MARIA ESTELA GUEDES
(CICTSUL, ISTA)
S. Frei Gil, um santo carbonário
 
3. Literatura egidiana

Frei Gil, ou Santo Egídio, tem gerado uma quantidade enorme de textos sobre ele na Península Ibérica. Romances, poesia, teatro, hagiografias, artigos científicos de antropologia, arqueologia, um sem número de trabalhos dos autores mais importantes - Frei Luís de Sousa, André de Resende, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, António Correia de Oliveira -, e que convoca as principais três ciências que dominava Frei Gil: Medicina, Magia e Teologia.

A Frei Gil são atribuídas muitas obras, além dos fragmentos das Vitae Fratrum. Por exemplo, seria autor de um "Livro de Naturas", com receitas e nomes de plantas medicinais.

Corre um texto pequeno, em prosa, no teor idêntico às Trovas do Bandarra, que justifica a temática sebastianista de alguns ensaios sobre ele. Este texto sebastianista diz-se que é de sua autoria. Também o consideram trovador, e tradutor de Razi, um alquimista e médico árabe, que terá sido o seu primeiro mestre. Mas nada disto, a ser verdadeiro, iguala a riqueza de trabalhos que se têm escrito sobre ele.

Repare-se que a Academia das Ciências publica um texto intitulado: "São Frei Gil e a Academia das Ciências". António Pereira Forjaz, o autor, refere-se à literatura sobre Frei Gil assinada por membros da Academia. Vejamos o rol dos académicos interessados em assunto que se diria o mais possível afastado das suas tradições de livre e maçónico pensamento: Eça de Queirós, Almeida Garrett, José Maria Rodrigues, Joaquim de Carvalho, Braamcamp Freire, António de Vasconcelos, António Sardinha, Teófilo Braga, Júlio Dantas, e "tantos mais", escreve o académico. Porque é que na Academia das Ciências há tanto interesse pelo taumaturgo? Porque é que, afinal, todos nos interessamos por ele, e não apenas os dominicanos? Será por causa de temas como o do Fausto português? Ou por este Fausto ser uma obra colectiva dos esoteristas portugueses?

A literatura egidiana é uma floresta que convém explorar. À semelhança de Santo Alberto Magno, de Ramón Llul e de tantos outros, cujas obras de alquimia não parecem ter sido obra deles, a autoria de um incerto S. Frei Gil há-de ter servido para desviar as suspeitas dos inquisidores do verdadeiro autor das obras que lhe são imputadas.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>As três ciências