefácio, e com a sua caracterização do jardim, a representar um dos veios semânticos do nosso projecto Naturarte/Jardins: o entendimento e sensação de que o jardim é o sonho, isto é, para descrevermos aquilo que maior felicidade nos transmite, recorremos à imagem do jardim. O jardim revela-se então, como neste caso, um espelho de alma, quando o dinheiro não nos falta para criarmos o cenário do nosso sonho. O sonho de José Berardo é crioulo, tropical, um sonho em que distintos sangues e distintas seivas se cruzam para maior pujança e resistência dos reinos vegetal e animal. Só nos resta aceitar o seu convite para partilharmos o sonho com o sonhador, de modo a fruirmos o jardim ao vivo.

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de Ciência, Tecnologia e Sociedade da
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